Já começou a nova temporada do Maxime Cabaret Show, que promete ainda mais excentricidade do que o que já era habitual. Ao todo, serão 17 artistas nacionais e internacionais a atuar ao longo de várias noites.
O mês de setembro marca o regresso destes espetáculos únicos que decorrem junto à Avenida da Liberdade, em Lisboa. Consistem num jantar gourmet durante o qual vai poder assistir às atuações de artistas residentes e convidados, desde dançarinas a comediantes, cantores a mágicos e até drag queens.
Estes regressos ao passado vintage acontecem a cada semana, ao anoitecer, no Maxime Restaurante, inserido no Maxime Hotel, um edifício icónico que exalta a Lisboa boémia dos anos 40. Assistir a estes espetáculos temáticos tem o custo de 65€ (e por mais 10€ a primeira fila fica garantida).
A nova temporada desta experiência imersiva que celebra a diversidade conta com o apoio do Ministério da Cultura. Combina sabores, música, exuberância e ousadia, mas os lugares são limitados, pelo que convém agarrar o seu o mais rápido possível. O próximo acontece às 20h30 de dia 1 de outubro.
Relato na primeira pessoa: a primeira vez numa experiência de cabaret
A MAGG esteve presente no espetáculo de regresso do Maxime Cabaret Show, a 17 de setembro. O espetáculo, que contou com atuações das artistas Vanity Redfire, Fraulein Margret, Tara Matahari, Veronique Divine e Baby Valentine, marcou a estreia da repórter Mariana Coelho numa experiência do género. Fica, aqui, um relato na primeira pessoa da experiência.
Ao saber que a noite seria passada na Praça da Alegria, tive a certeza de que não desiludiria — e assim foi. O Maxime Hotel fica numa das transversais da Avenida da Liberdade, a menos de cinco minutos da saída do metro. Assim que entrei pela porta, estava um chariot com plumas e chapéus à minha espera, mesmo a pedir uma sessão fotográfica.
Registado o momento, encaminharam-me à segunda fila, onde estava a mesa que me era destinada. Porque não há tempo a perder, comecei pelos três pães (de sementes de papoila, de azeitona e de sésamo). Fofos e saborosos, eram bons por si só. Com as manteigas (uma delas de beterraba, algo inédito, mas mais que aprovado) ficaram ótimos.
Para empurrar, um copo com sangria de maracujá que mais parecia sumo (o primeiro, pelo qual me apaixonei e que me prendeu à sangria até já não haver). Enquanto o espetáculo não começava, tocavam êxitos para todas as idades (desde a "Purple Rain" de Prince à "Bad Habits" de Ed Sheeran). O ambiente era acolhedor, com pouca luminosidade.
A Fraulein Margret foi a primeira a chegar, assumindo o papel de anfitriã da noite. Começou por perguntar se havia estrangeiros na sala e que idiomas falavam, tendo alternado entre o português e o inglês durante toda a noite (com uns toques de francês e alemão).
"Quem vem pela primeira vez?", perguntou, fazendo-me levantar o braço. "I love virgins" ("Eu amo virgens"), retorquiu, de imediato, provocando gargalhada geral. Esta noite de reabertura da temporada dos cabaret seria dividida em três atos, cada um com várias atuações.
Embora distintas as apresentações, era impossível não notar as semelhanças entre as artistas: usavam sempre maquilhagem excêntrica, repleta de brilhos. Era raro as roupas não conterem plumas, penduricalhos ou missangas, mesmo estilo anos 20. Muitas cartolas, blazers e saltos altos. Os tecidos ora eram esvoaçantes ora apertados.
O preto e o vermelho reinavam tanto no ambiente como em muitos dos figurinos. Não demorei a perceber que, embora chegassem a palco encasacadas, iriam concluir o show com o mínimo de roupa possível, ali no limiar do nudismo, sobrando apenas fios dentais e tapa mamilos do mais burlesco que existe.
Cantavam, dançavam, piscavam os olhos, mordiam os lábios e davam palmadas enquanto faziam contacto visual com quem estava na plateia (sendo a interação com o público frequente). O caráter sedutor e exótico do espetáculo deixa-nos vidrados. Ao mesmo tempo, queremos provar as iguarias que nos vão chegando à mesa e já não sabemos onde focar a atenção.
Aquilo a que chamam de "The Ultimate Cabaret Dinner Experience" é composto por quatro momentos: a entrada, o prato de peixe, o de carne e a sobremesa. Para começar, uma junção de damascos, mel e queijo de cabra que causa um contraste perfeito entre o doce e o amargo.
A corvina, pousada num género de espuma, era do mais tenro que há. Também o pato, envolvido em cogumelos num folhado, era super macio. E continuou delicioso mesmo depois de descobrirmos, com uma rápida pesquisa no Google, o que era o tal de foie gras que aparecia no topo deste prato.
A sobremesa, que provocava estalos na boca (graças às peta-zetas), era um género de sopa de frutos vermelhos com uma bola de gelado de chocolate. Cada prato, uma explosão de sabores. Findo o Joi de maracujá — perdão, a sangria —, começámos a pousar rosé nas bases (que diziam "cheers darling").
Tentava desviar o olhar, focando-me na comida e apenas ouvindo as grandes vozes das artistas, mas era impossível não querer ver o que acontecia no palco. Dos atos sensuais inspirados em Bollywood aos que continham truques de magia, era frequente deixar cair o queixo sem me aperceber.
Um dos atos começou com um aviso. Algo como "quem tiver medo de cobras, pode ir embora, pois vem aí uma e está viva". Dito, feito. Vanity Redfire não tardaria a andar pelas mesas a exibir o seu réptil, que chegou a tocar em cabeças carecas e a receber festas dos mais corajosos (eu não incluída).
Há que destacar ainda a performance de Fraulein Margret, que tentou ensinar a dança da língua a um "voluntário" (que foi obrigado pelos amigos). "Traga o guardanapo, porque vamos babar-nos", alertou, antes de iniciar este ato provocador no qual realizaria vários movimentos com a língua, que pedia ao rapaz (que não sabia onde se havia metido) para replicar.
"Já aprendeu qualquer coisa hoje", despediu-se, declarando que a namorada não precisaria de agradecer esta lição. Não tinha bem a noção daquilo que testemunharia num cabaret deste género, mas certamente não esperava assistir a uma publicidade a um esfregão.
E por esfregão entenda-se algo colocado na zona dos pelos púbicos da artista, que ia esfregando uma frigideira na suposta palha de aço enquanto emitia gemidos ensurdecedores. Uma maneira criativa, embora estranha de promover um produto (fiquei convencida. Onde se compra?).
Os intervalos do Maxime Cabaret Show são curtos, mas desnecessários, já que queremos sempre ver mais. Este espetáculo foi rir e comer até doer a barriga e também querer captar cada segundo com as novas tecnologias para mais tarde poder mostrar a todos o que perderam.