Passar por baixo de escadotes, descer da cama com o pé esquerdo ou ver um gato preto. Pelo mundo, existem inúmeras superstições que pairam sobre as várias culturas como se de uma nuvem negra se tratassem – e esta sexta-feira, 13 de outubro, é uma delas.

Está a perceber do que estamos a falar, certo? Bem, está tudo na frase anterior, mas nós explicamos. Ainda que o último dia da semana seja símbolo de descanso – ou de festa, já que antecede o fim de semana –, estamos a passar por mais uma sexta-feira 13, aquele dia em que o mal, alegadamente, está ao virar de cada esquina, mesmo que não saibamos bem porquê.

Se nunca se debruçou sobre o assunto, talvez esteja na altura de fazê-lo. Há quem o considere um bom sinal, outros já acreditam que a junção destes dois algarismos seja mau agoiro. Mas já parou para pensar porque é que o 13 é um dos números (senão o único) que é alvo de opiniões tão díspares?

A MAGG foi saber mais sobre o assunto e conversou com Sandra Costa, astróloga e especialista em Psicoterapia Somática em Biossíntese. A especialista explicou-nos, entre muita coisas, de onde surgiu a associação deste número ao azar, bem como à sorte, e os seus respetivos significados. E de uma coisa temos a certeza: há muitas respostas, mas não há respostas certas e/ou incontestáveis.

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Sandra Costa, Astróloga e Psicoterapeuta em Psicoterapia Somática em Biossíntese.

Como (e onde) é que se começou a associar o número 13 ao azar?

"De um modo geral, foi no ocidente que o 13 começou a ser encarado como um número de azar", responde de imediato Sandra Costa. "Essas raízes podem ser detetadas nos antigos mitos europeus, mas foi somente mais tarde, no século XVII, na Europa, que esse número veio a ser considerado nefasto", acrescenta.

E, de facto, há estudos que sustentam esta teoria. O autor Nathaniel Lachenmeyer defende numa das suas obras, "13: The Story of the World's Most Popular Superstition" (a história da superstição mais popular do mundo, em português), que as primeiras evidências da origem desta conotação negativa remontam precisamente a esse século, altura em surgiu uma das superstições mais conhecidas de sempre: se 13 pessoas se sentarem numa mesa, uma delas morrerá dentro de um ano.

Ainda que não haja consenso sobre o motivo que levantou esta superstição, pensa-se que poderá estar relacionada com a Última Ceia: Jesus sentou-se com os 12 discípulos à mesa e no dia seguinte foi crucificado, após ter sido traído por Judas. Depois disto, foi um pulinho até o número 13 ficar com má fama durante os séculos seguintes, aparecendo mais superstições à sua volta – como não ter 13 moedas no bolso, não viver no 13.º andar de um prédio e não ficar no quarto 13 de um hotel.

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Mas esta ideia também foi difundida porque, durante o século XVII, segundo a terapeuta, estavam a decorrer vários acontecimentos, "nomeadamente a caça às bruxas, com a Inquisição". "Acho que a Inquisição tem um papel muito grande, porque o que eles queriam era encontrar motivos para matar pessoas", conta.

Por isso, "sendo que o mito do azar surgiu na Europa", nós, sendo portugueses, vamos beber dessa crença, conclui. E não somos a única cultura em que isso acontece. "Na China, por exemplo, também é considerado um número portador de dificuldades, porque, na numerologia, que nos obriga a somar os números, dá quatro. E na China, o número quatro é um número difícil – representa coisas que demoram a acontecer, digamos assim", frisa.

E porque o 13 não é o vilão no mundo todo, também há quem o estime. O México é um desses exemplos, já que diz que a junção destes dois algarismo é "auspiciosa, porque simboliza o Sol, a energia masculina e positiva", bem como a Cabala, uma escola de pensamento do misticismo judaico, que chega mesmo a considerá-lo um número da sorte.

E o que dizem a astrologia e a numerologia?

Para os fãs de astrologia, não é novidade que a posição dos planetas no dia, na hora e no local em que nascemos ditem a forma como agimos no quotidiano. E é por isso que, de acordo com Sandra Costa, também a astrologia e a numerologia têm influência na importância que depositamos nas superstições.

Numa explicação que casa estes dois universos, a especialista diz que "o um significa o Sol, o três significa Júpiter". "Quando o Sol influencia Júpiter, de uma forma positiva, é maravilhoso. Estamos a falar de uma expansão de consciência, de conhecimento, de vontade de crescer – a vida corre bem", frisa, explicando que é normal que estas pessoas não se sintam amedrontadas pelo número 13.

Mas a situação muda de figura quando o Sol influencia Júpiter de uma forma desafiante. "Dependendo da quadratura [ou posição] e se esta se coaduna ou não, o que vai dar à pessoa é irritabilidade" – e são essas pessoas que, segundo a especialista, já não são particularmente a favor destes algarismos.

Uma coisa é certa: "Na numerologia, o 13 não é mesmo um número nefasto", nem é portador de má sorte. "É um número de pessoas práticas, porque, se os somarmos, dá quatro, que significa materialização, pessoas que conseguem chegar rapidamente ao âmago das questões, pessoas muito bem sucedidas", remata a especialista.

Que mais fatores são determinantes?

"Todos os mitos têm uma componente muito pessoal", refere a Sandra Costa, acrescentando que o número 13 não é exceção. Por isso, além da cultura, a nossa forma de encarar a vida também vai ter influência no modo como lidamos com as superstições. Afinal, não somos máquinas, mas seres humanos que pensam e agem de maneiras distintas.

A astróloga dá um exemplo prático: "Se eu tiver um Carneiro que me faça mal, vou achar que todos os Carneiros são assim", mas o mesmo não acontece a quem tenha uma ótima experiência com este signo. Isto significa que os seres humanos seguem as superstições com base nas suas experiências do dia a dia? Trocado por miúdos, sim, é isso mesmo.

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"Temos sempre uma coisa, que são padrões. Ou estamos na norma, fora da norma ou num lugar de neutralidade, por assim dizer. Precisamos desse padrão para saber o que é o equilíbrio", afiança Sandra Costa. "Na Europa, essa normalidade foi o 13 ser azar. Mas, depois, vai depender da experiência de cada um", reitera, declarando que até o sistema familiar pode ter influência neste processo.

Isto é, se nasceu numa família supersticiosa, em que o 13 era um número de azar, é normal que perpetue essa crença – afinal, como diz a psicoterapeuta, "as nossas primeiras referências são os nossos pais e acabamos por enveredar por esse caminho". Se, por acaso, tiver alguém na família alguém que nasceu no dia 13, "é quase certo que não vá ser um dia de azar".

Para os supersticiosos, é um mecanismo de defesa

Se a religião, nos primórdios, serviu para as pessoas terem um propósito de vida, tratando-se quase de um compasso moral, será que as superstições, como a sexta-feira 13, serviram quase como um mecanismo de defesa? Sandra Costa diz que sim, ilustrando a temática com mais exemplos.

"A astrologia, hoje em dia, está focada no nosso processo de desenvolvimento pessoal, por exemplo. Antigamente, a astrologia estava voltada para os eventos externos. Havia planetas considerados benéficos e maléficos – e maléfico, por exemplo, era Marte, que era o regente do signo Carneiro. É a mesma coisa que dizer que quem nascia em Carneiro era maléfico", afirma, deixando implícito que era quase uma maneira de as pessoas se protegerem desse signo.

E isto tem tudo que ver com o facto de, antigamente, a sociedade estar muito focada (e dividida) entre as ideias de bem e de mal, "Por isso, o homem cria essa âncora quase externamente, que serve quase como uma previsão e precaução daquilo que pode acontecer, consoante aquilo que já sabe", conclui.