"Fiquei muito feliz quando soube que vinhas e já estou a preparar a melhor experiência da tua vida".

Quem me diz isto não é o meu namorado, mãe ou amigo de longa data que decidiu oferecer-me uma noite fora de casa. E na verdade, ainda que esta mensagem, que me chega ao email assim que confirmo a estadia no hotel, venha assinada por Lady Maxime, até agora, e já em casa, não consigo saber quem é a pessoa por detrás da assinatura.

Mas ela está em todo o lado. Na assinatura do email, do cartão de boas vindas e até na parede do elevador que nos leva do rés do chão ao segundo andar do Hotel Maxime, ainda a estrear na Praça da Alegria, em Lisboa.

Sabem a sensação de entrar numa daquelas atrações de Feira Popular em que sabemos que a cada porta que abrimos há uma surpresa e dás passos cautelosos porque a qualquer momento pode aparecer alguém a assustar-te? É assim no novo Maxime, um hotel feito em tons escuros, cores a lembrar o burlesco e personagens que, sem nunca aparecerem, tu sabes que estão lá.

Uma história que explica o lugar

Já de cartão na mão e com o número 205 na cabeça, saímos do tal elevador e percebemos a frase do elevador assinada pela tal lady. "Take to another level", diz ela. "Bondage", diz a porta do nosso quarto.

Quase que involuntariamente, o braço recua e, mesmo que sem nunca ter visto as "Cinquenta Sombras de Grey", assumo o lugar de Anastacia à esperar do pior dos cenários do lado de lá da porta de madeira. Mas não. É estranho ter algemas emolduradas na parede ou um chicote a servir de gift de boas vindas, é um facto. Mas aquilo que rapidamente poderia roçar o brega, aqui é feito com bom gosto.

O hotel veio ocupar o espaço que, durante décadas, foi de jogo, mulheres em palco, drogas, jazz, burlesco e alta sociedade. E um legado destes não pode, nem deve, ser esquecido. E aqui, não só foi preservado, como está nos pequenos detalhes.

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Calhou-nos o piso com a temática 'Bondage', mas podíamos ter ficado num dos 75 quartos espalhados por cinco pisos, todos eles a defender a sua identidade.

Comecemos pelo topo, neste caso pelo piso com a temática 'Stage' e talvez o mais impressionante. A cama é redonda, com luzes à volta, está uma cartola em cima da mesa e plumas penduradas num charriot. Um andar abaixo está o 'Bar', um quarto mais masculino, pela decoração mais industrial, com paredes de pedra, bebidas nas prateleiras e mesas preparadas para o jogo.

O piso três é o 'Dressing Room' e a sensação é que viemos espreitar o camarim das bailarinas enquanto estão a atuar. No quarto temático há roupa, acessórios e até cartas de fãs estrategicamente espalhadas, entre uma cómoda semi aberta e um toucador a dar a luz certa para acertar a maquilhagem.

Saltamos o já nosso conhecido 'Bondage', para o piso mais térreo, o 'Burlesco', tema justificado pelas cores mais fortes, as plumas e os espartilhos nas paredes e o neon com a palavra 'Amour'.

"Não dava como ignorar a história deste lugar na hora de o transformar em hotel", explica Ângelo Sena, do Grupo Hotéis Real, que devolveu à cidade um espaço que não merecia estar fechado. É que, por cá, já passaram nomes como Bryan Adams e Michael Imperioli, o ator de "Os Sopranos" à frente do grupo La Dolce Vita. Foi aqui que se estrearam em Portugal os Beach House e, de nomes portugueses, constam António Calvário, Herman José, Lena D'Água, Simone de Oliveira, José Cid e os incontornáveis Ena Pá 2000 e Irmãos Catita, ambos liderados pro Manuel João Vieira, um dos últimos proprietários do espaço.

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E quando dizemos que toda esta história não foi ignorada, é que não foi mesmo, nem mesmo nas casas de banho. Em cada urinol da parte masculina há um pequeno orifício, à altura do olhar, mesmo a pedir que se espreite. Do outro lado estão fotografias de várias 'ladies' do Maxime.

Há também um restaurante e uma sala de espetáculos

O Maxime, enquanto cabaret, ocupava apenas o piso de baixo deste edifício de caras para a Praça da Alegria, e é exatamente aqui que a ação acontece, pelo menos aquela que pode ser contada.

O restaurante funciona entre um palco e um bar, cujo balcão se mantém o original e já foi, em tempos, o maior da Europa.

Os jantares, para já, são feitos ao som de um DJ, mas a partir de novembro, as refeições vão ser acompanhadas por espectáculos de cabaret, concertos ou stand up comedy. E o menu dessas noites especiais — sextas e sábados — está a ser pensado em conjunto, pelo chef e o encenador, para que o casamento entre a arte da cozinha e do palco seja perfeito.

Nos outros dias, o chef Luca Bordino, de 29 anos, prepara uma carta de inspiração portuguesa, ainda que se note aqui e ali as influências de quem tem raízes italianas e já passou por cozinhas de Singapura, Indonésia, Filipinas e Nova Zelândia.

"Fazemos uma vénia às antigas coristas respeitando os clássicos da cozinha portuguesa e despimo-nos de preconceitos em novas abordagens", pode ler-se na carta. E é exatamente isso que acontece quando à mesa nos chega o ceviche de robalo (12€) — o peixe mais fresco do mercado, garante-nos Luca — com beterraba e cebola roxa, num molho que o chef batizou de leche de touro, associando a cor às tradicionais touradas.

Esta viagem prossegue com o camarão com um molho a lembrar a Ásia (12€) e uns agnolotti recheados com queijo de cabra, molho de cenoura, cogumelos Enoki e Honshimeji e Parmesão (14€).

Portugal volta à mesa num bacalhau à Brás (15€) feito com batata finamente cortada, azeitona verde, e um ovo preparado a baixa temperatura e que deve ser envolvido na hora.

Morada: Praça da Alegria, 58, Lisboa

Preço: quartos entre 130€ e 290€

Horário do restaurante: snacks 12h30-18:30, jantar 19h30-23h30

Telefone: 218760000

De sobremesas há fruta, bolas de gelado e até crème brûlée, mas, vá lá, estamos no Maxime, deixemo-nos de conservadorismos. Venha daí essa Bombe Lisbonne (7€), uma mistura de merengue italiano com mousse de ginja, maracujá e fofo de cacau, com as calorias certas para uma noite que se quer burlesca, seja no palco do rés do chão ou na cama redonda do último andar.

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