Nas ruas de Sarajevo, capital da Bósnia, Rita Braz descobriu um graffiti onde se lia "Q Revolt". Na altura a viajar com uma amiga sueca pela Croácia e Bósnia, a jovem de 29 anos já andava a magicar um projeto fotográfico só com mulheres. "O nome surgiu aí", conta à MAGG a diretora de arte e fotógrafa.
Das paredes de Sarajevo para o mundo, o Q Revolt de Rita Braz é um trabalho fotográfico que reúne 100 mulheres que gostam de mulheres. O trabalho chega esta sexta-feira, 20 de abril, à Tara Gallery, na Praça da Figueira, onde vai estar até domingo, 22. Com diferentes idades, estas mulheres são de sítios tão distintos como Lisboa, Nova Iorque, Berlim, Viena ou Amesterdão. E o que é que têm em comum, além de gostarem todas de mulheres? Tudo e nada.
"Com este trabalho fotográfico quis tentar mostrar a diversidade de mulheres homossexuais. E tentar quebrar um bocadinho o preconceito — há muito aquela ideia da mulher máscula, em que eu e a minha amiga não nos enquadrávamos minimamente."
Umas são loiras, outras morenas. Uma são altas, outras baixas. Umas têm um estilo mais alternativo, outras nem por isso. No fundo são apenas mulheres que, por acaso, gostam de outras mulheres. Isso não as torna diferentes das mulheres heterossexuais, assexuadas ou de qualquer outra orientação ou caracterização sexual. Não há um único traço que as distinga, um estilo, forma de estar, roupa ou maneirismo.
"Queríamos mostrar que não eram todas másculas ou como na série 'A Letra L'. E foi assim que começou."
Rita Braz não se lembra da primeira pessoa que fotografou para o Q Revolt. Sabe que deverá ter sido alguém em Berlim, onde vive desde 2010, mas não se recorda exatamente de quem foi. Também não seria naquele ano que veria o projeto concluído.
"Eu fotografo tudo em analógico, e na altura não consegui ter o financiamento necessário para continuar a fotografar e a viajar para conhecer mais pessoas. O projeto acabou por ficar em standby."
No ano passado, em conversa com amigos, Rita Braz decidiu que talvez fosse uma boa altura para voltar ao trabalho fotográfico. Através do Kickstarter iniciou em abril uma campanha de crowdfunding, onde conseguiu angariar 5.656€. "Foi muito interessante ver pessoas que não me conheciam de lado nenhum a gostarem da ideia e a querer contribuir", conta. "Queriam ver mais."
Quase tão importante quanto isso, Rita começou a receber também contactos de mulheres que gostavam de ser fotografadas. A maior parte das sessões aconteceram no ano passado. "Antes disso, devia ter umas 15 ou 18 mulheres."
Houve uma pessoa que me disse uma coisa que me marcou imenso: 'Gostava de ter visto um projeto assim quando estava a crescer. Se calhar ter-me-ia ajudado a sair 'do armário' mais cedo'."
Hoje são 100 fotografias de mulheres, tiradas em Berlim, Estocolmo, Amesterdão, Hamburgo, Viena, Lisboa, Porto e Nova Iorque.
"No início eu queria mostrar diversidade. Mas ao longo do projeto as coisas foram evoluindo. Houve uma pessoa que me disse uma coisa que me marcou imenso: 'Gostava de ter visto um projeto assim quando estava a crescer. Se calhar tinha-me ajudado a sair do armário mais cedo'."
Aquela mulher de nacionalidade holandesa, com "37 ou 38 anos", cresceu numa comunidade pequena. E apesar de saber que gostava de pessoas do mesmo sexo, não se identificava com a ideia de lésbica que a sociedade lhe impunha. Não tinha nada a ver com ela. Se tivesse visto o projeto de Rita Braz, teria imediatamente percebido que tal coisa não existe.
"Percebi que uma parte muito importante do projeto era também um certo empowering de mulheres que ainda se estão a descobrir. E que não têm de seguir um determinado estereótipo só porque têm uma sexualidade diferente."
Em outubro do ano passado, Rita Braz expôs pela primeira ao público o Q Revolt numa galeria em Berlim, a Studiolo. Nessa altura apresentou também o livro, que vai estar à venda na Tara Gallery, em Lisboa. Custa 34€, mas esta sexta-feira, 20, está com 30% de desconto. Em qualquer altura pode ser adquirido online.