Charlie Kirk, ativista conservador norte-americano, morreu esta quarta-feira, 10 de setembro, depois de ser baleado durante um evento na Utah Valley University, em Orem, Utah. O incidente ocorreu enquanto este discursava num comício no campus, por volta das 12h25 (hora local), na zona do pátio junto à praça de alimentação.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a morte do ativista nas redes sociais, destacando o impacto do mesmo junto dos jovens norte-americanos. “O grande, e até lendário, Charlie Kirk faleceu. Ninguém compreendia ou tinha o coração da juventude dos Estados Unidos melhor do que Charlie. Ele era amado e admirado por todos, especialmente por mim, e agora já não está mais entre nós. A Melania e eu expressamos as nossas condolências à sua esposa Erika e à sua família. Charlie, nós amamos-te!", escreveu.
De acordo a universidade, Charlie Kirk foi atingido na zona do pescoço por um único disparo realizado a cerca de 182 metros de distância. Imediatamente após o ataque, o ativista foi transportado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. O campus foi encerrado e os estudantes receberam instruções para abandonarem o local em segurança, diz o "Expresso".
As autoridades continuam à procura do suspeito, descrito como um homem de idade universitária. O Departamento de Segurança Pública do Utah afirmou que, embora estejam confiantes na capacidade de localizar o indivíduo, ainda não sabem onde ele se encontra, segundo o "Notícias ao Minuto". O FBI confirmou que possui vídeos do suspeito, incluindo imagens nítidas do rosto, que poderão ser divulgadas em breve.
Também foi recuperada uma espingarda considerada a arma usada no tiroteio e que será analisada em laboratório. A par disso, na sequência do incidente, duas pessoas foram detidas, mas acabaram por ser libertadas. As autoridades alertaram que ambas têm recebido ameaças, sublinhando a tensão e a atenção mediática em torno do caso. O FBI continua a investigar os movimentos do suspeito dentro e fora do campus.
Mas, afinal, quem era Charlie Kirk? O que defendia? De como se tornou um dos maiores e mais reconhecidos ativistas conservadoras à relação com Donald Trump, passando pelo facto de ser a favor da posse de armas e contra minorias, saiba tudo sobre esta figura.
A carreira e o impacto de Charlie Kirk
Charlie Kirk começou a fica popular ainda na adolescência, quando fundou, aos 18 anos, a Turning Point USA (TPUSA) com William Montgomery. A organização dedicava-se a promover impostos baixos e menos intervenção do Estado nos campus universitários, frequentemente de tendência liberal.
Kirk destacou-se por se infiltrar em universidades onde os republicanos raramente marcavam presença, organizando eventos extravagantes, com luzes e pirotecnia, capazes de cativar milhares de estudantes. A TPUSA acabou por reunir mais de 250 mil membros, atraindo também o interesse de grandes financiadores e políticos republicanos, que viram na organização um canal para conquistar eleitores mais jovens.
Além disso, explorava habilmente plataformas digitais, acumulando milhões de seguidores nas redes sociais. Era telegénico e recorria a uma linguagem acessível para tratar de temas como antiglobalismo, a crítica ao “politicamente correto” (o chamado movimento woke) e defesa da “América cristã”, usando memes, podcasts e outros formatos de conteúdo.
O seu programa, “The Charlie Kirk Show”, tinha mais de 500 mil ouvintes mensais, e nas redes sociais contava com mais de 5,3 milhões de seguidores. Recentemente, participou também no programa “Fox & Friends”, da Fox News, e envolvia-se em debates com jovens que tivessem ideologias diferentes das suas, cujos excertos ficaram virais no TikTok e outras plataformas.
A relação com Donald Trump e o ativismo político
Charlie Kirk serviu como assessor pessoal de Donald Trump Jr. durante campanhas eleitorais e como conselheiro não oficial de Donald Trump em 2016. Com o tempo, tornou-se confidente do Presidente dos EUA. Após a sua morte, o presidente dos Estados Unidos descreveu-o como “um amigo muito, muito bom e uma pessoa extraordinária".
O ativista participou em diversas conferências e eventos políticos de grande visibilidade, destacando-se pelos discursos inflamados e pela defesa da chamada “doutrina MAGA”, que apresentava como uma renovação e renascimento da América, contrapondo-se à classe dominante e ao “status quo”.
Em aparições públicas, como em eventos na Geórgia, o ativista associava questões políticas a convicções religiosas, afirmando que os democratas “defendem tudo o que Deus odeia” e transformando escolhas eleitorais em batalhas espirituais. As suas intervenções mobilizavam milhares de apoiantes, que, por vezes, se uniam em cânticos religiosos, como o ensurdecedor “Cristo é Rei!”.
Uma vida de polémicas
No que diz respeito ao tema da posse de armas, Charlie Kirk manteve uma postura intransigente, defendendo o direito absoluto à propriedade de armas de fogo garantido pela Segunda Emenda da Constituição dos EUA. Mesmo com as tragédias que acontecem em escolas, como o tiroteio em Nashville, afirmou que “vale a pena suportar o custo de, infelizmente, algumas mortes por armas de fogo todos os anos para que possamos ter a Segunda Emenda para proteger os outros direitos dados por Deus”, segundo o "Hindustan Times".
Em relação ao aborto, o ativista conservador posicionou-se como um crítico ferrenho, defendendo que deveria ser ilegal e comparando-o a homicídio, muito fruto da sua visão cristã conservadora e a defesa de valores tradicionais na sociedade norte-americana. Como se isto não bastasse, também expressou opiniões negativas sobre a comunidade LGBTQ+.
Charlie Kirk classificou as políticas inclusivas dos Estados Unidos, bem como a educação sobre identidade de género e sexualidade, como “anarquia sexual”, criticando o que via como uma tentativa de eliminar a identidade cultural. Estas declarações provocaram uma forte reação de ativistas e organizações de direitos humanos, que fizeram soar os alarmes, de acordo com o "Folha de São Paulo".
Também adotou uma postura nacionalista no que toca a imigração e políticas raciais. Era crítico de movimentos como o Black Lives Matter e de políticas de equidade racial, considerando-as formas de vitimização. Promoveu ainda teorias da conspiração como a da “Grande Substituição”, alegando que havia um esforço deliberado para substituir a população branca por imigrantes não brancos, lembra o "The Standard".