Ruby Franke, uma mãe de 42 anos do Utah, EUA, conhecida por ter criado o canal de Youtube “8 Passengers” onde dava conselhos parentais sobre como educar os filhos, foi condenada a cumprir, de forma consecutiva, até 15 anos de prisão por cada um dos quatro crimes de abuso agravado a menores a que foi condenada, na noite de terça-feira, 20 de fevereiro, segundo o “Daily Mail”.
Apesar de a sua sentença perfazer 60 anos, o tempo máximo por cúmulo jurídico para penas consecutivas no estado do Utah é de 30 anos, pelo que Ruby poderá ter de cumprir esse tempo. Jodi Hildebrandt, com quem partilhava a página "Moms of Truth" no Instagram, cujo propósito seria também aconselhar os pais na educação dos filhos, foi condenada pelos mesmos quatro crimes, pelo que a sentença é a mesma.
Ruby Franke mostrava aos seus milhares de seguidores a maneira como educava e disciplinava os seus seis filhos (Shari, agora com 20 anos, Chad, 19, Abby, 16, Julie, 14, Russell, 12, e Eve, 9), ao lado do marido, Kevin, no canal que criou no Youtube em 2020. No entanto, no final do ano passado, graves alegações de que Franke e Jodi abusavam dos filhos da influenciadora foram divulgadas, segundo o mesmo meio de comunicação, e a mãe de 42 anos foi detida em conjunto com Jodi Hildebrandt.
Tanto Hildebrandt como Franke declararam-se culpadas no final do mesmo mês dos quatro crimes de violência contra os filhos da youtuber, a quem eram “regularmente negada comida, água, camas para dormir e praticamente todas as formas de entretenimento”, segundo o procurador Eric Clarke, citado pelo jornal “Público”. Dois dos menores tiveram ainda de ser hospitalizados depois da revelação dos abusos.
O procurador geral adjunto do condado de Washington, Ryan Shaum, afirmou numa declaração, de acordo com o “Daily Mail”, que as ações de Franke e Hildebrandt constituíam "alguns dos piores abusos a crianças" a que tinha assistido em quase 30 anos de profissão, e que, durante mais de três meses, duas crianças tinham sido “mantidas pela mãe e pela sua parceira [de negócios] num campo de concentração”.
“Eram proibidas de interagir com outras pessoas e eram escondidas em casa quando recebiam visitas. Eram espancadas e a criança de [agora] 12 anos foi amarrada nos pés e nas mãos depois de ter tentado fugir", acrescentou. Nas alegações finais, o procurador Eric Clarke destacou ainda como as crianças “foram levadas a acreditar que o abuso era culpa delas”, algo que Jodi Hildebrandt insinuou já depois das detenções. “Em conversas telefónicas (...) afirmou repetidamente que ela é a vítima e que as crianças são as criminosas”, disse Clarke, segundo o “Público”.
Ruby, depois de ter sido sentenciada, desfez-se em lágrimas enquanto falava em tribunal, pedindo desculpa às suas “criancinhas” e dizendo ao juiz que estava disposta a cumprir a pena. “Aos meus bebés, aos meus seis filhotes. Vocês são parte de mim. Vejo agora que, nos últimos quatro anos, estive numa corrente profunda que nos levou ao perigo. Eu nunca vos teria conduzido à escuridão conscientemente... Fui levada a acreditar que este mundo é um lugar mau", disse. "Sinto-me humilde e disposta a cumprir uma pena de prisão (...). Compreendo que isto vai demorar."
Depois da sentença, o procurador Eric Clarke disse que este caso era um caso “sobre religião extrema”, e que as duas acusadas pareciam acreditar que os abusos que cometiam eram “necessários para ensinar as crianças a arrependerem-se dos seus pecados” e a “expulsarem os espíritos malignos” dos seus corpos. “Hildebrandt afirmava regularmente que Deus comunicava diretamente com ela e que lhe dava instruções. Franke aceitava Hildebrandt como espécie de líder e seguia as suas instruções e orientações", disse, citado pelo “Daily Mail”.
As primeiras detenções ocorreram em agosto de 2023, depois de Russel, de agora 12 anos, ter trepado por uma janela da casa de Hildebrandt, mal nutrido e com fita adesiva nos tornozelos. A criança conseguiu chegar a casa de um vizinho, que ligou para o 112, tendo sido levado de urgência para um hospital local.
Pouco tempo depois, Eve foi encontrada mal nutrida, e os dois, em conjunto com Abby e Julie, encontrados também dentro de casa, foram colocados sob custódia. O juiz John J. Walton, de acordo com o mesmo meio de comunicação, aceitou o acordo de confissão de Franke em dezembro.