O relatório “Estatísticas da Educação”, publicado na última semana, revela que as retenções mais do que duplicaram no final do 3.º ciclo, particularmente no 9.º ano. A taxa, que em 2015 era de 10,7% e caiu para 2,2% em 2020, voltou a crescer nos últimos quatro anos, fixando-se agora nos 6,9%, refere o "Jornal de Notícias".

Também no 6.º ano a tendência é de subida desde 2021, quando a taxa era de 2,3%, atingindo os 4,2% em 2024. No 5.º ano, passou de 2,5% (2020) para 3,5% e, no 2.º ano, de 3,2% para 4%.

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Em sentido contrário, o 12.º ano registou uma descida significativa na taxa de retenção, que caiu de 23,2% em 2020 para 10% em 2024, coincidindo com a alteração no modelo dos exames nacionais, que passaram a ser apenas para acesso ao ensino superior e não obrigatórios para concluir o ensino secundário.

“Não é uma catástrofe, mas evidentemente pode e deve fazer-se uma reflexão”, afirmou o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Domingos Fernandes, ao "JN", apontando também para uma certa “estagnação” no percurso dos alunos ao longo dos 12 anos de escolaridade.

O responsável alerta para o impacto duradouro da pandemia, especialmente nos alunos que estavam a iniciar o 1.º ciclo durante o confinamento. “As crianças que hoje frequentam o 5.º ano passaram os dois primeiros anos escolares, cruciais para a aprendizagem da leitura e escrita, em regime de ensino à distância”, recorda, defendendo que as políticas públicas devem priorizar o investimento nos primeiros anos de ensino.

O presidente do Conselho das Escolas, António Castel-Branco, destaca a falta de professores como um dos principais fatores neste aumento das retenções. “Se não há professores para as aulas, muito menos para os apoios ou recuperação das aprendizagens”, afirma, sublinhando ainda as crescentes dificuldades no recrutamento e substituição de docentes, tal como escreve o mesmo jornal.

O especialista salientou também as disparidades regionais, com o norte a beneficiar de uma maior estabilidade no corpo docente face ao sul, o que se reflete nos resultados escolares. O aumento do número de alunos migrantes, nos últimos anos, é outro elemento que pode estar a contribuir para a subida das retenções, diz.