Leonor Malho, 18 anos, e a irmã, Sofia Lopes, 13 anos, estão apuradas para representar Portugal no próximo Campeonato do Mundo que vai decorrer em Baku, no Azerbaijão, entre 3 e 6 de março deste ano. Fazem parte de um trio, no qual se insere também Íris Fernandes, e, em separado, pedem ajuda para conseguir pagar os custos associados à viagem, estadia, alimentação, inscrição na prova e documentação.

As atletas de alta competição são praticantes de ginástica acrobática no Sporting Clube de Portugal e, apesar de terem sido apuradas para a competição, não têm direito a que as despesas que a mesma acarreta lhes sejam asseguradas. Porquê? Porque fazem parte do escalão júnior e, tal como Leonor explica à MAGG, a Federação de Ginástica de Portugal só suporta os custos dos escalões sénior.

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"Nós fazemos trio. Não sou só eu e a minha irmã. Há mais uma rapariga, que também está a pedir donativos porque tem mais duas irmãs que foram apuradas. Começámos a treinar as três em 2020 e, no ano passado, apurámo-nos para o Campeonato do Mundo, na Suíça, onde fomos vice-campeãs. Depois fomos também ao campeonato da Europa, em Itália. Este ano subimos de escalão, de júnior para júnior elite, e no início do ano conseguimos apuramento para ir ao Campeonato do Mundo em Baku", conta Leonor Malho.

À MAGG, a atleta explica ainda que o Sporting Clube de Portugal, equipa à qual pertencem, suporta os custos das provas nacionais e que, neste caso, como se trata de uma prova internacional — para a qual estão apurados vários atletas do Sporting — não há possibilidade para ajudar todos.

Para a jovem, é "frustrante" pensar na ideia de que poderá ter de abdicar de uma competição para a qual muito trabalhou por não haver condições monetárias para pagar. Por esse motivo, decidiu lançar um pedido de donativos na plataforma GoFundMe, a apelar à ajuda dos portugueses. Até agora, as irmãs já conseguiram juntar mais de 800€, mas a meta é chegar aos 2000€.

"Não poder ir por questões financeiras é triste"

"Nós treinamos muito e dedicamos a nossa vida praticamente toda a isto. Não poder ir por questões financeiras é triste, até porque vamos representar Portugal e não ter ajuda é frustrante. Fala-se muito no futebol, mas há muitas modalidade além disso. Eu sei que não se passa só com a ginástica acrobática, mas acho que por ser um desporto menos falado depois também tem menos ajuda", remata a Leonor Malho.

Na mesma plataforma, também Íris Fernandes está a apelar à ajuda de todos. A jovem de 18 anos, que faz trio com Leonor e Sofia, tem duas irmãs mais novas que também se encontram apuradas para a competição.

"As despesas são todas suportadas pelos nossos pais e recebemos uns orçamentos elevados (entre 1500€ e 1900€ por atleta), o que fez com que os nossos pais nos dissessem logo que, à partida, devido ao valor elevado, seria impossível pagar a viagem às três. Mas é um sonho. Nós trabalhamos quase cinco horas por dia, seis vezes por semana, abdicamos de muita coisa pela ginástica e é frustrante não conseguir ir", explica Íris à MAGG. Na plataforma, os donativos já chegaram aos 1800€, mas o objetivo é conseguir juntar 3000€ para suportar os custos das três irmãs.

Federação confirma que despesas só são pagas ao escalão sénior e explica porquê

Contactada pela MAGG, a Federação de Ginástica de Portugal (FGP) esclarece que "em termos de apoio à participação dos ginastas nos Campeonato da Europa e Campeonato do Mundo, a FGP apoia financeiramente a 100% a Seleção Nacional – ginastas Seniores, treinadores nacionais, juízes, chefes de delegação e fisioterapeutas", ficando os restantes escalões de fora.

Em esclarecimento enviado à redação, a FGP refere que coordena oito disciplinas, das quais sete são competitivas. "As verbas disponíveis não são suficientes para se apoiar na mesma medida todos os escalões, apesar de existir uma grande vontade de fazer mais e melhor", refere ainda a federação.

Apesar dos constrangimentos financeiros, a Federação frisa que, nos últimos anos, tem vindo a ser feito um trabalho no sentido de apoiar de outras formas os clubes e as representações nacionais, assegurando o custo com os profissionais e algum equipamento dos atletas, por exemplo.

"Estamos cientes de que as condições não são as ideais para todos os participantes, mas são as que de facto conseguimos garantir. O nosso trabalho continuará a ser desenvolvido, sem dúvida, de olhos postos numa Ginástica equitativa", remata a federação.

A MAGG tentou ainda perceber qual seria a hipótese de ser o clube a ajudar financeiramente os atletas nas competições internacionais. João Martins, treinador das atletas, explica à MAGG que este é o primeiro ano em que estão a competir representadas pelo Sporting Club de Portugal e que, para já, o clube não consegue suportar todos os custos.

"O Sporting já ajuda com algumas coisas, mas a totalidade por agora não dá. A prova está orçamentada para 1800€ por pessoa. Nós, Sporting, temos mais de 20 ginastas nessa situação e por isso é insustentável para o clube pagar a totalidade todos os anos. Felizmente, somos um clube que consegue sempre muitas participações internacionais, mas não é de todo possível o clube sustentar isso", esclarece João Martins.