O ano letivo já arrancou, mas muitos estudantes portugueses começaram as aulas com horários com furos devido à falta de professores. Os alunos da região de Lisboa e Vale do Tejo são os mais afetados, e as disciplinas de Filosofia, Matemática, Geografia, Inglês e Informática/TIC aquelas que acusam a maior falta de docentes.
A situação chegou a este ponto devido à quantidade de professores que entregaram atestados ou baixa médica, ou declaração por pertencerem a grupos de risco para a COVID-19 ou ainda que se reformaram. Todas as semanas são contratados novos professores para suprir faltas ou fazer substituições, tal como avança o "Diário de Notícias".
Até esta terça-feira, 29 de setembro, já foram colocados 18.335 professores, um número que corresponde a mais do dobro do valor registado no mesmo período em 2019 — em setembro do ano passado, tinham sido colocados 7.204 professores. O aumento diz respeito à necessidade das escolas de dar resposta a um número maior de baixas médicas, não só relacionadas com o novo coronavírus, substituir docentes que se reformaram, e criar mais horários para desdobrar turmas, uma medida de contigência da COVID-19.
No entanto, a este ritmo, Manuel Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional de Professores (ANP), explica que as reservas de recrutamento de professores estão a esgotar-se, e será complicado garantir professores para todos os alunos, a todas as disciplinas — a curto prazo, pelo menos.
"Em alguns grupos de recrutamento [relacionados com as disciplinas] já escasseiam professores e a reserva de recrutamento está a esgotar-se, porque a maioria dos docentes, que são do norte, não concorreram para as zonas onde vai existir mais falta, que são Lisboa e Vale do Tejo, e Algarve", disse Manuel Oliveira, à mesma publicação.
O vice-presidente da organização salientou ainda que "grande parte dos horários por preencher são temporários, para fazer substituições de professores, o que significa que podem ser só de um mês", o que potencia um segundo problema. "Quem é que se sujeita a deslocar-se 200 ou 300 quilómetros, procurar casa, com os preços das casas aí em baixo [Lisboa], sem saber por quanto tempo vai ter trabalho?", acrescentou, salientando que é possível que muitos professores tenham recusado a colocação devido a esta questão.
Em casos de recusa, a vaga mantém-se aberta para a reserva de recrutamento seguinte. Após duas recusas, ou quando a reserva estiver esgotada, os agrupamentos de escolas e as escolas não agrupadas podem então abrir o seu próprio concurso para preencher aquele horário ou recorrer a horas extraordinárias, mas necessitam de autorização do Ministério da Educação.
No entanto, Manuel Oliveira explica que a situação vai piorar. "Mais uma semana ou duas e vai verificar-se maior falta de professores, sobretudo no sul. Se antes da pandemia apareciam 1500 atestados por semana, imagine agora, com a pandemia. E não vai haver quem substitua os que puserem baixa ou atestado", explicou ao "Diário de Notícias".