Uma fotografia de Eduardo Madeira no programa "5 para a Meia-noite", na RTP1, em setembro de 2018 voltou agora a dar que falar. O humorista aparece na publicação de Instagram com blackface (representação de personagens afro-americanos) que fez para um sketch, que apesar de antigo, levou Eduardo Madeira a prestar um esclarecimento.
"Foi depois deste sketch que decidi não voltar a fazer BLACKFACE. Reflecti bastante, falei com muita gente e concluí que em pleno século XXI não faz qualquer sentido. Sou frontalmente anti-racista e este tipo de trabalho não é compatível com este tipo de trabalhos", disse na publicação na página Blackface Portugal.
Este Instagram foi criado apenas há quatro dias, a 9 de setembro, data em que o humorista Marco Horário foi ao programa "Você na TV", na TVI, precisamente com blackface e vestido de King Africa, protagonista da música “Bomba”, para promover o seu novo programa na TVI “Boom”. A atitude foi amplamente questionada nas redes sociais, incluindo no Twitter no qual surgiram referências como "não há racismo em Portugal. E depois tentam justificar a existência disto", levando também à criação da conta de Instagram.
A conta Blackface Portugal anuncia-se como uma "montra de instâncias de blackface na cultura popular portuguesa, apresentadas sem comentário" e à lista de publicações já juntou figuras conhecidas como Joaquim Monchique, António Raminhos e ainda Luís Filipe Borges, que também comentou uma das publicações sobre um trabalhado que fez há vários anos.
Numa primeira reação, o comediante atacou a página por não contextualizar a atuação. "Claro que não mostram o contexto. Claro que não aparece o @naturalblackcolor a gozar com duas personagens totós que acham que só vingariam no hip-hop com outro tom de pele", disse, e terminou com "claro que páginas destas são cobardes e anónimas". Após o comentário, Luís Filipe Borges enviou uma mensagem privada à mesma página, pedindo desculpa pela reação, e reconheceu até o trabalho da página como "mais do que útil, e um alerta fundamental".
Quanto a Eduardo Madeira, além de defender no comentário que "o caminho deve ser mesmo o da consciencialização dos actores, autores e realizadores a não usarem este tipo de solução", referiu que o racismo era uma temática pouco debatida em Portugal até há bem pouco tempo, "mas os tempos mudam e o tema tornou-se necessário e actual" — ganhando força principalmente após o caso da morte do afro-americano George Floyd, a 25 de maio, por um polícia branco, caso que chocou o mundo.
"Se chamarem a atenção creio que toda a gente acabará por deixar cair esta prática. Até porque nenhum dos colegas comediantes aqui visados é racista. Pelo menos os que conheço, e são quase todos. Os meus cumprimentos a todos", terminou Eduardo Madeira.
A atitude acabou por ficar viral no Twitter e por ser reconhecida: "Alguém com o reconhecimento público do Eduardo Madeira vir dizer algo assim é de uma importância gigante", disse uma utilizadora num tweet com quase 200 retweets e mais de 700 gostos.