Michelle Carter. É esta a jovem norte-americana de 22 anos que usou mensagens de texto para encorajar o seu namorado depressivo a cometer suicídio. Passados quase cinco anos da morte do jovem, Carter começa a cumprir a pena de prisão de 15 meses. O veredito? Homicídio por negligência.

A jovem foi detida em Massachusetts esta segunda-feira, 11 de fevereiro. Michelle Carter já tinha sido condenada em 2017 por causar a morte do seu namorado, Conrad Roy III, 18 anos, depois de o ter encorajado a matar-se em 2014 através de mensagens escritas. Na altura, Carter tinha 17 anos.

Segundo o jornal "Daily Mail", a jovem apareceu em tribunal com um novo corte de cabelo, mais curto. Não demonstrou nenhuma emoção percetível quando foi levada, mas os ombros cederam quando se levantou.

Um juiz tinha permitido que a jovem permanecesse em liberdade enquanto o processo decorria, mas a condenação acabou por chegar.

“Não podes pensar nisso. Disseste que o ias fazer. Volta a entrar no carro. Fá-lo e pronto"

A 12 de julho de 2014, Conrad Roy estacionou o carro no parque de estacionamento de um supermercado e prendeu uma bomba de água, a puxar monóxido de carbono, ao interior do veículo. A quilómetros de distância, Michelle foi trocando mensagens com o namorado, incentivando-o a cometer suicídio.

Quando o fumo começou a encher o carro, Roy, com um longo historial de depressões, saiu do carro. Só que a jovem disse-lhe para continuar: "Já tomaste essa decisão. Se não o fizeres, vais pensar nisso para o resto da vida e vais sentir-te miserável", escreveu ao namorado. “Não podes pensar nisso. Disseste que o ias fazer. Volta a entrar no carro. Fá-lo e pronto".

O juiz disse que Michelle Carter tinha o dever de chamar a polícia ou a família de Conrad Roy. Em vez disso, ficou agarrada ao telefone enquanto o namorado morria. Os advogados tentaram defender a jovem alegando que Michelle Carter não tem antecedentes criminais, não tentou fugir e está a receber tratamento de saúde mental. No entanto, a decisão judicial foi de que esta teria de enfrentar a sentença.

"Depois de ela o convencer a voltar para a carrinha, cheia de monóxido de carbono, ela não fez absolutamente nada para ajudá-lo: não pediu ajuda nem disse para ele sair da carrinha enquanto o ouvia engasgar e morrer", escreveu o juiz da do Supremo Tribunal, Scott Kafker.

Conrad Roy III morreu dentro de uma carrinha, com monóxido de carbono, em julho de 2014
Conrad Roy III morreu dentro de uma carrinha, com monóxido de carbono, em julho de 2014

No julgamento, o advogado de Carter argumentou que a jovem inicialmente tentou convencer Roy a não cometer suicídio e até o encorajou a procurar ajuda. Disse ainda que Conrad Roy III estava determinado a matar-se e nada do que a jovem fizesse poderia mudar isso. Os advogados de defesa disseram ainda que não havia provas de que Roy teria vivido se Carter tivesse pedido ajuda e que não havia provas suficientes para provar que Carter disse ao namorado para voltar para a carrinha.

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O telefonema entre os dois namorados não foi gravado, mas os procuradores apontaram para uma mensagem de texto que Michelle Carter enviou a uma amiga, dois meses depois, na qual ela disse que a morte de Roy tinha sido culpa sua e que lhe tinha dito para voltar para a carrinha.

Antes de morrer, Conrad Roy deixou um vídeo onde falava sobre a sua depressão.

Daniel Marx, que discutiu o caso perante o Supremo Tribunal, disse na semana passada que a decisão do tribunal "estende a lei para atribuir a culpa por uma tragédia que não foi um crime".

"Tem implicações muito preocupantes — para a liberdade de expressão, para o devido processo legal e para o exercício da discrição da promotoria, que deve preocupar todos nós", disse ainda o juiz.