Dizer que abriu uma pastelaria em Lisboa não seria notícia. Mas dizer que abriu A Pastelaria em Lisboa já é digno de nota. É que esta pastelaria faz realmente jus ao nome, uma vez que serve apenas pastéis, neste caso os pastéis de feira, típicos do Brasil.
A ideia foi de Carol Thomé, uma brasileira com saudade de pastel, e Pedro Bento, que, apesar de português, tem já um outro restaurante — A Lanchonete — que deve o nome aos trinta anos que o pai viveu no Brasil.
Sabiam que queriam abrir um negócio juntos, só ainda não sabiam de quê, até ao dia em que Carol parou para pensar naquilo de que mais sentia falta ao estar longe de casa. "Aquilo que eu sentia mais saudade de comer era pastel de feira e percebi que em Lisboa não havia. O meu interesse foi enquanto empreendedora, mas também como consumidora", conta à MAGG.
E se é de comida que falamos, Carol tem sempre uma palavra a dizer. É bom garfo, isso de certeza, mas é, acima de tudo, uma curiosa por tudo o que envolve o mundo da gastronomia. Veio para Portugal há três anos estudar a ligação entre a cultura gastronómica de Portugal e do Brasil. Projeto esse que deu até origem a um livro - "Portugal à brasileira".
"Os brasileiros falam da sua cozinha mas, se pensarmos bem, quase tudo o que comemos lá tem influência portuguesa", explica. É o caso do quindim, comenta a especialista, que mais não é que uma adaptação das Brisas de Lis, um bolo típico de Leiria feito com ovos, açúcar e amêndoa. "No Brasil não havia amêndoa e substituíram pelo coco". E o mesmo acontece com a tão típica feijoada brasileira. "Mais não é que uma adaptação daquela que vocês fazem cá com os cozidos e os enchidos", conclui.
Podíamos continuar esta conversa durante horas, que Carol tem sempre mais um detalhe a acrescentar sobre esta ligação entre países. E uma dessas curiosidades faz até parte do menu d' A Pastelaria.
Um dos recheios de pastel disponíveis chama-se "portuguesa", expressão que os brasileiros usam para uma mistura de fiambre, queijo, ovo cozido, cebola e azeitona. E mais uma vez, Carol tem uma explicação. "Quando os italianos emigraram para o Brasil, não tinham fornos para assar as pizzas e recorriam aos das padarias portuguesas. De alguma forma, começaram a rechear as pizzas com sobras de comida que os portugueses costumavam consumir como o fiambre, as azeitonas, o ovo. E assim nasceu o sabor 'português'".
Mas há mais. As mais tradicionais custam 2,50€ e são de carne ou de queijo. Mas também há de bacalhau ou palmito, a única versão vegetariana (3€).
Com apenas seis lugares no interior e dois na esplanada, a ideia aqui é pegar e levar. "No Brasil é muito comum que, pelo menos uma vez por semana, o almoço seja substituído por um pastel de feira comido na rua ou no mercado", conta Carol a recordar a sua vida em São Paulo. "Mas quem quiser ficar é bem vindo e até montamos a mesa de forma a toda a gente comer junta e de frente para a cozinha aberta", explica, ansiosa por ter mais gente a quem contar as suas histórias sobre comida.