Desde novembro deste ano que a Livraria Ferin, a segunda livraria mais antiga de Lisboa conhecida pelos seus livros antigos e raros e abrigada debaixo das arcadas de um antigo convento, estava fechada para um “inventário profundo, impossível de se fazer com a loja aberta”, citou o jornal “Observador” na altura. A histórica livraria lisboeta, que foi comprada por José Pinho, dono da Ler Devagar que morreu em maio, foi fundada em 1840, e sobreviveu ao fim da monarquia, à 1.ª República e ao incêndio do Chiado.
Em 2017, reabriu pelas mãos do dono da Ler Devagar, mas, num comunicado enviado na quinta-feira, 21 de dezembro, a administração confirmou que a Livraria Ferin se encontra, oficialmente, fechada.
“Em 2017 o José Pinho foi contactado pelos herdeiros da centenária livraria Ferin da baixa Lisboeta. Foi um pedido de ajuda de mais uma livraria que não conseguia fazer face aos problemas com que se deparam todas as pequenas livrarias independentes, cuja faturação e margens de lucro mínimas não lhes dão o fôlego suficiente para competir com as grandes superfícies”, começaram por escrever. Nessa altura, o proprietário comprou a livraria por um preço simbólico, arrecadando as dívidas acumuladas que esta tinha, dividas essas que determinaram o fecho da livraria.
“Desde logo, tanto o José Pinho como toda a equipa da Ler Devagar, abraçaram esta missão com o entusiasmo que sempre povoou os seus projetos. (...). Em 2021, ainda mal tinham passado os efeitos e os tempos mais duros do Covid, o José Pinho soube que tinha uma doença oncológica incurável. Iniciou-se aí mais uma luta de sobrevivência que durou dois anos a que ele resistiu heroicamente… mas acabando por morrer em maio de 2023”, acrescentam.
“Nos últimos 6 meses, prosseguimos à procura de uma solução que permitisse tapar o enorme buraco que estes 4 anos de luta vieram acrescentar ao já existente. Mas nem as instituições públicas (...) nem os accionistas e amigos da Ler Devagar conseguiram fazer face aos problemas financeiros e contabilísticos da Ferin. Por isso, este ano, tornou-se duplamente triste para nós: vimos partir o José Pinho e, agora, tivemos que fechar as portas da Ferin”, lê-se no final do comunicado.
No entanto, a administração do grupo Ler Devagar não baixou os braços e acredita que, como José Pinho dizia, “sempre que uma livraria fechar, a Ler Devagar abrirá uma outra”. Assim, o grupo quer promover o mais recente projeto, a Casa do Comum - Centro Cultural do Bairro Alto, para fazer jus às palavras do antigo dono, abrindo uma livraria que é também um centro cultural onde se podem ler e comprar livros, ver filmes, beber um copo, ouvir um concerto ou participar numa sessão de leitura. “Esperamos que este choque nos possa ajudar a pensar o que podemos fazer de diferente no futuro para não perdermos os espaços que mais amamos na cidade”, completa a administração.