Apesar de a FIFA ter pedido para as seleções se focarem no futebol, numa carta às 32 equipas escrita por Gianni Infantino, é quase impossível ficar alheio à política no Mundial de 2022, no Catar. O Campeonato do Mundo de futebol, que decorre até 18 de dezembro, está rodeado de polémicas que envolvem violações de direitos humanos no país escolhido para ser o palco do Mundial 2022.
Nos últimos 10 anos, o Catar embarcou num programa de construção sem precedentes para preparar o Mundial, incluindo a construção dos sete novos estádios. Várias organizações apontam para milhares de mortes no Catar entre 2010 e 2019 em trabalhos relacionados com o Mundial, de acordo com um relatório do The Guardian, de fevereiro deste ano.
O jornal britânico estima que tenham ocorrido 6.500 óbitos, todos eles trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka. Os números de 2020 não foram incluídos, entre outros, "que não incluem mortes de vários países", como as Filipinas e o Quénia.
Ao longo dos últimos anos, várias organizações e instituições têm apelado também à defesa dos direitos de adeptos, e sobretudo adeptos pertencentes à comunidade LGBTQIA+, discriminada pela legislação catari.
A MAGG fez uma lista das polémicas que têm ensombrado a competição mundial de seleções de futebol.
1. As negas de Shakira, Dua Lipa e Rod Stewart
Apesar dos milhões envolvidos, Shakira, Dua Lipa e Rod Stewart recusaram os convites para atuar no Mundial. Em causa, está a violação dos direitos humanos que acontece naquele país do Médio Oriente.
"Visitarei o Catar quando cumprir as promessas que fez em matéria de direitos humanos", disse Dua Lipa nos stories da conta do Instagram, metendo um ponto final aos rumores que davam como certa a sua presença. A artista britânica sublinha ainda que atuar no Mundial do Catar nunca foi uma hipótese em cima da mesa. " Não vou atuar e nunca estive envolvida em qualquer negociação com esse propósito", acrescenta.
Rod Stewart diz que recusou 1 milhão de euros para se apresentar no Catar, avança a revista "People". “Ofereceram-me mais de 1 milhão de euros, há cerca de 15 meses, para ir lá tocar. Recusei. Não me parecia correto”, disse Rod Stewart. "Eu recusei. Não é certo ir. E os iranianos também deveriam estar fora por fornecer armas", acrescentou.
Shakira é uma presença habitual nas aberturas dos campeonatos do Mundo (já atuou três vezes no passado) e, por isso, foi criticada por muitos fãs, mesmo sem qualquer confirmação de que iria atuar no Mundial. O anúncio veio da jornalista espanhola Adriana Dorronsoro, que contactou os representantes da artista.
2. As declarações polémicas de Marcelo Rebelo de Sousa
"O Catar não respeita os direitos humanos (...) mas enfim, esqueçamos isto", disse Marcelo Rebelo de Sousa, na quinta-feira, 17 de novembro, após o jogo particular de Portugal frente à Nigéria. Num discurso que se tornou rapidamente polémico, o Presidente da Republica afirmou ainda que a inexistência dos direitos humanos é "criticável" e que "será um campeonato muito difícil". "É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio”, acrescentou.
Um dia depois, na sexta feira, 18 de novembro, Marcelo Rebelo justificou as declarações com o nervosismo da ocasião. "Vinha do fim de um jogo de futebol. Perguntaram-me sobre o futebol e eu é que introduzi a questão dos direitos humanos no Catar. Perante o nervoso que havia para voltar ao futebol e tal... mas fui eu que levantei a questão. Pareceu-me que naquele contexto tinha de falar dos direitos humanos", afirmou o presidente da Republica em declarações aos jornalistas, citado pelo "JN".
Levantada a questão, Marcelo Rebelo de Sousa afirma dizer o que pensa da situação dos direitos humanos no Catar "em território português" para posteriormente abordar a situação dos direitos humanos do Catar no país. "É o que tenho feito. Fiz isso noutros países que não têm regimes democráticos e com os quais mantemos relações diplomáticas. Os meus antecessores fizeram o mesmo", acrescentou o presidente da República
Marcelo Rebelo de Sousa terá pedido autorização à Assembleia da República para estar presente no Mundial do Catar e aguarda resposta.
3. Repórter dinamarquês impedido de gravar no Catar
Um repórter dinamarquês foi ameaçado durante uma transmissão ao vivo por funcionários de segurança, segundo avança o "DailyMail". "Vocês convidaram o mundo inteiro para aqui. Por que é que não podemos filmar? É um local público”, disse o repórter do canal dinamarquês TV2, Rasmus Tantholdt, que foi posteriormente ameaçado pelas forças de segurança com a destruição da câmara.
"Quer destruí-la? Vá em frente", respondeu o repórter dinamarquês. Rasmus Tantholdt afirmou mais tarde que recebeu um pedido de desculpas dos delegados do Catar, mas ter sido interrompido durante uma transmissão ao vivo levanta sérias questões.
"Este não é um país livre e democrático. A minha experiência depois de visitar 110 países no mundo é que: 'quanto mais tens que te esconder, mais difícil é relatar de lá'", finalizou.
4. Altos funcionários da FIFA sem hotel
Os altos funcionários da FIFA foram informados alguns dias antes da chegada à capital do Catar, Doha, de que o alojamento de cinco estrelas no Hótel Fairmont não estava pronto, escreve o "DailyMail".
Os funcionários, que esperavam fazer o check-in no hotel conhecido pela vista magnífica para o mar, foram transferidos para o resort Chedi Katara, local onde o "New York Times" apurou que não servia bebidas alcoólicas.
De acordo com o "DailyMail", o hotel luxuoso Fairmont acabou por abrir as portas à FIFA dias depois, que se sentiu incomodada pelos organizadores do Catar do Mundial 2022 não terem tudo pronto quando os mesmos chegaram.
5. Carlos Queiroz pede pagamento para falar sobre a repressão das mulheres no Irão
O clima aqueceu entre os jornalistas e o selecionador do Irão. Questionado sobre os protestos em relação à repressão das mulheres no Irão, Carlos Queiroz, 69 anos, respondeu exaltado.
"Quanto me paga para eu responder a essa pergunta? Quanto me paga? Fale com o seu patrão e dê-me uma resposta", respondeu o treinador português a um dos jornalistas na sala. "Não ponha palavras na minha boca que eu não disse. Estou a perguntar quanto dinheiro me dá para eu responder", continuou.
Depois da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, o "DailyMail" afirma que "tinha ordens para não fazer perguntas a Carlos Queiroz sobre os protestos que envolvem a equipa da nação que lidera", mas houve quem o fizesse. "'Pense sobre o que aconteceu no seu país com a imigração", disse Carlos Queiroz, como comentário final, ao jornalista de nacionalidade britânica.
A seleção iraniana terá recusado cantar o hino no início do jogo frente à Nicarágua, quinta-feira, 10 de novembro, em solidariedade com os protestantes do país, avança o site Zero Zero.
6. Proibida a venda de bebidas alcoólicas nos estádios (mas há cerveja a 13 euros)
Num comunicado oficial, esta sexta-feira, 18 de novembro, a FIFA anunciou que a venda de bebidas alcoólicas nos oito estádios onde se realizam os jogos está proibida. "Na sequência de discussões entre as autoridades do país anfitrião e a FIFA, foi tomada a decisão de concentrar a venda de bebidas alcoólicas no Festival de Fãs da FIFA, em outras zonas de fãs e locais licenciados, retirando os pontos de venda de cerveja do perímetro do estádio do Catar do Campeonato Mundial de Futebol do Catar 2022", pode ler-se no comunicado.
O pedido foi feito à FIFA dois dias antes do início do torneio pela Família Real do Catar, avança o "The New York Times". O irmão do líder do Catar, Xeque Jassim bin Hamad bin Khalifa al-Thani, havia exigido à FIFA a proibição total de venda de bebidas alcoólicas.
O pedido viola o contrato multimilionário entre a FIFA e a marca de cerveja Budweiser, um dos principais patrocinadores do Mundial, que poderá exigir uma indemnização na ordem do 108 milhões de euros.
Durante o Mundial, e uma vez que o Catar é um pais onde o consumo de álcool é bastante restrito, os adeptos poderão comprar um copo de 50cl de cerveja a cerca de 13€ e cada pessoa fica limitada a quatro bebidas. O objetivo? Evitar adeptos embriagados.
7. Presidente da FIFA fala em "hipocrisia europeia"
Gianni Infantino, presidente da FIFA, respondeu às críticas que têm sido feitas ao Catar, país anfitrião do Mundial, num discurso que se tornou rapidamente polémico. "Hoje sinto-me catari. Hoje sinto-me árabe. Hoje sinto-me africano. Hoje sinto-me gay. Hoje sinto-me deficiente. Hoje sinto-me um trabalhador migrante...", começou por dizer na conferência de imprensa de abertura do Mundial 2022, este sábado, 19 de novembro.
O líder da Federação Internacional de Futebol justificou rapidamente o seu discurso dizendo que "sabe o que é ser descriminado". "Claro que não sou catari, árabe, africano, gay ou deficiente. Mas sinto-me como tal, pois sei o que é ser discriminado, alvo de bullying, como estrangeiro num país diferente", disse o presidente da FIFA.
Ao longo do discurso, Gianni Infantino criticou a "hipocrisia europeia". "Acho que pelo que nós, europeus, temos feito nos últimos 3000 anos, devemos desculpar-nos nos próximos 3000 anos antes de começar a dar lições de moral às pessoas", afirmou o presidente da FIFA.
Uma vez que sofreu bullying "porque tinha cabelo ruivo e sardas, além de ser italiano", o presidente da FIFA compara questões do Catar com a sua infância. "Em criança, na escola, o que fazes? (...) Não começas com acusações, lutas ou insultos. Tentas fazer uma ligação. É isto que deveríamos estar a fazer", finaliza.
8. Contentores sem ar condicionado e pilhas de entulho. As instalações precárias da "fanzone"
"Esta não é a maneira de tratar os visitantes de nenhum país", revelou um dos fãs que se instalou numa das "aldeias de fãs", a Rawdat Al Jahhaniya. A poucas horas até ao início do Campeonato do Mundo no Catar, as aldeias de fãs assemelham-se a locais de construção, com contentores apertados e sem ar condicionado, avança o "DailyMail".
Os adeptos do Mundial queixam-se de um alojamento "roubado" no meio de pilhas de lixo e entulho, com um custo de 185 libras por noite (cerca de 200€). Os alojamentos são descritos como "apertados", "sem ar condicionado" e com vistas gloriosas para "pilhas de lixo".
"É ridículo que tenha de pagar tanto dinheiro para ficar nesta lata. Tenho 2 metros de altura e a minha cama é demasiado pequena", disse um fã de Teerão, Milad Mahmooditar, citado pelo "DailyMail". Milad Mahmooditar afirma que os alojamentos são verdadeiras "caixas de sapatos". "Paguei cerca de 200 dólares por cada noite e sei que por 100 dólares posso conseguir um hotel de cinco estrelas com pensão completa", acrescenta.
"Não há espaço para me mover ou para guardar a minha mala bagagem", disse um fã inglês. "Uma mesa minúscula segura apenas uma tigela de cornflakes", acrescentou.
9."Fãs falsos" no Catar e mais um discurso polémico do presidente da FIFA
As suspeitas de "fãs falsos" estão a crescer à medida que surgem vídeos das mesmas pessoas com camisolas de diferentes países, escreve o "DailyMail". Os vídeos surgem depois de o presidente da FIFA, Gianni Infantino, afirmar que essas insinuações eram "puramente racistas" (o mesmo discurso polémico onde critica a "hipocrisia europeia").
Os grupos de fãs que aparecem nos vídeos que têm vindo a ser partilhados nas plataformas digitais apresentam grandes grupos de homens a vestir as cores de vários países, como Inglaterra, Alemanha, Argentina, entre outros, juntamente com tambores e instrumentos associados a esses países. Um dos vídeos mostra um apresentador a perguntar aos diferentes grupos de fãs quem irá vencer o Campeonato do Mundo. Todos respondem em inglês e não no idioma de cada país.
Estes vídeos levaram muitas pessoas a especularem no recinto e nas redes sociais se os fãs, alegadamente "falsos", teriam sido pagos pelas autoridades do Catar, algo que o país nega veementemente. O governo do Catar diz que grande parte destes adeptos, que são da população indiana, são verdadeiros fãs que apoiam várias seleções de todo o mundo, escreve o "DailyMail"