Quantas crianças não acreditaram no Pai Natal em algum momento das suas vidas? Dificilmente consegue nomear uma. A maioria dos pais conta a lenga lenga do velhote de barbas brancas, que se veste de vermelho e julga os comportamentos dos miúdos ao longo de todo o ano. E claro, se se portarem bem ganham um presente no sapatinho na noite de Natal.
Toda a gente conhece esta história. Mas porque é que as crianças acreditam nesta narrativa que veio substituir o menino Jesus, a personalidade que, em tempos passados, tinha o poder de deixar uma prenda debaixo do pinheiro?
De acordo com Rohan Kapitany Lecturer, psicólogo na Universidade de Keele, e segundo escreve o site "The Conversation", é provável que pense que isto acontece porque os miúdos são suscetíveis a todas as histórias que envolvem magia. Não é bem assim — fazê-los acreditar em tantos comportamentos céticos pode ser algo difícil. Num estudo designado “Princesa Alice” , os investigadores realizaram uma experiência com várias crianças. Começaram por contar-lhes uma história sobre uma princesa invisível — que estava presente na mesma sala e sentada numa cadeira próxima delas. As crianças foram deixadas sozinhas no espaço e os comportamentos foram avaliados: algumas acenaram com as mãos, enquanto outras mantiveram-se indiferentes.
Outra investigação, intitulada “Candy Witch”, tentou evidenciar a sensibilidade das crianças ao esforço realizado por parte de um adulto. Este estudo contava com dois adultos que visitaram um escola individualmente — e em alturas diferentes — e deram a conhecer a várias crianças a história de uma Bruxa dos Doces que trocava doces de Halloween por um brinquedo. Neste caso, as crianças estavam a ser impulsionadas a não comer o doce — o que pode ser uma tarefa difícil para elas —, em troca de um brinquedo. Muitas crianças acreditaram na Bruxa dos Doces e algumas continuaram a acreditar um ano depois.
O que é que podemos concluir destes dois estudos? A única maneira de uma pessoa aprender algo que nunca viu ou experimentou é através da confiança — e é por este motivo é que várias crianças acreditam no Pai Natal. A teoria de Joe Henrich sugere que para os miúdos evitam a exploração através da confiança que depositam nas ações dos modelos que normalmente seguem, nomeadamente os pais. Assim pode explicar-se o facto de as crianças acreditarem no Pai Natal — apesar de nunca o terem visto, acham que os pais não iriam inventar aquela história.
Segundo afirma o site "The Conversation", os contos que se contam às crianças, desde o Pai Natal até à Fada dos Dentes, podem ser muito importantes para entenderem a realidade no futuro. E no caso do Pai Natal, normalmente os pais envolvem as crianças em muitos pormenores da história que os leva a acreditar que é de facto verdadeira. Rohan Kapitany Lecturer afirma: "As crianças são sensíveis às nossas ações — cantam canções, erguem árvores mortas dentro de nossas casas, deixam de fora leite e biscoitos — e as crianças, sensatamente, prestam atenção a isso. E o resultado é a crença: a mãe e pai não fariam isso se não acreditassem, portanto o Pai Natal deve ser real".