No mercado, cuecas há muitas. E cuecas desenhadas à luz do corpo das pessoas transgénero? Aí, a oferta é bastante mais reduzida. Foi precisamente por causa dessa escassez (e quase inexistência, na sua opinião) que Giovanna Tavares criou a TloveT, uma marca de roupa interior dedicada a este público, tendo apresentado as suas criações no terceiro e último dia da ModaLisboa, 12 de março, à porta fechada.

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Além desta grande "falha" no mercado de lingerie para pessoas transgénero, a criação da marca teve motivos pessoais como alicerces. "Não havia nada que eu conseguisse comprar que se encaixasse ao meu corpo e que fosse minimamente bonito", conta Giovanna Tavares à MAGG.  E não havendo sucesso nesta procura incessante por "uma lingerie que fosse adaptável" e concebida para assentar nos corpos desta comunidade com a beleza que qualquer corpo exige, Giovanna decidiu lançar-se de cabeça.

Foi assim que nasceram as primeiras cuecas modeladoras da TloveT. Tendo o conforto (psicológico e físico) debaixo de olho, Giovanna explica que estas peças se diferenciam, entre muita coisa, pelo facto de serem revestidas de neopreno, um tecido isotérmico que vai ajudar a que as partes íntimas não fiquem aquecidas. Além disso, este modelo conta com uma parte inferior mais espaçosa, servindo o objetivo primordial de compressão, "para conseguir disfarçar o órgão genital" de quem as usa.

giovanna tavares
Giovanna Tavares, na ModaLisboa. créditos: Divulgação

A par de dar conforto às mulheres que não se submeteram à cirurgia de redesignação sexual, Giovanna tinha outro aspeto em mente: a sensualidade, que também parecia estar em falta, perpetuando o tabu de que só há "peças feias" para pessoas transgénero. Por isso, as cores, os adornos a puxar para a renda e o facto de ainda se munir uma prioridade adelgaçante, culminando numa silhueta mais feminina, foram escolhidos a dedo para que os clientes se sentissem mais confiantes.

Pelo menos, este era o objetivo. E apesar de ter sido lançada há pouco mais de um mês, a 18 de fevereiro, parece que a TloveT já se tem distinguido por conseguir cumpri-lo. "Muitas [clientes] dizem-me que a primeira coisa que traz é conforto, depois é sensualidade. Sentem-se mais femininas e confiantes, porque sentem que têm algo pensado para elas e isso já causa um conforto maior", explica Giovanna. "Mas, sobretudo, sentem-se representadas, que é muito bom", remata.

"Se a representação desta comunidade é a pedra basilar do negócio, ter feito um desfile de apresentação secreto acaba por ser contraditório, não?". Sabemos que esta é, provavelmente, uma das perguntas que devem ecoar na sua cabeça – e Giovanna deu-nos a resposta. "Isto foi uma estratégia", revela, acrescentando que "a ModaLisboa acabou, mas o burburinho continua". E foi precisamente esse frenesim que já virou todas as atenções para o lançamento das peças e, consequentemente, para a comunidade.

"O meu sonho era tirar esse público do submundo e trazer para a sociedade em si", frisa Giovanna. E a ModaLisboa, ainda que à porta fechada, foi o veículo mais impactante que encontrou para fazê-lo. "É o maior evento de moda do País. Sabemos as dificuldades que temos em ter pessoas trans nesses locais e o que eu quis fazer é isso: trazer do submundo", conclui.

Espreite as peças.