O ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos ,morreu na passada sexta-feira, 8 de julho, numa clínica em Barcelona, Espanha. O angolano estava nos cuidados intensivos desde 23 de junho, depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).
Mesmo internado, foi necessário fazer uma autópsia, porque a filha do ex-presidente, Tchizé dos Santos, pediu uma investigação de homicídio. Tal como explicou à CNN Portugal, Tchizé salientou que o pai já tinha ficado 16 horas sem comer. Contudo, o resultado provisório da autópsia ao corpo de José Eduardo dos Santos não indica nenhuma irregularidade, refere a SIC Notícias.
No caso de o resultado definitivo da autópsia mostrar os mesmos resultados que o exame provisório, os restos mortais de José Eduardo dos Santos serão enviados para Luanda, referiu uma fonte do Governo de Angola à SIC. O governo angolano, que decretou sete dias de luto nacional, pretende fazer um funeral para o ex-presidente em Luanda, mas Tchizé dos Santos não concorda. Como não há acordo, a decisão será tomada pelo tribunal.
“O meu pai deixou uma vontade expressa de não mais voltar a ser humilhado por João Lourenço e não voltaria a Angola”, disse Tchizé dos Santos à CNN, explicando que o pai não quereria ser enterrado pelo atual presidente angolano. Mesmo que o tribunal decida que o corpo de José Eduardo dos Santos deve ir para Angola, Tchizé dos Santos diz que não irá “pôr o pé em nenhuma instituição de Angola enquanto João Lourenço for presidente”, justifica, dizendo ainda que corre perigo de vida.
Os problemas e acusações entre Tchizé dos Santos e João Lourenço não ficam por aqui. “É curioso que o João Lourenço tenha ficado a saber do falecimento do meu pai e tenha anunciado primeiro do que eu”, partilhou Tchizé dos Santos.
“Deixei muito claro que não negoceio com criminosos. O governo de Angola é criminoso, liderado por um criminoso. Que viola a separação de poderes e que viola a constituição de Angola”, acusa a filha do ex-presidente de Angola na entrevista à CNN Portugal.
As opiniões não estão divididas apenas entre o atual Presidente da República e Tchizé dos Santos. A irmã, Isabel dos Santos, também defende que o corpo só poderá ser transladado após as eleições de Angola, que decorrem a 24 de agosto. O filho José Filomeno de Sousa dos Santos, conhecido por Zenú, tem a mesma opinião que as duas irmãs. Ao contrário da viúva, Ana Paula dos Santos, que defende o envio do corpo para Angola.
Tchizé dos Santos apresentou uma queixa em Barcelona, no início de julho, para a abertura de um inquérito pela "alegada tentativa de homicídio, falta de assistência a uma pessoa em perigo, ferimentos causados por negligência grave", refere o "Jornal de Negócios". A filha de José Eduardo dos Santos acredita que Ana Paula Santos e o médico pessoal são responsáveis pela deterioração da saúde de José Eduardo dos Santos.
O corpo de José Eduardo dos Santos ainda está em Barcelona. Mas as cerimónias fúnebres começaram esta segunda-feira, 11 de julho, em Luanda, sem corpo. Na parte da manhã decorreu uma cerimónia institucional com homenagem do atual Presidente da República, João Lourenço. De seguida, as celebrações continuaram no Memorial Dr. António Agostinho Neto com um velório público em Luanda.
Durante a cerimónia, sem urna e sem grande emoção, estiverem presentes organizações ligadas ao MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e grupos religiosos, refere o “Diário de Notícias”, citando a agência Lusa.