Diz-se que em Castelo Branco há três estações: verão, inverno e a dos comboios. Na visita à cidade só conhecemos o inverno, bem como a chuva que não nos largou (e bendita seja), mas ao longo da viagem de autocarro ficámos com inveja de quem a fez de comboio e passou junto ao rio Tejo como que a aguçar os deslumbres da cidade beirã que agora é mais fácil conhecer.

Desde há um ano têm vindo a ser trabalhadas as 10 rotas turísticas de Castelo Branco — cujo lançamento foi feito a 16 de março na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) — e que vão desde a rota Ativa à rota Artes e Ofícios que aqui perduram no tempo, como é o caso do Bordado de Castelo Branco presente desde os tradicionais tapetes, até a um painel num prédio da cidade (na Avenida de Espanha) de forma de mostrar esta arte mesmo a quem está só de passagem.

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Contudo, o ideal é ficar mais tempo porque há muito para ver através das novas rotas colecionáveis. Não são uma caderneta de cromos como a app Framie, também não é como um passaporte da Nacional 2, é sim uma coleção de ímanes que podem ser adquiridos no município e que, depois de feitas as passagens por locais emblemáticos como o Jardim do Paço Episcopal — mandado construir pelo bispo da Guarda, D. João de Mendonça (e um engraçadinho para as mulheres que explicaremos adiante) — ou o Parque do Barrocal, podem ser colocados no frigorífico ou num sítio que o faça recordar as maravilhas que temos em Portugal.

Para evitar a ecoansiedade dos mais sustentáveis que querem evitar ímanes e panfletos, as novas rotas vão estar ainda integradas numa outra novidade: a app "CB rotas" (disponível em português, inglês e espanhol), na qual também será possível ter acesso às estatuas 3D que se tornam falantes durante as visitas, revelou-nos João Maltês, técnico de Turismo da Câmara Municipal de Castelo Branco.

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Não experimentámos as funcionalidades, mas nada nos demoveu de passar em pelo menos um ponto de cada uma das dez rotas.

Os franceses já não andam por Castelo Branco (ainda que na interpretação do grupo de teatro Váatão, de Castelo Branco, que apareceu de surpresa no Jardim do Paço Episcopal quase nos tivessem convencido disso) e ainda bem que não. Assim, podemos hoje em dia explorar a rota Lazer e mergulhar descansadamente nas praias fluviais de Almaceda e de Sesmo no verão, ou percorrer a arte urbana de Castelo Branco da rota Murais, na qual está representada a invasão francesa.

Sem mais spoilers, passamos então a contar o que Castelo Branco tem para oferecer não so a quem visita, como a quem quer ficar.

“Aqui temos habitação relativamente barata em relação a outras zonas do pais”, disse aos jornalistas o presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Leopoldo Martins Rodrigues, e logo nos veio à cabeça esta lista.

Depois do que vimos por aqui, considerámos não ir embora, mas tivemos de ir para dar agora a conhecer o que esta cidade tem para oferecer.

1. Rota Ativa

Mirante de São Martinho
Mirante de São Martinho créditos: barrocal-parque

Lembra-se da chuva de que falámos ao início? Deu outro encanto ao Parque do Barrocal durante a nossa visita, mas se puder faça-a num dia de melhor tempo para tirar todo o proveito da fauna e flora, assim como da vista a partir dos vários miradouros do parque integrado nos territórios classificados do Geoparque Naturtejo Mundial da UNESCO e da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo/Tajo Internacional.

A viagem com cerca de três quilómetros para percorrer a pé começa na Chave do Barrocal, que nos guia até aos variados pontos de interesse: o Mirante do Barrocal, uma espécie de "cogumelo gigante" a 425 metros de altitude e a partir do qual se avistam as Portas de Ródão; o extenso Túnel do lagarto, construído de modo a "adaptar a estrutura à natureza", disse a guia, e que dá acesso à “segunda parte” do parque onde vai encontrar a Cabeça do Alien, rocha cuja forma se assemelha a uma figura alienígena, e o Mirante de São Martinho, com uma ponte suspensa para os corajosos.

Aproveite a visita para um peddy paper de Páscoa para abrir o apetite à rota número dois.

2. Rota Radical

Kartódromo Castelo Branco
Kartódromo Castelo Branco créditos: facebook

Não vamos esconder que esta era uma das rotas que mais nos deixou entusiasmados. Fora os circuitos BTT ou o skate parque, a Rota Radical inclui o Kartódromo Castelo Branco, que fomos visitar e, claro, experimentar.

Foi a nossa primeira experiência com karts e oportunidade única para tirar a barriga de misérias do que não podemos fazer com um veículo nas estradas. Contudo, aqui o pé pode carregar no acelerador a fundo, virar o volante quase a 360º e subir ao máximo os níveis de epinefrina (hormona associada à adrenalina).

É uma atividade que pode ser feita por um grupo de amigos (desde 25€ por pessoa para grupos entre dez a 22 pessoas), em família (kart duplo custa desde 17€) ou mesmo por crianças (15€ por 15 minutos). Basta colocar o capacete, ouvir como funciona o percurso na pista (atentamente para não fazerem como nós e dar um pião por acharmos que a prova tinha terminado) e torna-se tudo seguro. O preço normal para um adulto é desde 20€ por 15 minutos.

3. Rota Viva

Abelharuco no Parque do Barrocal
créditos: barrocal-parque

Nesta rota, a terceira, voltamos a encontrar o Parque do Barrocal, que abriu portas em novembro 2020 onde antes funcionava uma pedreira.

Há períodos em que chega a receber cerca de 43 mil visitantes humanos e outros tantos seres que fazem com que esteja integrado na rota Viva. É o caso das aves que podem ser observadas no Observatório dos Abelharucos — que idealmente deve visitar na primavera, quando muitas espécies regressam de África para aqui ficar.

Fora este local, Castelo Branco oferece outros dois percursos para a observação de aves Castelo Branco: o percurso norte, com cerca de 35 quilómetros que acaba na albufeira da barragem de Santa Águeda, e o sul, com cerca de 90 quilómetros para ver aves planadoras, como a águia e o grifo.

4. Rota Lazer

piscina-praia
piscina-praia créditos: cm-castelobranco

Uma vez que já não falta muito para as temperaturas convidarem a alguns mergulhos, eis as praias fluviais e a piscina-praia que integram a rota Lazer.

Na primeira categoria está a praia fluvial de Almaceda, situada no centro da aldeia que lhe dá nome e com as paisagens ainda cruas de outros tempos. Neste local também foi mantido um antigo lagar de azeite, que não se mistura com a água da Ribeira de Almaceda onde pode ir a banhos. Já a praia fluvial do Sesmo fica nessa mesma aldeia e é acolhida por montes e vales característicos da zona do pinhal interior.

Existe ainda a piscina-praia, no Parque Urbano Avenida do Empresário, disponível apenas em julho e agosto das 9h às 19h30.

Onde ficar?

O Meliá Castelo Branco tem uma excelente vista sobre a cidade e um lobby que convida a tomar um chá ou um copo de vinho depois de uma tarde de passeio. Fica junto ao Castelo de Castelo Branco.

Localização: Rua da Piscina s/n, 6000-776, Castelo Branco
Reservas: +351 272 349 280/ meliacastelobranco@meliaportugal.com
Preço por noite: 84€ para duas pessoas, com pequeno-almoço incluído

5. Rota Azeite

Fio da Beira
Fio da Beira créditos: facebook

Na Beira Baixa também se faz bom azeite e que o digamos nós que levámos um copo do mesmo, feito pela empresa Fio da Beira, à boca. É assim que se prova azeite e este deixa um ligeiro picante na garganta, mas logo é adoçado pelo mel e doce natural de uma laranja.

De que é que estamos a falar? Da sobremesa sugerida por João Domingues, diretor de produção da Fio da Beira e na área 15 anos, que nos apresentou uma travessa com laranja previamente cortada em fatias e adoçada com mel para, depois, à nossa frente regar com "um fiozinho de azeite", chamou João Domingues ao novelo que desenhou durante alguns segundos. E não é que ficou bom?

Como diz João, esta sobremesa só resulta com um bom azeite e, puxando a brasa à sardinha, nomeou o da empresa Fio da Beira. É feito numa propriedade com 700 hectares, cujo azeite é feito com azeitona de duas variedades, galega e cobrançosa, trabalhadas numa fábrica onde as máquinas parecem como novas de tão rigorosos que são os procedimentos de qualidade.

Pode encontrar o azeite Fio da beira nos supermercados Pingo doce, Recheio e Lidl e em lojas regionais. Em breve, a empresa vai oferecer atividades de oleoturismo.

6. Rota Bordado

Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco
Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco créditos: cm-castelobranco

No edifício que onde antigamente funcionou uma biblioteca e uma prisão, está hoje o Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco que imortaliza uma das mais nobres artes de Castelo Branco: o bordado. "Isto e arte e faz parte da cultura dos portugueses. É único no mundo", disse Rosa Gonçalves, bordadeira há 50 anos, quando visitámos este museu na Praça de Camões.

A arte está a perder-se por não haver jovens interessados em continuar a atividade, que demora a aprimorar. "Com o decorrer dos anos é que se vai formando uma artista”, continuou uma das cinco bordadeiras no local.

O Bordado de Castelo Branco representa figuras como a Árvore da Vida, os pássaros, os cravos, as romãs ou os corações e apesar de ainda se fazer nas formas mais tradicionais, como os tapetes, os tempos exigiram que os bordados fossem aplicados em máscaras higiénicas.

O bilhete de entrada no centro custa 1,50€ (0,75€ para séniores) e a entrada é gratuita para estudantes.

Onde comer?

Entre os destaques da gastronomia, estão o cabrito assado, o borrego, o queijo de Alcains, enchidos como o bucho e o maranho, e a bica de azeite (pão com azeite). Procure por eles na região, mas, pra ir já com algumas dicas, eis onde comer.

Capelo's 

  • Localização: Estrada Nacional 18, nº55 6000-050 Castelo Branco
  • Especialidade: carnes
  • Horário: de segunda-feira a sábado das 12h às 15h e das 19h às 22h30

Palitão (steakhouse)

  • Localização: Avenida Afonso de Paiva, Zona S.Tiago, K-1, R/Chão 6000 - 076 Castelo Branco
  • Especialidade: carnes
  • Horário: de segunda-feira a sábado das 12h às 22h30 (segunda-feira das 19h às 22h30)

7. Rota Museus

Museu Cargaleiro, Manuel Cargaleiro
Museu Cargaleiro, Manuel Cargaleiro "Uma Vida Desenhada" créditos: fundacaomanuelcargaleiro

Manuel Cargaleiro nasceu no concelho de Vila Velha de Ródão e, sendo beirão, todo os seu espólio acabou por ficar em Castelo Branco, mais precisamente no Museu Cargaleiro, que abriu portas em 2005. Aqui faz-se uma viagem no tempo até à cerâmica ratinha (como eram chamados os beirões pelos alentejanos), decorada com motivos florais ou do cotidiano. Além desta, encontrámos ainda cerâmica triana, espanhola, com grandes diferenças no tamanho — tudo peças que pertencem à Coleção de Arte da Fundação Manuel Cargaleiro e está numa parte do edifício, mais antigo.

No segundo edifício do Museu Cargaleiro, encontram-se inúmeras peças feitas pelo próprio "mestre", como é chamado, umas com inspiração de Picasso e outras em que transforma uma obra de arte escrita (poemas) em artes plásticas. Mais recentemente, a 5 de junho de 2021, foi inaugurada mais uma exposição no primeiro e segundo piso do Edifício Contemporâneo: Manuel Cargaleiro Uma Vida Desenhada que relata a vida do "mestre".

A entrada neste museu custa 2€ para adultos, 1€ para séniores e é gratuito para estudantes.

8. Rota Murais

"Castelo Branco" de Styler créditos: instagram

Luís Nunes é licenciado em estudos artísticos, com menor em História de Arte, e, além de guitarrista da banda de rock LVI é guia nos tempos livres. Levou-nos a conhecer alguns momentos e arte de Castelo Branco e antes de nos levar à Sé Catedral de Castelo Branco, mostrou-nos o novo mural da cidade, denominado "Castelo Branco".

Diz respeito ao período das invasões francesas e foi feito por um português que esteve em França, o artista STYLER. Pode encontrá-lo na rua Postiguinho Valadares e não precisa de procurar muito: rapidamente dará de caras com uma fachada de tons verdes a representar o Jardim do Paço Episcopal e cinzentos relativos às espetadas erguidas pelos cavaleiros.

Ao percorrer a cidade, idealmente a pé, poderá ainda ver o mural "Alcains" (relativo a um grifo) de Bordalo II, o "Juncal do Campo", de Vihls, assim como o colorido mural "Louriçal do Campo", de Rosário Bello, e o "Lardosa", da mesma artista, com uma referência à história d'"O Principezinho".

9. Rota Património

Jardim do Paço Episcopal
Jardim do Paço Episcopal créditos: cm-castelobranco

Numa ida a Castelo Branco tem obrigatoriamente de visitar o deslumbrante Jardim do Paço Episcopal, mandado construir pelo bispo da Guarda, D. João de Mendonça. Diga-se de passagem que, segundo se conta, era um atrevido porque no jardim mandou instalar jogos de água, um sistema que deitava água à passagem das "mulheres incautas" que, ao molhar as canelas, divertiam assim os bispos.

Hoje em dia a água ainda sai da plataforma que dá acesso à escadaria dos reis, basta um bater de palmas (testámos e resultou, mesmo após várias tentativas).

No jardim barroco vai ainda encontrar várias estátuas em redor do Jardim do Buxo que ora representam valores humanos, como a caridade, ora o zodíaco e as estações do ano.

O bilhete normal da visita custa 2€ e é gratuita para crianças até aos 10 anos.

10. Rota Artes e Ofícios

ViolaBeiroa - Orquestra
ViolaBeiroa - Orquestra créditos: ViolaBeiroa - Orquestra/facebook

Além do bordado, a viola beiroa é outro dos símbolos de Castelo Branco que pode ser admirado na Associação Recreativa e Cultural Viola Beiroa, criada em 2013. Aqui é possível ver um pouco mais ao detalhe a viola da Beira Baixa que, apesar de ter caído em desuso ao ser substituída ao longo do tempo pela guitarra clássica e o acordeão, continua hoje viva pelas mãos de pequenos e grandes músicos de tamanho.

Dos 15 aos 80 anos, há lugar para todos na sala de ensaios da Orquestra Viola Beiroa que tem lugar na associação. Pode, por isso, ter a sorte de ver e o ouvir o som destas violas numa visita à cidade.

*A MAGG visitou Castelo Branco a convite do Município de Castelo Branco e o do Turismo do Centro.