A maioria dos homens no Reino Unido considera que é mais provável que uma mulher seja assediada ou abusada sexualmente se estiver a usar roupas reveladoras, sugere uma nova pesquisa.

A análise foi feita pelo "The Independent", que entrevistou 1.104 adultos, homens e mulheres, e descobriu que 55% dos entrevistados acredita que “quanto mais reveladoras as roupas que uma mulher usa, maior a probabilidade de ela ser assediada ou agredida”.

Esta visão não é exclusiva do público masculino, uma vez que 41% das mulheres também considera que há uma ligação entre a roupa usada e o assédio sexual de que são vítimas.

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Noeline Blackwell, responsável pelo Dublin Rape Crisis Center, um centro de apoio à vítima que gere ainda uma linha de ajuda gratuita 24 horas por dia para pessoas que foram vítimas de abuso sexual, acredita que estas respostas mostram como a culpa está profundamente enraizada na sociedade. “Há uma suposição — nunca provada — de que a maneira como uma mulher se veste pode incitar ao assédio ou ao abuso sexual", refere. No entanto, e da experiência enquanto diretor de um centro que já ajudou milhares de vítimas, garante que esse pormenor é irrelevante na hora de um ataque. "A ideia de que uma mulher que saia à rua semi-nua tem mais hipótese de ser atacada é um mito comum. A verdade é que os ataques acontecem estejam elas a usar calças de ganga, farda da escola ou pijama".

O responsável justifica estes números elevados com a constante culpabilização da vítima, que acha sempre que podia ter feito algo para evitar o ataque. "Isto é algo de tão antigo que até vem na Bíblia. A primeira coisa que Adão diz, para se justificar, é que foi tentado por uma mulher", acrescenta, em declarações ao "The Telegraph".

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De acordo com números oficiais do Reino Unido, cerca de 45% dos agressores são parceiros ou ex-parceiros e 38% são membros da família. O mesmo acontece em Portugal, onde são mais raros os casos que acontecem na rua, ou por desconhecidos. Das 408 que foram reportadas às autoridades em 2017, segundo o último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), vítimas e agressores eram familiares ou conhecidos em 55% dos casos.

Hannah Bows, do Centro de Investigação sobre Violência e Abuso da Universidade de Durham, acrescenta que estes números são a prova de que existem ainda muitos mal entendidos no que diz respeito à forma como os abusos sexuais acontecem. "Não tem nada a ver com o que a mulher veste ou usa. Não falamos aqui de impulsos biológicos. Trata-se sim de violência contra as mulheres e o controlo que acontece dentro das próprias casas, por pessoas que lhes são próximas", conclui.