Era o grande craque da formação do Benfica nos anos 90, ao lado de Rui Costa e Paulo Sousa. Chegou à equipa principal e rapidamente ganhou a titularidade. Era o defesa-esquerdo dos encarnados na histórica goleada de 6-3 em Alvalade, que valeu o título ao Benfica em 1993/94. O futuro de Daniel Kenedy só podia ser brilhante.

O Paris Saint-Germain apostou nele e levou-o para França em 1995. Fez um bom ano, com quase 40 jogos no PSG. No ano seguinte, foi o FC Porto a querer trazer Kenedy de volta a Portugal, mas foi aqui que as coisas começaram a correr mal. Uma vida menos regrada, com álcool, substâncias ilícitas, teve impacto no seu rendimento desportivo e lentamente o jogador começou a não evoluir como se previa. Perdeu o lugar na equipa. Jogou pouco: 15 jogos numa época. Acabou por ser emprestado ao Albacete, de Espanha, onde quase não jogou. Voltou a Portugal para o Estrela da Amadora, onde voltou a ganhar protagonismo a recuperar algum tempo perdido. Em 2001/2002, o Marítimo contratou-o e Kenedy explodiu. Parecia o Kenedy dos tempos do Benfica, explosivo, goleador, imponente. Conseguiu o que poucos achavam possível: mesmo jogando no Marítimo, foi convocado para a Seleção Nacional, para disputar o Mundial de 2002, na Coreia. Só que uma das melhores notícias da vida transformou-se numa desilusão atroz, que quase lhe pôs fim à carreira. Apanhado com doping, Kenedy foi excluído da Seleção e não foi ao mundial. Nunca mais voltou a ser o jogador que fora.

Kenedy ainda jogou futebol até 2011, quando terminou a carreira no Peramaikos, da Grécia. Nos três anos anteriores, quase não jogou. Abandonou o futebol, acumulou muito dinheiro, mas também gastou muito dinheiro, sobretudo em jogo. E o vício não parou.

Os primeiros sinais de que estaria a precisar de dinheiro vieram em 2022, quando aceitou participar no "Big Brother Famosos", da TVI. Foi aí que revelou, dentro da casa, que havia perdido muito dinheiro no vício do jogo, em casinos, e que devia muito dinheiro a amigos e conhecidos, não tendo condições para pagar.

Hoje, Daniel Kenedy tem 50 anos e está na miséria. Não tem bens pessoais, recebe o rendimento social de inserção, tem dívidas a rondar os 200 mil euros e não tem como as pagar. Foi declarado insolvente por uma sentença do tribunal, que entendeu que Kenedy não pode pagar aos credores, sendo os maiores uma imobiliária (JLL), a quem deve 85 mil euros, uma empresa de créditos (47 mil euros), Segurança Social (32 mil euros), Finanças (5370 euros) e muitos outros particulares.

Para que isto acontecesse, o Tribunal confirmou que Kenedy estava inscrito no Centro de Emprego, por estar desempregado, não tinha bens pessoais nem quaisquer rendimentos. Só nos últimos dias, o antigo jogador deu a cara para assumir a situação e comunicar que tinha começado a trabalhar como motorista da Uber. “Tenho os meus sonhos. O meu sonho é o futebol, adoro o futebol. Mas os meus sonhos estão à porta. Hoje, vou começar o meu trabalho na Uber com muita honra e muita dignidade... Vou ser o melhor Uber de Lisboa”, disse o antigo jogador nas suas redes sociais.