Veríssima atravessava a rua com um alguidar quando nos viu de olhar confuso a olhar para a porta. Afinal, como entramos na Casa da Moira, em Avis? Veio em nosso auxílio, confirmou a reserva e logo abriu a porta ao lugar encantado que nos acolheu numa noite fria de inverno (que, adiantamos, nem sentimos). Logo à entrada, na sala comum, há uma lareira acolhedora e que é replicada nas suites master, como aquela onde ficámos.

A funcionária mais antiga da Casa da Moira levou-nos por entre os corredores da antiga casa do século XVII, decorada a preceito por Maria João Tenreiro, mulher de João Tenreiro e também proprietário do alojamento em Avis. O projeto começou com a reabilitação de uma antiga casa que seria para a família, mas o casal não resistiu à ideia de receber hóspedes, como aconteceu em maio de 2016 e, mais tarde, quando a família de hóspedes começou a aumentar, adquiriram a casa mesmo em frente, igualmente antiga, para, a partir de 2018, ano da inauguração do segundo edifício da Casa da Moira, alojar mais pessoas junto da paz alentejana.

Maria João tem 58 anos e João, 65, e desengane-se se pensa que são alentejanos que quiseram dar a conhecer a sua terra. São antes dois apaixonados por Avis que deixaram a vida em Cascais para bem receber e dar a conhecer a vila. "Vivíamos em Cascais e vínhamos cá para casa de um amigos que recuperaram uma casa em 2010 ou 2012 e começaram a convidar-nos com frequência para passar o fim de semana", começa por contar João, agrónomo, à MAGG. "Muitas vezes, a minha mulher estava a trabalhar no banco, e eu ligava-lhe: 'Olha, estão a convidar-nos para vir passar o fim de semana a Avis'. E ela: 'Vamos embora que estou farta do vento de Cascais e do Guincho'", continua.

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De fins de semana de dois dias passou a fins de semana prolongados, depois a semanas, até que, foram desafiados pelos mesmos amigos a comprar uma casa. Demoraram um ano a amadurecer a ideia, mas lá decidiram vender a casa de Cascais e ir para Avis com um objetivo: ter mais qualidade de vida e ter uma "casa maior para estar com os filhos, netos e receber amigos", diz João.

Pois bem. O plano saiu fora do que estava previsto porque tanto João como Maria João adoram receber pessoas em casa e, mais uma vez seguindo a sugestão dos amigos, pensaram deixar um ou dois quartos para hóspedes. Em vez de um ou dois começaram a alugar três e, como "a coisa correu bem", continuaram a expansão. Hoje em dia são já 11 quartos, dos quais sete são suites master (com sala e quarto, todas com lareira) e quatro suites juniores (com sala unida ao quarto) distribuídos entre os dois edifícios, ambos com uma piscina que serve os hóspedes.

Na primeira casa a ser recuperada existe ainda uma esplanada na qual são servidos os pequenos-almoços no verão (no inverno servem-se na segunda casa restaurada), com vista para 13 vilas alentejanas, entre elas Galveias, conhecida como a freguesia mais rica do país. Também no lado mais antigo do projeto iniciado em 2016 fica o salão para os jantares aconchegantes — como tivemos oportunidade de sentir e agora contar.

A lareira dá luta, mas nós também

Quando Veríssima nos levou ao quarto, por entre corredores que desconhecíamos por completo, pensávamos que ainda não tínhamos chegado ao sítio certo. É que ao entrar no número sete, posicionámo-nos num extenso corredor e cama nem vê-la.

Até que Veríssima lá nos elucida numa espécie de visita guiada na qual aponta para a sala, com lareira, para o closet — sim, um closet só nosso, durante uma noite, com pouca roupa para pendurar—, para o quarto com uma majestosa cama alta e para a casa de banho que quebrava com a restante decoração marcada por tetos ornamentados e móveis antigos, alguns de família. As paredes eram todas em azulejo moderno preto e ao lado de um aquecedor (temos de o dizer: nunca soube tão bem ir a uma simples casa de banho), uma cadeira antiga e elegante.

Instalámo-nos e o espaço no qual passámos mais tempo foi na sala por um simples motivo: a lareira. Pedimos ajuda para a acender ao final do dia, prontamente cedida por um dos funcionários, e durante o resto da noite estivemos em luta.

Ora mais lenha, ora mais uma acendalhas, ora deixa cá acender mais um fósforo para fazer mais fogo. Deu luta, mas resistiu umas boas horas, embora tivesse vencido a batalha: antes de irmos dormir apagou-se, mas ainda fez chama de presença durante um episódio de uma série na Netflix, acompanhado de um copo de vinho.

Jantámos em família e sentimo-nos assim

A Casa da Moira não tem restaurante. Se quisermos falar em carta, que seja a das perguntas: "O que é o jantar hoje?"; "Já é hora de ir para a mesa?"; "Pode passar-me mais um pouco de salada?". As respostas variam e, pelo menos no dia em que jantámos, à primeira questão anunciaram: caldo verde, carne de vaca, com molho caseiro e batata frita a acompanhar, e bacalhau à Brás cremosamente no ponto (opção adicional para nós que não comemos carne). Tudo acompanhado de uma salada, como em casa, e feito por João, sendo que a sobremesa ficou a cargo de Maria João: a encharcada alentejana.

A juntar à refeição tínhamos vinho quanto quiséssemos e companhias várias: uma família de hóspedes numa mesa grande, outra mesa com os proprietários e nós ali bem pertinho. 

E apesar de sentados em mesas diferentes, antes de sermos chamados para a mesa, hóspedes e anfitriões juntam-se em redor da lareira entre conversas sobre tudo e nada, um queijinho aqui, um pedaço de pão alentejano ali, o vinho acolá e a Menta, a cadela da casa, com sítio fixo: em cima do nosso colo até a sopa ser servida. O jantar, com entrada, sopa, prato, sobremesa e bebidas custa cerca de 35€.

O mesmo ambiente é levado para o pequeno-almoço, ainda que com menos animação porque é de manhã e cada um tem o seu ritmo (e para os mais demorados ajuda o silêncio que se faz ao acordar). O que não demora é o pão ainda quente e os croissants a chegarem à mesa, assim como o queijo, fiambre e compotas caseiras para guarnecê-los e o sumo de laranja natural e café acabado de fazer para acompanhar. Esta é a base, mas pode ainda pedir iogurte, ovos mexidos ou panquecas.

No fundo, tudo o que é necessário para explorar Avis, em particular a praia fluvial do Complexo do Clube Náutico de Avis (de especial destaque no verão), o Centro Interpretativo da Ordem de Avis e ainda os passeios de balão ou de barco ou as provas de vinhos e azeite que pode solicitar junto da Casa da Moira.

Uma noite custa a partir de 140€ para duas pessoas, com pequeno almoço. Pode reservar aqui.

Casa da Moira

Localização: Largo Dr. Sérgio de Castro, 1, 7480-119 Avis
Reservas: +351 242 412 059/ +351 916 834 818/ +351 916 185 011/ info@casadamoira.com

*A MAGG visitou a Casa da Moira a convite do alojamento.