Sempre ouvimos dizer que, através das peças que criam, consegue perceber-se se um designer ama as mulheres a quem estas se destinam – e, dúvidas houvesse, a nova coleção de Gonçalo Peixoto, que fechou o segundo dia de desfiles da ModaLisboa, este sábado, 9 de março, é mais uma prova de que o designer de Famalicão nutre sentimentos fortes pelas mesmas.
Aliás, está tudo no nome da coleção. Chama-se For Love e é "uma carta de amor às mulheres" da sua vida – a mãe, às amigas, a todas as que lhe são mais próximas –, contou à MAGG num dia especialmente simbólico, o Dia da Mulher, que se celebrou na sexta-feira, 8 de março, ainda antes de as novas peças marcarem presença no Pátio da Galé.
Foram essas mulheres que se sentaram nas primeiras filas do seu desfile (o squad, como lhe tem chamado ao longo da última década) e que vieram vestidas a rigor. Umas com peças da coleção passada, como Bárbara Inês ou Alice Trewinnard, outras a embandeirar em arco aquilo que estava prestes a entrar na passerelle, como foi o caso de Bárbara Bandeira ou Rita Pereira, elas sempre foram o seu ponto forte.
Quiçá, a esta grupeta poderá juntar-se mais uma: Blogueirinha, a sensação brasileira com mais de 4 milhões de seguidores no Instagram que o criador conseguiu trazer do outro lado do oceano para ver o seu desfile. Este é um reflexo da tentativa de internacionalização da marca, que tem estado a levar a cabo. Depois de conseguir vestir personalidades de peso como Rita Ora, Bad Gyal, Valentina Zenere, Camila Coelho e Giovanna Ewbank, conquistou a influenciadora brasileira mais controversa, interpretada pelo comediante Bruno Matos.
E tudo começou com uma questão, feita pelo melhor amigo do designer: "E se convidássemos a Blogueirinha para a Modalisboa? E se fizéssemos o convite à equipa?", explica-nos Gonçalo Peixoto, acrescentando que descredibilizou a ideia, uma vez que tinha a convicção de que seria impossível de materializar. Mas aconteceu.
"Eu amo o Brasil, passo todas as Passagens de Ano lá e fazia sentido esta internacionalização e trazermos uma estrela internacional", continua. "A marca em Portugal cresce com influenciadoras, com as blogueiras, e se estou aqui hoje é porque elas, de alguma maneira, abraçaram a marca e acharam que fez sentido partilhá-la", afirma, acrescentando que "fazia todo o sentido trazer a Blogueirinha, uma pessoa que é tão grande lá".
"Sou a maior blogueira do mundo, sou até famosa em Marte", responde de forma cómica, como é seu apanágio, a convidada do designer, em conversa com a MAGG. Depois, em tom mais sério, fala sobre esta oportunidade. "Primeiramente, só de ter recebido o convite, para mim, foi incrível. Fiquei muito lisonjeada, porque no Brasil só grandes marcas fazem isso com grandes influenciadores também", reitera.
De seguida, foi pesquisar um pouco mais sobre a insígnia e, para sua surpresa, achou que tinha tudo a ver com ela e, no geral, com a vibe das "blogueiras que tem no Brasil". Foi por isso que voou até Portugal e, este sábado, 9 de março, se sentou na fila da frente daquele que é um dos desfiles mais cobiçados do evento de moda da capital portuguesa.
Voltando à arte de Gonçalo Peixoto – a carta de amor que foi a For Love, diga-se. Apresentada ao som de um remix subversivo de canções de Rosalía, cantora espanhola por quem sempre mostrou apreço publicamente, vimos um designer mais maduro e confiante naquilo que faz, trazendo novidades para o outono/inverno que se avizinha.
Sim, continua a haver brilhos, flores e transparências até dizer chega, não fosse esta uma das suas imagens de marca. Contudo, não foram essas peças que provocaram especial surpresa, mas aquelas que piscam mesmo o olho aos dias frios. Estamos a falar dos vestidos com capuz, dos sobretudos compridos com apliques ou sem, dos fatos coordenados e dos bomber jackets – tudo peças que precisamos de ter no armário para ontem, portanto.
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"Fazendo isto quase há 10 anos e tendo o meu público aumentado e crescido como eu, estamos todos numa nova fase da nossa vida", explica-nos Gonçalo Peixoto, quando questionado sobre a que se deve esta nossa sensação, que, na altura da entrevista, tinha sido alimentada por comentários que fomos ouvindo de quem dele é próximo. "É mais madura, porque acho que é mais delicada, claramente sexy – porque é o Gonçalo – mas, ao mesmo tempo, forte e para mulheres confiantes", confirma.
O melhor de tudo? À semelhança das coleções anteriores, continuam a ser feitas à mão. "Eu prezo muito este trabalho manual, por isso as peças foram completamente feitas dessa forma", avança, acrescentando que é um amor que foi bebendo das avós, a quem a carta de amor que é a For Love também é endereçada.
E apesar de sempre ter assumido as coleções de verão como as suas prediletas, esta parece ter vindo mudar o paradigma. "Esta coleção foi uma lufada de ar fresco na minha carreira, deu-me muito gozo fazer isto", declara. "Porquê?", perguntámos. E a resposta é simples: além de as vender em conjunto, o criador acha "que funcionam" em separado. "São fáceis de conjugar no dia-a-dia e foi esse um dos desafios: transformar peças que, em styling, possam parecer muito extravagantes, mas depois, se as tirarmos, consegues ir com aquele casaco, aquelas calças, aquela camisa a qualquer lado".
