Usar portas como mesas ou troncos de árvores como mesas de cabeceira começa a ser mais comum do que antes e associado a uma decoração mais minimalista, ao mesmo tempo que o planeta agradece a reutilização desses materiais. Mas usar cartão desperdiçado de fábricas para fazer candeeiros é algo inovador e, ao que sabemos, só existe num sítio: no Ulisses Design.
A marca pertence a Ulisses Pereira, de 48 anos, licenciado em Design no IADE, em Lisboa, e com formação em design gráfico, produto e interiores. Trabalhou durante toda a vida na área, mais precisamente em design gráfico numa agência própria, até ao dia em que deixou de se sentir realizado.
"Nos últimos anos, um bocado cansado da vida dos serviços que são sempre para ontem, resolvi começar este projeto que já andava a estudar há muitos anos", conta à MAGG. O projeto nasceu em 2017 com uma espécie de laboratório para experimentar os primeiros modelos, mas só foi lançado ao público em 2019.
Problema? Foi mesmo no final de 2019, sendo que meses depois a pandemia da COVID-19 explodiu e obrigou Ulisses Pereira a parar — com exceção dos estudos de algumas peças. Há cerca de um ano, em 2021, o projeto foi relançado e não falta adesão.
O que significa um candeeiro sustentável?
O projeto Ulisses Design assenta essencialmente no conceito de economia circular, isto é, de usar o que já existe para produzir novas peças em vez de ir buscar mais matéria prima à natureza. É isso que faz através de acordos estabelecidos com fábricas às quais vai recolher os materiais para os artigos de decoração.
"Há sempre erros de produção [nas fábricas]. Sobram peças, há peças com defeitos. E eles põem logo de lado. Em vez de todo esse material, que se transformaria em desperdício, ir para aterros sanitários, vou buscá-los. Obviamente que faço uma escolha, tiro as partes que de facto são mesmo impossíveis de trabalhar, e desse material torno então a minha matéria prima para fazer as peças", explica Ulisses.
O que as torna igualmente sustentáveis é o casquilho adaptado para lâmpadas "LED, entre 4 a 6w, que poluem o mínimo possível, e também para ter uma segurança grande em relação ao material, uma vez que grande parte das peças são derivadas do cartão e obviamente que essa margem de segurança é importante", refere. No que diz respeito à resistência, pode estar descansado que o cartão usado nestas peças é forte e, apesar de não deixar de ser cartão, a verdade é que "outros materiais que as pessoas usam em casa são bem mais frágeis", lembra Ulisses.
Os candeeiros só não são feitos 100% com desperdício por duas razões: devido à cablagem necessária (cabos que permitem a instalação de luz) e à cola. "Uso muito pouca cola e só algumas peças levam cola. Mas as que usam são colas o mínimo poluentes possíveis", nota.
Desde cedo que Ulisses Pereira está atento às questões ambientais, em parte devido à educação dada pelo pais, mas sabia que queria levar a sua missão mais além. "Sempre desejei fazer algo que estivesse ligado à proteção do planeta. Já fazia algumas peças para oferecer com materiais existentes. Entretanto, as pessoas começaram a achar engraçado e a alimentar este meu desejo de começar a comercializar peças neste conceito ecológico, de economia circular. De desperdício zero", conta. E assim aconteceu.
Diversão D.I.Y ou decoração original sem ter trabalho
As peças de decoração de Ulisses não são como as demais. É possível ter um candeeiro pensado e pré preparado pelo designer, mas o resultado final é feito pelo próprio cliente. Esta é a versão dos candeeiros em kit, ou seja, em modo D.I.Y (faça você mesmo, em português).
"As peças são desenhadas por mim, desde a própria embalagem aos candeeiros ao kit e vai tudo pronto para montar. Só não leva a lâmpada. A pessoa monta em casa e é um presente que gostam muito de oferecer", refere o responsável pela ideia. No entanto, esta não é a única opção. "Também existe muito o lado em que as pessoas gostam de comprar já tudo feito e aí mando as coisas completamente montadas. E algumas são mesmo já para ir montadas, como os candeeiros de teto que são difíceis de montar em casa", explica.
Para já, a gama do projeto Ulisses Design inclui o colorido e novo Magui (60€), um candeeiro de teto artesanal, e vários outros feitos com cartão: ora o também de teto Orbitar (70€), ora os de cabeceira PAT Túlipa (60€) e o PAT Estela (50€) — ambos disponíveis em modo D.I.Y —, ora o de secretária, PIPA Pudim (35€).
Em breve vão chegar outro tipo de peças, como cadeiras. "Ainda tenho poucas peças publicadas e para venda, embora haja muito mais para apresentar. Mas antes de comercializar, é tudo experimentado durante muito tempo", refere Ulisses sobre os testes de durabilidade e qualidade.
Pode comprar o que já existe na loja online ou nas lojas físicas de revenda: Hard Club, no Porto, e na Light & Store, em Campo de Ourique.