Aos 12 anos, Dinis Rocha, que se considera um “mini biólogo”, é um fenómeno nas redes sociais, contando já com 105 mil seguidores no Instagram e quase mil subscritores no Youtube. Na sua página, pode “descobrir animais fantásticos e curiosidades sobre biologia”, tal como diz na biografia, e ver os conteúdos regulares que publica sobre os animais e seres vivos que encontra.
Além disso, Dinis tem um patreon, uma plataforma onde os fãs podem apoiar o projeto com um valor monetário mensal, de 3€ ou 5€, para conteúdos exclusivos e visualização antecipada de vídeos, ou 19,50€ para um vídeo personalizado sobre algum animal específico ou para uma prenda de aniversário, por exemplo.
Recentemente, Dinis abordou outro assunto nas redes sociais: o facto de ser autista. O objetivo foi ajudar os seguidores e os seus familiares. O “mini biólogo” partilhou que já sabia desde o 5º ano, mas que decidiu nunca partilhar nas redes sociais. “Hoje em dia as pessoas são mesmo estúpidas e dizem: ‘ah o autismo é uma deficiência mental, tu és autista’”, justificou.
Veja o vídeo.
Dinis tem síndrome de Asperger, condição do espetro do autismo que afeta as capacidades de comunicação e relacionamento, segundo o site da CUF. “Isto não me incapacita em nenhuma forma, na verdade até me ajuda a aprender melhor. Só que às vezes tenho um bocadinho de dificuldade em falar com as pessoas quando não é um tema que eu gosto, por exemplo os animais, às vezes não sei muito bem o que dizer e, com isso, fico calado”, explicou.
“Se não fosse o autismo, eu não estava aqui a saber tanto sobre os animais. Além de eu dizer que é porque eu estudo muito, é especialmente por causa do autismo que eu sei tanto, porque eu foco-me muito neste tema. O autismo não é uma doença, porque não se sabe a causa, então é considerado um espectro ou uma síndrome e há vários tipos de autismo. Afeta o desenvolvimento e a maneira como pensamos, como reagimos a coisas e como interagimos com pessoas, também influencia na maneira como sentimos e como vemos o mundo”, continuou.
Dinis, que é “muito funcional”, mencionou ainda as “características mais evidentes no autismo”: “hiperfoco”, “é mais comum gostar mais de dinaussauros, carros, comboios, aviões” – sendo que os animais são o seu tema preferido –, “há sensibilidades a comer, a sentir cheiros, a sons”.
Além do hiperfoco, o “mini biólogo” come “muito poucas coisas, mesmo muito limitado”, e tem “alguns problemas a seguir regras”, não percebendo porque tem de “passar uma coisa que está no manual para o caderno”, exemplificando.
Dinis contou ainda como é na escola. “Infelizmente, na escola, ainda não sabem que eu tenho autismo e por isso mesmo é que é muito difícil para mim, sendo que muitos professores ainda não me compreendem, porque eu sou estranho, no meio dos meus colegas eu falo imenso e assim, portanto para mim a escola é um sítio um bocado difícil”, relatou, acrescentando que nomes como Elon Musk e a cantora Sia são autistas, além da “maior parte dos génios no mundo”, como Einstein.
Dinis concluiu com uma mensagem para os seguidores. “Para ti, que são crianças, pré-adolescentes, adolescentes, adultos, pais, avós, tios, quero que vocês prestem mesmo atenção aos vossos filhos e que tentem explorar isto, saber se eles são autistas e, se sim, informar os professores e assim para não passarem a mesma coisa que eu passei, falo com experiência”, aconselhou, alertando para que, se identificarem alguma característica mencionada, falarem com o “pediatra ou psicólogo, médico de família” e “outras pessoas que passaram pelo mesmo”.
“Para terem a certeza que o vosso filho vive uma vida feliz ou, pelo menos, uma infância feliz sendo autista. Lembrem-se: isto é um assunto importante e não é um tabu. Portanto, como os meus animais são todos diferentes, nós também somos e eu não sou anormal por causa disto, isto é simplesmente a minha característica e a minha maneira de ser. Agora, qual é a tua? Temos de aceitar isso e não podemos gozar com as pessoas que têm isto”, concluiu.
Na descrição da publicação, Dinis também deixou uma mensagem. “Possivelmente quem sabe o que é o autismo já reconhecia em mim algumas características. Ainda há muitos pais que não lidam bem com o diagnóstico e isso deve-se a falta de conhecimento. Imaginem o que vai mudar, para melhor, na vidas das crianças quando são compreendidas e não são vistas como totós, ou são vítimas de bullying, ou os professores acham que estão sempre distraídos, ou porque os pais não sabem lidar com eles e isso gera frustração e chatices”, apelou. “Temos todos o direito de ser felizes e eu sou muito feliz à minha maneira”, garantiu.