Lewis Capaldi apresentou-se no sábado passado, 24 de junho, no festival Glastonbury, no Reino Unido. Contudo, a meio do concerto o cantor britânico começou a manifestar alguns tiques derivados da síndrome de Tourette, que limitaram a atuação do artista. Os fãs, apercebendo-se das dificuldades do músico, ajudaram-no a cantar o tema “Someone You Loved”, em uníssono, dando algum tempo ao músico para recuperar o fôlego e tentar novamente. Algo que não foi possível, levando o artista a abandonar o palco.

Após estes problemas causados pela Síndrome de Tourette, Lewis Capaldi recorreu às redes sociais, durante a tarde de terça-feira, 27 de junho, para revelar que iria fazer uma pausa na digressão que tinha pendente para os próximos meses. Através de uma publicação no Instagram, o cantor britânico referiu que esta era a “decisão mais difícil” que teve de tomar, mas era algo que precisava de fazer para estar a 100% durante os concertos.

“Costumava desfrutar de cada segundo dos espetáculos que fazia e esperava que três semanas de ausência resolvessem o problema. Mas a verdade é que ainda estou a aprender a adaptar-me ao impacto da Tourette na minha vida e no concerto de sábado tornou-se óbvio de que preciso passar mais tempo a colocar a minha saúde mental e física em ordem, para poder continuar a fazer tudo o que adoro durante muito tempo”, referiu o artista no Instagram.

“Peço imensa desculpa a todos os que tinham planeado a ir a um concerto antes do final do ano, mas preciso sentir-me bem para atuar ao nível que todos vocês merecem. Tocar para vocês todas as noites é tudo o que sempre sonhei, por isso esta foi a decisão mais difícil da minha vida. Voltarei assim que puder”, acrescentou o cantor.

O que é a síndrome de Tourette?

Lewis Capaldi revelou em setembro de 2022 que tinha sido diagnosticado com Síndrome de Tourette. Mas o que é esta doença que obrigou o artista a abandonar os palcos? Esta síndrome é “um quadro clínico caracterizada tanto pelo desenvolvimento de tiques motores, como fazer caretas, encolher ou sacudir os ombros, esticar os braços, estalar os dedos ou bater palmas, ou de tiques vocais, como a repetição de sons, de palavras ou de asneiras”, refere Berta Pinto Ferreira, médica especialista em psiquiatria de infância e adolescência, em entrevista à MAGG.

Berta Pinto Ferreira
Berta Pinto Ferreira é médica especialista em psiquiatria de infância e adolescência

A Síndrome de Tourette começa a desenvolver-se “na primeira década de vida”. Pode iniciar-se por volta dos “5 a 7 anos de idade, na forma de tiques motores simples”, como piscar os olhos ou sacudir a cabeça, e vai ”progressivamente evoluindo e aumentando de complexidade”, apontou a médica do Hospital Lusíadas Amadora.

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Estes tiques podem também ser “aumentados e assoberbados com a ansiedade e com o stress”. Contudo, com o repouso necessário podem atenuar, isto é, “os tiques diminuem a sua intensidade com o repouso ou também com alguma atividade que exija concentração”. Também “à medida que a pessoa vai envelhecendo vai melhorando o seu quadro clínico”, mencionou Berta Pinto Ferreira.

Esta síndrome tem ainda a tendência de afetar mais o sexo masculino, ou seja, “os homens são afetados 3 a 4 vezes mais do que as mulheres”. Mas todas estas formas de manifestação podem ser tratadas. O primeiro passo é procurar ajuda de especialistas ou profissionais para saber como lidar com a demonstração destes tiques. É também igualmente importante envolver os professores num sentido de “proteção de possíveis comportamentos de discriminação ou de isolamento”, que possam acontecer enquanto a criança frequenta a escola.

Além disso, deve existir também uma “participação ativa da família”, que envolva ter “conhecimento desta doença”, no sentido de “explicar [às crianças] do que se trata e que tiques pode envolver”. Pode também ser necessário recorrer a uma abordagem ao nível de medicação, quando os “sintomas causam um grande impacto negativo em vários aspetos da vida das pessoas”, refere a especialista em psiquiatria de infância e adolescência.