Como já vem sendo habitual, Cristina Ferreira publica as capas das suas revistas no Instagram dias antes de irem para as bancas. Assim, os seus seguidores ficam a par dos novos conteúdos da revista, e a curiosidade vai aumentando até ao dia em que podem encontrá-la nas bancas.
Na passada quinta-feira, 4 de abril, a apresentadora voltou a partilhar uma das quatro capas da edição de abril, dedicada à liberdade. O que não esperava é que uma delas fosse censurada pelo próprio Instagram – ainda para mais quando se falava de um tema como este.
O motivo, segundo Cristina Ferreira, foi a modelo estar com as mamas à mostra. A solução encontrada foi tapar os mamilos da modelo Catarina Corujo para que a fotografia pudesse ser publicada na rede social.
Mas o Instagram não foi o único a sentir-se ofendido. Na caixa de comentários dessa publicação, foram muitos os seguidores que se indignaram contra a capa por acreditarem que liberdade não era necessariamente uma mulher estar parcialmente nua na capa de uma revista. O alegado despropósito da fotografia foi várias vezes mencionado por aqueles que se sentiram ofendidos com a publicação.
"Isto não é liberdade, pelo menos para mim. A liberdade está a ser confundida com libertinagem, dois conceitos completamente diferentes!" ou "Acho a capa super poderosa por ir contra vários tabus mas também concordo que não é assim que se mostra a liberdade de uma mulher", foram alguns dos comentários deixados.
Portugal ainda é um País conservador
A chave para compreender este fenómeno parece estar no “conservadorismo português”, explicam à MAGG a professora Catarina Casanova e a professora Sónia Frias, doutoradas em antropologia e ciências sociais, respetivamente, e docentes no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), em Lisboa.
Conforme nos explica Catarina Casanova, o conservadorismo tem que ver com os cânones e valores de cada sociedade e “para todos efeitos, Portugal continua a ser a ditadura mais longa da Europa, portanto, de uma forma geral, somos um País conservador”. Ainda que nas grandes cidades o cosmopolitismo esteja a crescer, a base do nosso País continua conservadora, continua Sónia Frias.
Mas esta é uma situação que também depende do conceito de liberdade. Há quem conceba liberdade como uma mulher numa capa de revista semi nua e quem não consiga achar isso libertador. “Há quem ache importante a liberdade no sentido do direito das mulheres e quem ache libertador exibir essa parte do corpo. Mas se isso é liberdade para elas, quem somos nós para ir contra isso?”, pergunta Catarina Casanova.
Num mundo onde as mulheres todos os dias são bombardeadas e agredidas, seja sexualmente, laboralmente entre outros, esta "confusão parece despropositada”, reitera.
Para Sónia Frias, liberdade é ter uma revista com uma fotografia onde aparece uma mulher com as mamas à mostra. “Se o que a revista tentou fazer foi uma analogia entre a liberdade ganha na revolução de Abril e a libertação feminina, acho que foi louvável. Para mim não foi imediato, mas não deixa de ser louvável”.
Em relação aos comentários contraditórios (de adoração ou de repulsa da capa), a professora doutorada acredita que não é uma coisa má. “A diversidade de pensamentos e críticas é algo que acho saudável, não podemos querer que todas as pessoas pensem da mesma forma”.
Nenhuma das duas professoras do ISCSP considerou a capa como sendo algo que devesse ter censurado, pelo contrário, louvam a atitude da equipa. No entanto, não deixam de confirmar que o conservadorismo português está longe de acabar e que em todas as sociedades existem pessoas mais conservadoras e mais liberais.