Dois tiroteios, 30 mortos, 26 feridos. O fim de semana foi de catástrofe nos Estados Unidos, palco de dois tiroteios, um em El Paso, Texas, e outro em Dayton, no Ohio.
Patrick Crusius, de 21 anos, um supremacista branco, entrou numa loja Walmart com o objetivo de matar o maior número de hispânicos. Já Connor Betts, 24, matou nove pessoas— entre elas a irmã de 22 anos — mas ainda não se conhecem as razões para o ataque.
A notícia deixou os norte-americanos e o mundo em choque. Mas, na verdade, esta é uma história que se replica a cada ano. Desde 1982, o país teve 114 massacres, seja em escolas, igrejas, empresas ou transportes públicos.
A revista norte-americana "Mother Jones" fez um levantamento de todos os acontecimentos, excluindo ataques entre gangues e assaltos, que tenham levado à morte de quatro ou mais pessoas num espaço público e os números, ainda que expectáveis, não deixam de surpreender. Entre 2010 e 2019, aconteceram 63 ataques a tiro nos Estados Unidos, mais do triplo do que na década anterior. Ao todo, e já considerando as mais recentes vítimas, morreram 526 pessoas.
Cada vez que um destes ataques acontece, a discussão sobre o porte e comércio de armas no país adensa-se.
Estima-se que, no total, entre as registadas e as ilegais, existam entre 265 milhões e 400 milhões de armas nas mãos dos cidadãos. O país tem cerca de 327 milhões de habitantes.
E é muito fácil arranjar uma. Dados divulgados no ano passado pela agência federal responsável pelo controlo de armas, explosivos, tabaco e álcool (ATF), existem 56.199 lojas de armas nos Estados Unidos, mais do que a soma de todas os restaurantes McDonald’s (14 mil), Subway (26,7 mil) e Starbucks (14 mil). O número de comércios de armas também supera o de supermercados, que se fica pelos 38,4 mil.
É possível até comprar armas no supermercado Walmart, onde aconteceu o ultimo tiroteio. A última alteração às regras de venda aconteceu no ano passado — depois de mais um tiroteio — quando o grupo anunciou que ia passar dos 18 para os 21 anos a idade mínima para a compra de armas e munições nas suas lojas. Agora, e ainda que tenha vindo a público lamentar o sucedido, o porta-voz do grupo não fez menção a nada que faça antever uma mudança das normas ou, no limite, que deixem de vender armas nos supermercados.
A posse e o porte de armas no país estão protegidos pela Segunda Emenda à Constituição americana e, ainda que as leis variem de estado para estado, o Supremo Tribunal dos EUA decidiu, em 2008, que a Constituição protege o direito individual de os cidadãos terem armas. Em 2017, uma semana depois de um tiroteio em Las Vegas, a senadora democrata Dianne Feinstein apresentou um projeto de lei para proibir a venda de armas enquanto não fosse concluída a análise do histórico do comprador. Atualmente, se essa análise demorar mais de 72 horas, os estabelecimentos são autorizados a vender a arma, mesmo que a verificação não esteja concluída.
Agora, o presidente norte-americano, Donald Trump, pediu aos congressistas republicanos e democratas que legislem para exigir uma verificação de antecedentes mais profunda a quem queira comprar armas de fogo.