Bilal Hassani, cantor francês de 23 anos, cancelou um concerto agendado para quarta-feira, 5 de abril, na sequência de ter sido alvo de ameaças. De acordo com a TF1, foi aberta uma investigação contra desconhecidos depois do cancelamento do espetáculo, que ia acontecer na antiga basílica de Saint-Pierre-aux-Nonnains. O edifício já não é local de culto religioso desde o século XVI.
Em comunicado, o Ministério Público adiantou que foi aberta uma investigação por "ameaça ou ofensa a pessoas por causa da sua orientação sexual, incitamento ao ódio ou violência contra pessoa por causa da sua orientação sexual e provocação direta e pública não seguida por intenção de cometer um crime ou delito", especificou Thomas Bernard, assistente do procurador do Ministério Público, citado pela TF1.
Nos dias que antecederam o concerto, um grupo ligado à extrema direita, intitulado Aurora Lorraine, publicava imagens nas redes sociais, onde se podia ler "Hassani, não és bem vindo aqui". No blogue do grupo, entretanto desativado, era convocada uma vigília para "expiação dos pecados" daquele que consideram um artista cujas "performances não são mais do que pornografia", cita o "Le Parisien". Um representante do grupo, que se define como "juventude enraizada no coração de uma luta civilizacional, cultural e social", alertava para a "profanação" que o concerto de Bilal constituiria.
Já o movimento católico conservador Civitas, cujo líder é próximo de Jean-Marie Le Pen, o pai da extrema direita francesa, celebrou o cancelamento do concerto. Num post no Twitter, a organização diz que é "mais uma vitória". "O travesti marroquino Bilal Hassani cancela o seu concerto na igreja Saint-Pierre-aux-Nonnains em Metz, sob pressão dos grupos católicos como a Civitas. É prova de que a mobilização dos católicos compensa". O Civitas define-se como "um movimento político inspirado pela doutrina social da Igreja, o direito natural e os valores patrióticos, morais e civilizacionais".
As associações STOP Homophobia e Mousse já apresentaram queixas-crime contra o movimento CIVITAS.
Esta quinta-feira, em entrevista ao programa "C à Vous", da France 5, Bilal Hassani disse sentir-se um "bocado desencorajado" com os ataques de que foi alvo. "Há quatro anos que sou figura pública e sei os riscos que corro quando proponho o que faço. Mas sou um ser humano. Tenho 23 anos, comecei quando tinha 19. Já carrego muito às costas. Amo dançar, amo cantar e sei que o que faço faz bem às pessoas. Apesar de esta erupção, eu sei que isto vai calmar e vou poder reencontrar o meu público e vai ser mágico. é uma pena porque estávamos a começar uma tournée, tínhamos o concerto esgotado", conta Bilal Hassani.
O jovem artista lamenta que "não se avança". "Às vezes parece que há coisas bonitas a acontecerem, vejo as cores, vejo a paz e, de um golpe só, regredimos desta maneira e é uma pena". Bilal Hassani tornou-se conhecido pela participação no Festival Eurovisão da Canção 2019, com o tema "Roi". É uma estrela em França, conhecido pela luta dos direitos da comunidade LGBTQI+. Nascido em França, em Orsay, é filho de mãe marroquina e pai singapurense.