Por esta altura, em Viana do Castelo já se viam mulheres vestidas de mordomas pela rua. Muito ouro, muita festa, muita "chieira", palavra que só existe por lá e que representa o orgulho nas tradições.

Em Ponte da Barca, os dias também já seriam de festa até porque, aqui, a contagem decrescente começa assim que o fogo de artifício anuncia o fim da romaria. "Só faltam 365 dias para o São Bartolomeu".

Nas terras do Alto Minho, o agosto é mês santo e as romarias dão o pico de energia — e de dinheiro — que os meses mortos não conseguem dar. Os emigrantes regressam, quem vive fora volta e quem nunca foi desperta para a curiosidade de viver uma festa tão típica como as que se fazem por aqui.

Mas, este ano, as regras são outras. Não há rodas de vira, copos no ar, procissões religiosas e cortejos etnográficos. A pandemia pede algum cuidado e as comissões de festa, ainda que não deixem de assinalar a data, cortaram com qualquer tipo de iniciativa que promova a junção de pessoas. Mas os franjeiros — lenços típicos do traje minhoto — estão lá, à janela, a lembrar que lá dentro mora quem para o ano não quer ficar em casa.

Onde comer, onde dormir, o que ver. Saiba o que não pode perder se for de férias para o Minho
Onde comer, onde dormir, o que ver. Saiba o que não pode perder se for de férias para o Minho
Ver artigo

Em Viana do Castelo, a Senhora da Agonia não vai reunir as habituais centenas de mulheres trajadas nas ruas. Esta é a primeira vez, em 248 anos, que a festa não acontece, e as festividades resumem-se à parte religiosa, também elas feitas com restrições.

A missa aconteceu com lugares marcados e afastados e a cerimónia foi transmitida nas redes sociais.

As redes sociais são, aliás, a grande ferramenta de quem quer marcar a data sem correr riscos de contágio. Em Ponte da Barca, vila minhota onde a romaria de São Bartolomeu é mais importante do que o Natal, os concertos, os cantares ao desafio e os ranchos vão existir apenas na página de Facebook do município, onde todos os dias vão ser exibidos vídeos de antigos espetáculos.

"Este ano, a festa é para ser sentida e não vivida", explica à MAGG Pedro Bragança, presidente da comissão de festas de Ponte da Barca. A palavra chave para este ano é 'memória', refere o responsável. E é por isso que, além de reviverem os espetáculos passados, apostaram na remodelação do site da romaria — onde incluem agora fotografias e textos de edições passadas — e espalharam pela vida cubos expositores em sítios onde, habitualmente, estariam a acontecer os principais eventos da semana.

Também em Viana do Castelo, aposta-se nas exposições para que as imagens do passado não sejam esquecidas. Rui Carvalho, que é responsável desde 2015 pelo registo fotográfico da romaria da Senhora da Agonia, decidiu este ano que, à falta de material fotográfico novo, havia que organizar o antigo.

A exposição "Mater" reúne 22 imagens em grande formato, espalhadas por diferentes pontos do Centro Comercial Estação Viana. A preto e branco, as imagens pretendem ser "uma homenagem à Nossa Senhora D’Agonia", tal como explica à MAGG.

Mater
Fotografia da exposição Mater, de Rui Carvalho.

Pela cidade, estão também expostas 170 fotografias da romaria, com QR Code, para transportar os visitantes a conteúdos multimédia dos números mais emblemáticos das festas.

Parar em 2020 para festejar em 2021

As Feiras Novas de Ponte de Lima chamam sempre milhares de pessoas à vila. Este ano, a câmara espera que isso não aconteça e tem sensibilizado a população para que a festa seja vivida de outra maneira.

"Podem trajar, podem pôr um franjeiro, mas têm que ser mais contidos na hora de festejar", refere à MAGG Ana Machado, presidente da comissão de festas.

O novo baloiço para adultos com vista para o rio Minho já tem fila de gente para tirar fotos
O novo baloiço para adultos com vista para o rio Minho já tem fila de gente para tirar fotos
Ver artigo

Ainda assim, admite que possam existir rusgas expontâneas e até mesmo jantares de amigos e família. "Mas que sejam só mesmo isso: um jantar com amigos e família, feito com as devidas precauções".

A vontade de todos é que as datas passem sem novos casos de contágio. "E acho até que deste ano atípico podem nascer novas ideias que ficam mesmo depois de tudo passar", refere Pedro Bragança. A aposta no comércio local em Ponte da Barca é um desses exemplos, uma vez que, pela primeira vez, os expositores — que este ano são reduzidos — são exclusivos para artesãos locais. Além disso, foi criado um passaporte que os clientes podem usar quando compram no comércio local. Quando tiverem todos os carimbos, habilitam-se a um sorteio cujos prémios são também experiências a serem usadas em estabelecimentos da vila.