Experimente colocar as palavras grávida e sushi no seu motor de busca na internet. Apostamos que a pergunta “as grávidas podem comer sushi?” se irá replicar dezenas de vezes no ecrã e nem sempre a resposta será a mesma. Mais, se está grávida ou se já passou por esta experiência, é muito natural que se tenha dado conta da polémica à volta deste tema em fóruns de gravidez ou grupos de mães nas redes sociais. Afinal o que é mais seguro?

Peixe cru e gravidez: uma combinação a evitar

Nem todo o sushi é sashimi (fatia fina de peixe cru). Porém, é inegável que o peixe não cozinhado é geralmente a base da comida servida nos restaurantes japoneses em Portugal e exatamente o que deve ser evitado durante a  gravidez.

“O sushi não deve fazer parte da dieta das mulheres grávidas, que só devem comer alimentos de origem animal devidamente cozinhados para evitarem a contaminação por bactérias, vírus e parasitas”, diz à MAGG Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal .

Já existem vários restaurantes de sushi espalhados pelo país com menus feitos à medida das futuras mães. São alternativas com frutas e legumes desinfetados, por exemplo, e estes são alguns locais onde os pode encontrar:

Mangá Sushi House
Rua da Cedofeita, 1
Porto
Tlm. 913 089 582

Sushic Almada
Avenida Henrique Barbeiros, 5A
Almada
Tlm. 918 400 649

A Loja no Restelo
Rua Duarte Pacheco Pereira, 28B
Restelo
Tel. 213 011 441

Os parasitas referidos pelo especialista, em que podemos incluir um verme chamado anisakia hematodes muito presente nos peixes de mar (e que, ingerido por humanos, pode levar a uma infeção que invade as paredes do estômago ou os intestinos sendo fatal em casos extremos), são destruídos pelo calor da cozedura e até mesmo pela congelação prévia do peixe antes de ser consumido. No entanto, esta prática de congelação do peixe não é muito comum na tradição japonesa (e, consequentemente, nos restaurantes que levam mais à risca os costumes nipónicos), já que pode mudar a textura e o paladar do peixe.

Existem peixes cujo consumo deve ser evitado ou reduzido durante a gestação. O atum e o peixe-espada, por exemplo, são peixes que acumulam nos seus tecidos gordos o mercúrio que absorvem das suas presas na sua forma mais tóxica (metilmercúrio), sendo que este elemento pode provocar alterações graves no desenvolvimento cerebral dos fetos. No entanto, não há razão para desespero se está grávida com desejos de sushi. Já existem vários restaurantes com menus elaborados especialmente a pensar nas grávidas, sem recorrer a peixe cru e a outros ingredientes perigosos. Prefira restaurantes de qualidade para se certificar que as frutas e verduras utilizadas no sushi são convenientemente lavadas e preparadas e, desde que se tratem de peças cozinhadas, não há nada a temer.

A confusão com a toxoplasmose

Muitas vezes o motivo para o não consumo de sushi no período da gestação aparece ligado, injustificadamente à toxoplasmose. Mas esta nada tem a ver com peixe cru. “O sushi não é um alimento potencialmente portador do Toxoplasma gondii, o agente causador da toxoplasmose”, salienta Luís Graça. O portador desta infeção são os ovos do parasita, que se reproduzem apenas nas células que revestem o intestino dos gatos, encontrando-se então os ovos do toxoplasma gondii nas fezes destes animais.

A transmissão da infeção pode ocorrer aquando da ingestão de alimentos crus ou mal cozidos que contenham a forma inativa do parasita ou após o contacto com terrenos que contenham ovos nas fezes dos gatos (se tem um gato em casa, tenha especial cuidado com a limpeza da areia para evitar a contaminação). O parasita pode ser encontrado em alimentos como carne crua e mal passada; carnes defumadas não cozidas como bacon, mortadela e presunto; bifes e patês de fígado; frutas, legumes e verduras não lavadas e água não filtrada ou sem ser fervida.

A toxoplasmose torna-se mais grave na gravidez dado que, se uma mulher grávida for infetada, esta doença pode ser transmitida ao feto através da placenta, podendo causar um aborto espontâneo ou a ocorrência de toxoplasmose congénita. Em Portugal, existem dados que apontam para uma prevalência da infeção de cerca de 60 por cento na população com idade superior a 30 anos.

*texto originalmente publicado em 2018 e adaptado em 2022.