Terminou o mistério. Depois de um longo e secreto processo de veto, onde nomes de várias mulheres figuravam no topo da lista, eis que é anunciado o nome de Kamala Harris. A advogada de 55 anos (que foi uma das candidatas democratas à corrida à Casa Branca) é a escolhida por Joe Biden para a candidatura à vice-presidência.
Cabe agora à dupla Biden-Harris a tarefa magnânima de conseguir tirar Donald Trump (e o seu VP, Mike Pence) da Casa Branca. O Dia D, 3 de novembro, anuncia-se como um dos mais importantes da história recente dos Estados Unidos. A lidar com a crise pandémica, gerida de forma desastrosa por Trump e com uma possível recessão económica num futuro próximo, os norte-americanos vão ter de decidir se querem apostar na continuidade ou entregar o poder de volta ao partido democrata.
Quem é Kamala Harris?
Kamala Harris é a primeira mulher afro-americana e também a primeira mulher de ascendência indiana a correr à Casa Branca pelo partido democrata. O pai é da Jamaica e a mãe da Índia. Emigraram para os Estados Unidos para estudar na universidade de Berkeley.
Ainda em criança, Kamala sofreu na pele a segregação racial. Estudou Direito na Howard University e na University of California e, no seu primeiro trabalho como advogada, lidou com casos de homicídios, violações e tráfico de droga.
Foi a primeira mulher a chegar ao cargo de promotora da justiça de São Francisco, onde começou a defender publicamente o fim da pena de morte no estado da Califórnia.
Uma das posições mais polémicas, e que ainda hoje é alvo de crítica por parte do eleitorado mais conservador, envolve a morte de um polícia. Em 2003, Isaac Espinoza foi morto a tiro por um membro de um gangue e Kamala Harris defendeu que o assassino não deveria ser condenado à pena capital. Foi procuradora-geral do estado da Califórnia durante 6 anos e é senadora pelo estado da Califórnia desde 2017.
Enquanto procuradora-geral, criou uma unidade de crimes de ódio para poder legislar e decidir sobre crimes contra a comunidade LGBTQ. Defende uma reforma do acesso ao ensino superior público, com um teto máximo anual de 125 000 dólares anuais (106 mil euros) de propinas.
A sua passagem pela procuradoria-geral da Califórnia está associada a algumas polémicas, nomeadamente a defesa da condenação de vários reclusos, mesmo depois de se ter provado que não eram culpados e também a defesa da inconstitucionalidade da pena de morte (são 28 os estados norte-americanos que ainda têm a pena capital).
Defende licença de maternidade paga
Defendeu, durante a sua candidatura à presidência (da qual desistiu em dezembro de 2019), licença de maternidade universal e paga até seis meses (para pais e mães), aumentos de salários para os professores e uma opção de cuidados de saúde públicos. Ou seja, a senadora defende um sistema misto, com presença preponderante das empresas privadas de seguros de saúde. Uma posição mais conservadora do que aquela defendida por Bernie Sanders, que advoga por um sistema público de saúde, à semelhança do que existe em vários países europeus.
Natural de Oakland, é casada desde 2014 com o advogado Douglas Emhoff. Tem dois enteados. No seu histórico, Kamala Harris detém um feito, no mínimo curioso: Donald Trump e a ex-mulher, Ivanka, fizeram doações para a campanha de Kamala Harris ao cargo de procuradora-geral.