Tudo o que a Disney queria era manter a história de Bay Lake e River Country em segredo. Faz sentido: ninguém na indústria dos parques de diversões gostaria de admitir o seu falhanço. E é exatamente disso que se trata — quando deixaram de ser rentáveis e remodelá-los não era uma opção, a Disney deixou-os ao abandono. O segredo durou algum tempo, até um fotógrafo conseguir aproximar-se do local. Acabou banido do Magic Kingdom, no Walt Disney World, na Flórida, mas as fotografias vieram consigo.

Este é apenas um dos nove locais abandonados com histórias incríveis que a MAGG escolheu. Do estádio onde atuou Elvis Presley e Michael Jackson, e que serviu para ilustrar o mundo pós-apocalíptico no último filme dos "Transformers", até ao hotel açoriano que fechou em 19 meses, estes espaços têm imagens impressionantes. E histórias também.

Contamos-lhe tudo.

A incrível história do hotel abandonado nos Açores

Dizem que foi o primeiro hotel de cinco estrelas a abrir em São Miguel, mas não é verdade. O emblemático Monte Palace, situado no miradouro da Vista do Rei, mesmo em frente à Lagoa das Sete Cidades, abriu em 1989, cinco anos depois do irmão mais velho, o Bahia Palace. Os dois pertenciam ao grupo Sá, e os dois foram um fracasso. Bem, um mais do que o outro — o Bahia Palace abriu e fechou várias vezes até passar a quatro estrelas (recebe hóspedes até hoje), o Monte Palace fechou 19 meses depois e está abandonado desde então.

Foi a 15 de abril de 1989 que o hotel recebeu os primeiros hóspedes. A festa de inauguração teve direito a um concerto de Fafá de Belém e no ano seguinte o diretor do hotel estava em Lisboa a receber o prémio de Hotel do Ano. Nesse mesmo dia, porém, o staff composto por 130 pessoas recebia a triste notícia de que tinham sido todos dispensados — o espaço de cinco estrelas ia abrir falência.

Com um total de 88 quartos, dois restaurantes, um café e um bar, o Monte Palace até tinha um banco, uma discoteca e um corredor de vitrines com souvenirs. O material foi todo importado, tinha alcatifas luxuosas e mármores por toda a parte. Os hóspedes adoravam tudo — menos a localização. Vigiado durante 21 anos após o seu encerramento, em 2011 o grupo madeirense que o detinha, Siram, faliu. Nessa altura começaram os roubos. Levaram tudo, até as banheiras.

Atualmente, o hotel está num elevado estado de degradação. No final do ano passado, o jornal "Açoriano Oriental" divulgou que o espaço tinha sido vendido a empresários asiáticos que pretendem manter a vocação turística do imóvel.

O estádio onde atuou Elvis Presley e Michael Jackson tinha musgo nas salas

Situado no distrito de Pontiac, nos subúrbios de Detroit, o estádio Pontiac Silverdome foi inaugurado em 1930. Com um total de 80.311 lugares, foi renomeado Pontiac Silverdome em 1975, altura em que se tornou a casa dos Detroit Lions até 2001. Os Detroit Pistons também estiveram por lá de 1978 a 1988.

Além de importantes eventos desportivos, como o Super Bowl XVI, WrestleMania III e o Campeonato Mundial de Futebol em 1994, passaram pelo estádio grandes artistas como The Who, Elvis Presley, Led Zeppelin, Bruce Springsteen, Michael Jackson, Madonna e Pink Floyd. Até João Paulo II rezou uma missa no estádio em 1987, perante uma plateia de 93.682 pessoas.

Parecia impossível que um espaço tão emblemático como este fechasse. Mas foi exatamente isso que aconteceu entre 2001 e 2010. Voltou a abrir para um espetáculo dos Monster Trucks, uma partida de futebol e uma luta de boxe, depois fechou outra vez.

Com vegetação a crescer por todo o lado, a cobertura destruída e muitos bancos partidos, o cenário degradado foi perfeito ilustrar o mundo pós-apocalíptico no último filme dos "Transformers". E terminou assim a sua história: em dezembro do ano passado, deu-se início ao processo de demolição do estádio, na sequência de uma ordem do tribunal. A limpeza vai durar oito meses, mas a implosão já aconteceu. Para já ainda não se sabe o que é que vai abrir a seguir no local — o terreno vai ser colocado à venda.

Há uma igreja em Itália debaixo de um lago (e não é a única)

Na província italiana de Bolzano, a dois quilómetros de Passo de Récia, junto da fronteira com a Áustria, há uma igreja submersa do século XIV no meio do lago artificial Reschensee. A única parte visível é a torre do sino, que pode ser alcançada a pé no inverno quando a água congela com o frio.

A igreja não é a única estrutura submersa. No fundo do lago há mais de 200 casas, todas abandonadas na mesma altura. E porque é que isto aconteceu? Porque em meados do século XX foi construída uma hidroelétrica.

Não é assim tão incomum descobrir aldeias submersas. Em Espanha existem duas, Mediano e San Romà de Sau, ambas abandonadas, submersas e com torres de igreja a surgir no meio da água.

Em Portugal também temos o exemplo de Vilarinho das Furnas, um aldeia no concelho de Terras do Douro, no distrito de Braga, que ficou submersa pela albufeira da barragem de Vilarinho das Furnas em 1971. Quando o nível das águas desce em períodos de seca, é possível ver as estradas, muros e casas da antiga aldeia.

O parque de diversões de Gulliver foi construído no pior sítio do mundo

O Reino de Gulliver. Era este o nome do parque situado perto do Monte Fuji, que tinha uma estátua de Gulliver deitado no chão com quase 45 metros de comprimento. O "monumento" por si só deveria ser uma atração para os visitantes, mas não foi isso que aconteceu. Inaugurado em 1997, precisou de apenas quatro anos para fechar portas.

Quando o parque de diversões abriu no verão desse ano, os locais tiveram esperança de que a estátua da personagem criada por Jonathan Swift fosse suficiente para acabar com a má fama da região. É que a localidade mais próxima de Kawaguchi é conhecida por ser a casa da organização terrorista Aum Shinrikyo, que em 1995 lançou um ataque com gás sarin no metro de Tóquio. Morreram 12 pessoas, 50 ficaram gravemente feridas e mais de seis mil pessoas sofreram ferimentos ligeiros.

Como se não fosse suficiente, mesmo ali ao lado fica Aokigahara, a floresta dos suicídios. É o segundo local do mundo onde mais pessoas decidem pôr termo à vida, a seguir à Ponte Golden Gate, em São Francisco. São centenas por ano.

Com uma localização tudo menos atraente, o Reino de Gulliver não conseguiu melhorar a fama da região. Pelo contrário, foi um desastre financeiro: quatro anos depois de abrir, declarou falência. Em 2007 foi demolido.

Discovery Island e River Country, os dois parques de diversões abandonados da Disney

A este do parque Magic Kingdom, no Walt Disney World, na Flórida, há um lago chamado Bay Lake. O que é que isso tem de especial? É que no meio do lago há uma ilha onde a Disney mantém escondido o parque de diversões abandonado Discovery Island.

Dizemos "mantém" porque, de facto, eles não querem ninguém ali — nem deste, nem do River Country, o primeiro parque aquático da Disney, que fica a menos de 100 metros de distância. Nos dois espaços há seguranças a vigiar o perímetro e ninguém se consegue aproximar mais do que 15 metros da ilha.

Estes são os únicos dois parques que a Disney mantém fechados permanentemente. O Discovery Island funcionou entre 1974 e 1999 e River Country de 1976 a 2001. O fotógrafo Seph Lawless conseguiu chegar mais perto do local do que devia e captou tudo o que viu. Acabou banido da Disney World para a vida, mas pelo menos conseguiu trazer as fotos consigo.

A prisão de Al Capone recebe visitas organizadas desde o ano passado

Inaugurada em 1829, numa altura em que a Casa Branca nem sequer tinha canalizações, a Eastern State Penitentiary fica em Filadélfia e é considerado o primeiro edifício moderno dos Estados Unidos. Com sistemas de aquecimento, água e esgoto, recebeu criminosos famosos como Al Capone — o único que teve direito a algumas regalias, como mobiliário de luxo.

Encerrada em 1971, ainda nessa década a ideia era demolir a prisão. Só que o edifício está classificado como histórico, portanto isso não era possível. Hoje, está num estado controlado de ruína. Os visitantes são bem-vindos, uma vez que há tours organizadas pelo local desde o ano passado. Realizam-se entre as 10 e as 17 horas.

De hotel a orfanato. E a culpa foi do sultão

O orfanato mais famoso da Turquia fica em Buyukada, uma das nove ilhas que compõem as Ilhas do Príncipe, no mar de Mármara. Projetado para ser um hotel de luxo por uma companhia ferroviária, responsável pela famosa rota Expresso do Oriente, o desenho do edifício ficou a cargo do arquiteto Alexander Vallaury.

A obra terminou na década de 90 do século XIX, no entanto o hotel nunca recebeu um único hóspede — o sultão Abdülhamid II recusou-se a aceitar a abertura da unidade. Em 1898, o espaço foi parar às mãos de Eleni Zarifi, viúva de um rico banqueiro que o doou ao Patriarcado Ortodoxo com o objetivo de abrir ali um orfanato.

E assim foi. Numa altura em que a comunidade ortodoxa tinha grande expressividade numérica na Turquia, os contínuos conflitos que o Império Otomano enfrentava deixavam muitas crianças órfãs. Inaugurado em 1903, desta vez o sultão apoiou o projeto — tanto que até lhe concedeu a permissão de ficar isento de impostos.

O orfanato manteve-se aberto até 1964, altura em que a redução do número de órfãos fez com que deixasse de fazer sentido manter o espaço aberto. Depois de muitos conflitos entre o governo e a Igreja Ortodoxa, em 2010 o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos devolveu a propriedade à segunda. No entanto, a falta de verbas não tornaram ainda possível restaurar o local.

Quanto a visitas, são desaconselhadas. Além do elevado estado de degradação do edifício, os locais são muito protetores. Se o apanharem no perímetro do orfanato, o mais provável é acabar expulso.

A estação espanhola ocupada pelos nazis fechou devido a um descarrilamento

A estação de Canfranc fica em Canfranc, bem perto da fronteira com França e a cerca de 150 quilómetros de Saragoça. Apesar de Espanha se ter mantido neutra durante a Segunda Guerra Mundial, a estação de comboios inaugurada em 1928 teve um papel muito importante no conflito. Hitler conseguiu apoderar-se do local, muito apetecível devido à sua posição geográfica.

No início da guerra, a estação foi utilizada sobretudo para transportar pela Europa o ouro saqueado. No final, serviu para ajudar os oficiais nazis a fugir. Quando o conflito terminou e tudo voltou à normalidade, aquela que foi em tempos uma das estações de comboios mais famosas do mundo precisou de apenas 20 anos para fechar.

E a culpa não foi a má fama — em 1960, uma locomotiva saltou dos carris. Ninguém morreu, mas a estação de Canfranc encerrou imediatamente. E nunca mais voltou a abrir.