Em 2017, Michelle Carter foi condenada a 15 meses de prisão por homicídio involuntário após ser considerada culpada da morte do namorado, Conrad Roy III. A HBO pegou no caso e fez um documentário, "I Love You, Now Die". A primeira de duas partes estreou-se esta terça-feira, 9 de julho.
Mas recuemos até 13 de julho de 2014, dia em que Conrad, de 18 anos, foi encontrado morto dentro do próprio carro. Ao que foi possível apurar na altura, tratava-se de um caso de suicídio por inalação de monóxido de carbono, mas as mensagens trocadas com a namorada alteraram o rumo da história.
O jovem casal trocou cerca de 60 mil mensagens durante dois anos de namoro, e em algumas delas era possível ver Michelle Carter a incentivar o namorado a cometer suicídio, visto que estava a atravessar dificuldades. A jovem agora de 22 anos foi condenada a 15 meses de prisão, pena que está a cumprir desde fevereiro deste ano.
Mas afinal, quem é este Conrad Roy III? O que o levou ao suicídio? De acordo com a "Oxygen", o jovem tinha apenas 18 anos, tinha acabado de terminar o secundário e tirado a licença de capitão, na Northeast Maritime , para poder estar mais perto da sua paixão — o mar. Mas acontece que a separação dos pais e a relação com Michelle levaram-lhe tudo.
A paixão pelo mar
Ao que parece, este amor pela água vem de família. No primeiro episódio do documentário, o avô de Conrad emociona-se ao relembrar o dia em que levou o neto ao mar pela primeira vez, com apenas 3 semanas de vida.
Já o pai de Conrad via uma possível carreira do filho no mar: "A nossa família trabalha na água e brincamos na água". Em 2014, o jovem acabou o secundário com notas excelentes e até tirou a licença de capitão, mas não chegou a aproveitá-la como seria esperado.
A luta contra a depressão e ansiedade social
À medida que vamos crescendo, vamos lidando com situações que nos causam muito stresse e ansiedade. O mesmo aconteceu com Conrad Roy III que, segundo a sua família, citada pela "Oxygen", começou a lutar contra a ansiedade social e depressão.
Prova disso são os vídeos que o jovem começou a gravar, um mês antes de se matar, e que aparecem ao longo do documentário. "Para mim, parece que a ansiedade social está a sobrecarregar a minha vida. A primeira coisa que quero fazer é ser mais pró-ativo num ambiente social, tentar conversar da melhor forma possível e ter mais confiança em mim", disse num vídeo que é mostrado no documentário da HBO.
Em dois vídeos partilhados pelo site "Masslive", é possível ouvir Conrad a falar sobre os seus problemas emocionais e psicológicos. "Eu tenho olhado para mim de uma forma tão negativa. Sou apenas uma minúscula partícula na face da Terra. Nunca serei bem sucedido. Nunca vou ter uma vida, mulher ou filhos", afirmou.
No entanto, o jovem sabia que tinha que superar esses sentimentos negativos e que tinha pessoas que gostavam dele. "Tenho muito a oferecer a alguém. Sou um bom miúdo. Há pessoas que me amam. Tenho uma ótima mãe, um ótimo pai, mas estou tão deprimido. Sinto que sou diferente de todos os outros, como se houvesse algo errado comigo", desabafou.
A mãe do jovem, numa entrevista ao "48 Hours", chegou a dar conta de que o filho era o seu maior crítico. "Ele era duro consigo mesmo", afirmou. A depressão e a ansiedade de Conrad eram tão grandes que se tentou matar em 2012 através da ingestão de comprimidos, de acordo com a "Oxygen".
Os problemas em casa
Uma das razões que podem ter levado Conrad a este estado de depressão e, consequentemente, ao suicídio, foram os problemas em casa e a separação dos pais. No documentário, os pais do jovem revelaram isso mesmo, uma vez que tinham reparado no baixo rendimento do filho na escola.
"Nós não notámos isso imediatamente. As notas dele estavam a descer e ele dizia que não estava a conseguir focar-se", afirmou o pai, Conrad Roy Jr..
Também havia bastante tensão e desacatos em casa. De acordo com o "Boston.com", a mãe do rapaz chegou a ser presa por violência doméstica em 2011. Em 2013, de acordo com a "Oxygen", a polícia voltou a ser chamada a casa da família por mais desacatos.
Segundo a mesma publicação, os pais de Conrad apanharam-no uma vez a lutar na escola e foi a partir desse dia que o levaram a um psiquiatra. A família achou mesmo que essas intervenções estavam a ajudar o jovem: "Parecia que estava tudo a melhorar", afirmou o pai.
A relação com Michelle Carter
Foi em 2012, durante uma visita à tia-avó, que Conrad Roy III conheceu Michelle Carter. A ligação foi imediata.
De acordo com a "Oxygen", o casal morava em Massachusetts, nos Estados Unidos, a uma hora de distância. No entanto, só se encontraram pessoalmente cinco vezes. A relação funcionava online, à base de troca de mensagens. Aliás, a cronista da "New York Magazine", Marin Cogan, afirma no documentário que se tratava "de um romance completamente moderno, praticamente só online".
Na opinião desta cronista, este relacionamento foi "totalmente destrutivo para a saúde mental". Ambos os jovens sofriam de problemas mentais. Como já mencionado, Conrad tinha tentado o suicídio e andava a tomar antidepressivos. Já Michelle tinha sido hospitalizada após um distúrbio alimentar e também tomava antidepressivos.
Há algum tempo que Conrad pensava em suicídio. A 13 de julho de 2014, com o incentivo da namorada, foi até ao fim.