O mais comum é tirar-se um ano para dar a volta ao mundo só porque sim ou para fazer um Interrail pela Europa. Menos habitual é passar um ano em lua de mel, em vez de ir somente para um destino paradisíaco. E foi isso que Fabiana e Sandro decidiram fazer. Casaram em setembro de 2021 e os planos pós casamento começaram ser projetados muito tempo antes: queriam dar a volta ao mundo.
"Esta ideia já surgiu há alguns anos, só que era só um sonho. Queríamos muito fazer isto, mas nunca dávamos o passo, nem tínhamos esse objetivo. Até que aí há dois anos para cá começámos a pensar: 'Se queremos muito fazer isto, vamos lutar'. Começámos a dizer aos nossos amigos, à família e começou a tornar-se mais real", começa por contar Fabiana Saraiva, de 32 anos, à MAGG e o marido, Sandro Gomes, de 39, continua. "Achámos que a lua de mel seria a época perfeita, porque assim era mais um motivo para fazer uma viagem inesquecível", diz.
Ambos são enfermeiros e trabalhavam em Inglaterra antes de explorarem o mundo na companhia um do outro. Para o fazerem, não só deixaram as profissões — Sandro tirou uma licença sem vencimento de 15 meses e Fabiana despediu-se por ter quatro trabalhos diferentes, mas tem a "certeza de que quando voltar a Inglaterra" tem emprego — como tudo aquilo que tinham para trás.
"Tínhamos um apartamento alugado, com mobília nossa, e tínhamos o carro também, que comprámos em segunda mão lá. Basicamente foi tudo isto que vendemos", explica Fabiana.
Ao desfazerem-se da mobília e do carro, o objetivo não era conseguir dinheiro para a viagem, mas sim "não deixar nada para trás e não ter despesas correntes em Inglaterra, porque dificultava mais a viagem", refere Sandro. Todavia, largar tudo foi "um risco calculado". "Sabemos que temos boas condições para voltarmos à vida que tínhamos antes", continua.
Lua de mel com pandemia e uma só regra: seguir para onde é fácil entrar
Fabiana e Sandro partiram para o primeiro grande destino a 19 novembro (depois uma simbólica e curta lua de mel na Sardenha, ilha italiana no mar Mediterrâneo), que não foi, como dizem, uma escolha própria. Foi sim o destino que escolheu devido às circunstâncias da pandemia. "A ideia seria ir para o sudeste asiático, Austrália e Nova Zelândia, era este o nosso grande sonho. Mas como os países estavam ainda fechados, fomos para o outro lado, para a América do Sul e Central, e decidimos mesmo uma semana e meia antes de irmos", conta Fabiana.
A partir do primeiro ponto, o Peru, os países seguintes foram escolhidos segundo um critério facilitador de viagens à escala atual: em qual é que não é preciso entrar com teste à COVID-19 e quarentena obrigatória? No fundo, todos os que foram partilhando ao longo dos últimos meses no Instagram, plataforma em têm crescido e na qual contam já com mais de 17 mil seguidores apaixonados por esta volta ao mundo romântica.
"Criámos a conta no primeiro dia de verão, em 2021, quando já tínhamos deixado os nossos trabalhos e sentíamos que a aventura ia começar. Achámos por bem começar esta página porque tínhamos imensos amigos em Inglaterra, e mesmo para os nossos amigos em Portugal, e assim era uma forma de partilhar tudo. E, claro, partilhar um bocadinho com o mundo que é possível lutar por um sonho e realizá-lo", diz Fabiana.
Ao gosto por viajar juntaram o pela fotografia, área em que não têm formação. Tudo o que fazem é de forma orgânica e com base em alguns tutoriais. Depois de captados e editados os momentos, partilham no Instagram, tarefa que tem sido fácil dado o bom acesso à internet na maioria dos destinos por onde já passaram.
De anel no dedo, já passaram por sítios como a Colômbia, México, Panamá e Guatemala — último onde tiveram uma das mais desafiantes experiências: a caminhada ao Vulcão Acatenango — e a lista de destinos (assim como da inveja que vão espalhando pelas redes sociais) vai continuar.
Fazer a mala é fácil e entusiasmante. E quando for altura de desfazer?
O próximo destino do casal foi marcado no dia da entrevista com a MAGG, no início de abril. Será Singapura, no continente asiático. Apesar de mais próximos do ponto de partida que tinham idealizado, já não vão poder passar pela Austrália e Nova Zelândia, e isso deve-se a uma boa causa: têm cumprido o sonho como deve ser.
"A América do Sul e Central são sítios um bocadinho mais caros do que tínhamos calculado para o sudeste asiático. E depois, estando lá, quisemos aproveitar as experiências e as contas descambaram ali um bocadinho", refere Fabiana entre risos.
O objetivo é acabar a volta ao mundo em lua de mel em outubro e voltarem a seguir as vidas normais. Ainda não têm uma data definida para voltar a Inglaterra, sabem apenas que vão começar do zero. Fabiana não está assustada com o regresso, até porque vai ser à semelhança do que aconteceu em 2012, ano em que foram à procura de uma oportunidade e rapidamente conseguiram trabalho. Já Sandro está com alguma ansiedade.
"Profissionalmente, estou muito feliz de estar em Inglaterra. Pessoalmente, claro que preferia viver em Portugal ou ter um estilo de vida que permitisse usufruir mais do bom tempo. Só que às vezes é difícil ter o melhor de dois mundos", diz Sandro. Pelo menos, no regresso, levam o melhor de alguns pontos de um só mundo, o planeta Terra, que têm percorrido.
Mais do que uma viagem romântica com o mote do casamento, esta foi uma aventura em que Fabiana e Sandro quiseram cumprir um sonho, mas também testar um modo de viagem focado no contacto com as culturas locais e não em picar pontos — chegaram a ser "adotados" por uma família no Panamá na altura do Natal — e ter algum tempo para os que lhes são próximos.
"Queríamos este tempo também para parar, para aproveitar o melhor que a vida tem: as pessoas de que gostamos e as experiências que vamos tirando dos países que visitamos", refere Fabiana. "Era mesmo disto que estávamos à procura: sentirmo-nos vivos com experiências autênticas. Mais do que viajar por países diferentes", remata.