No cinema foi "Variações", papel que lhe valeu a consagração com o prémio Sophia e, agora, dá vida a Raul Benvindo, o antagonista da novela da TVI "Amar Demais". Aos 43 anos, Sérgio Praia conta com uma extensa carreira, um percurso que começou com o sonho de ser bailarino, quando ainda era criança.

Natural da praia do Furadouro, em Ovar, Sérgio Praia sempre ambicionou seguir uma carreira na dança, algo que não era bem visto nem pela família nem pelos que o rodeavam. Por isso, aos 15 anos, decidiu abalar para o Porto para dançar ballet. Não sem antes ter roubado 40 contos (200 euros) ao pai. O relato de uma vida extraordinária, contado na primeira pessoa no programa da TVI "Conta-me", conduzido por Manuel Luís Goucha.

variações sergio praia
variações sergio praia Sérgio Praia deu vida a António Variações no filme "Variações" créditos: Instagram

Depois de fugir de casa, Sérgio Praia viveu na rua, passou fome mas, a determinada altura, decidiu que estava na altura de voltar para casa. "Pensei que, se calhar tinha de fazer as coisas com mais calma. Independentemente de todos os problemas que tinha em casa, sempre tive comida. Sempre fui muito bem tratado, sempre tive uma cama lavada", relata o ator que, confessou a Manuel Luís Goucha ter "muito medo de não ter o que comer."

"Voltei a casa. Entreguei-me na esquadra de Valongo. O meu pai foi-me buscar e mandaram-me para um seminário durante uns meses para eu refletir sobre a minha vida e sobre as minhas escolhas e ali eu percebi que estava certo", relatou.

O ator de 43 anos foi, ao longo da entrevista, falando da relação complicada e distante que tem com a família, em particular com o pai e de como nunca falou com o progenitor sobre o passado. "Tentou-se conversar algumas vezes mas há coisas que não funcionam mesmo. Não vou dizer que sou completamente feliz mas, independentemente disso tudo, são os meus pais. No meio disto tudo, o meu maior sofrimento foi com o meu pai, sem dúvida alguma".

Sérgio Praia entrevistado por Manuel Luís Goucha
Sérgio Praia entrevistado por Manuel Luís Goucha Sérgio Praia entrevistado por Manuel Luís Goucha créditos: Instagram

A relação atribulada com os pais e os momentos menos bons estiveram ligados a dificuldades financeiras da família.  "O meu pai era uma pessoa muito violenta. A minha mãe não era. A minha mãe sofreu bastante naquelas mãos durante muito tempo. Eles têm uma vida maravilhosa. Isto foi um momento em que estivemos menos bem. Houve um outro momento em que fui muito bem tratado, em que eles me ajudaram financeiramente mas emocionalmente não há nada. Entre nós não funciona e quando não funciona o melhor é seguir em frente.", explicou.

"Comia o que encontrava na rua, às vezes"

Durante a fuga para o Porto, Sérgio Praia teve de sujeitar a uma vida onde o dinheiro não abundava. E, tal como relatou a Manuel Luís Goucha,  dormiu "em obras", em "sítios com muito mau ar". "O bom de trabalhar nas obras é que tu sabes como é que aquilo é construído de raiz", explicou, recordando o facto de, ainda criança, trabalhar com o pai na construção civil. Durante o período em que fugiu sozinho para o Porto, o ator dormia em barracões construídos pelos trabalhadores que serviam de apoio às obras. "Eu sei que em todas as obras aquilo existe. Eu procurava obras mais ricas para ter maior comodidade para dormir. Tinha um saquinho onde punhas as minhas coisinhas. Comia o que encontrava na rua, às vezes", recordou, explicando sempre teve "muita ajuda".

Questionado por Manuel Luís Goucha sobre se "valeu a pena", o ator é perentório. "Fazia tudo novamente. Eu sempre quis valer por mim. Não gosto de pedir nada a ninguém. esse foi o compromisso que fiz quando saí de casa". Sérgio Praia venceu em setembro passado o Prémio Sophia na categoria Melhor Ator pelo seu desempenho em "Variações".