O destino para onde todos rumam este ano, foi o meu parque de diversões em criança. Cresci no Minho, e é lá que está a família e o sotaque para onde volto sempre que me deixam usar 'sapatilhas' sem corrigir.
Bonito ver que a pandemia nos desgraçou o turismo e as noitadas de copos, mas não a vontade de conhecer o que é nosso. Com os aviões em terra, chegou finalmente a hora de pegar no carro, na autocaravana ou na bicicleta e rumar para fora das cidades, onde há todo um mundo para conhecer.
Cristina Ferreira já por lá andou este verão, Nilton, Sónia Araújo e Maria João Abreu também escolheram o Minho para as férias em família, e eu, cansada de enviar o mesmo email com "dicas minhotas" para os mil amigos que, de repente, descobriram o Gerês, conto-vos todos os segredos.
Ponte da Barca
Em primeiro lugar na lista e no meu coração. Ponte da Barca fica ali entalada entre duas vilas maiores — Ponte de Lima e Arcos de Valdevez — mas não façam dela terra de passagem. Por favor.
Pequena mas com tudo o que é de bom, há comida de encher olho e barriga, gente que recebe com vontade e um rio que tanto pede mergulhos como fotografias, que aquilo quase podia ser nome de filtro de Instagram.
Come-se bem se formos ao Moinho e escolhermos um dos pratos mais típicos — na altura da lampreia é ver gente de todo o País a fazer fila — mas se for ao Vai à Fava, tem só a melhor esplanada da vila, ali mesmo quase a roçar a margem do Lima.
Ah, e um semi segredo: não precisa de ir ao Gerês para ter cascatas. Ponte da Barca tem dezenas, lindas e com um décimo das pessoas que vai encontrar nas do Taihti. Semi segredo porquê? Porque a localização não vai ficar aqui escarrapachada, que eu quando for quero ter espaço para pôr a toalha.
Arcos de Valdevez
Ao passar a ponte, logo ao lado está Arcos de Valdevez. Mas para ver o melhor que esta vila tem para oferecer, aconselho uma visita a Soajo, uma das aldeias mais típicas da zona e onde se come muito bem, principalmente se o assunto for carne. O Sabor ao Borralho, em particular, é daqueles restaurantes com lareira que dão a sensação de casa. Isso e os donos, que acham sempre que chegas lá subnutrida, tal é a quantidade de comida que chega à mesa.
O Sistelo é também obrigatório. Quem gosta de comparações Portugal/Estrangeiro chama-o de Tibete português. Eu prefiro só dizer que é impressionante e vale toda a caminhada devidamente marcada para lá chegar. Se não for adepto de trilhos, pode sempre ir de carro. Em qualquer uma das vertentes, estacione na Tasquinha Ti Amélia, onde fica bem servido com uma posta de carne cachena, a mais típica da região.
Não é fácil fugir à carne por estas terras, mas se quiser uma refeição feita de tostas, tapiocas, bowls com granola, e panquecas obscenas, é descer à vila e parar no Cantinho do Minimeu. Logo ao lado, tem a mercearia Pureza, a única mercearia a granel e de venda de produtos ecológicos das redondezas.
Paredes de Coura
Durante o festival de verão, era ver milhares de portugueses a atravessar o País para ouvir música e mergulhar no Tabuão. Agora, a pandemia não permite festa mas o rio continua lá, à espera de ser aproveitado.
Por terras de rock, há um segredo ainda bem guardado, mas que toda a gente devia conhecer. A Quinta das Águias é um santuário de animais, quinta biológica e promove a sustentabilidade em todas as suas dimensões.
É possível visitar, ficar a dormir e ter ainda a experiência de todo um banquete vegetariano preparado por quem gere este espaço, onde é recebido por animais resgatados de situações de risco (matadouros, maus tratos ou abandono).
Caminha
O largo central de Caminha é de paragem obrigatória. São várias esplanadas mas quase que parecem uma só, tendo em conta a praça cheia que faz daquela vila uma animação.
Se a ideia é fazer praia, a de Moledo tem o nosso coração. Se a ideia for comer bem, o Ancoradouro é tiro certeiro. Se a ideia for dormir num sítio diferente, O Design & Wine hotel é um hotel que se move — através de uma plataforma — para que os hóspedes nunca percam a melhor das vistas. Se a ideia for cruzar fronteiras, há um barco logo ali, pronto a levá-lo até Espanha. Que é como quem diz, até ao incrível marisco da Galiza.
Braga
A cidade levou um boost nos últimos anos que, quem lá não tiver ido desde 2009, acha que aterrou noutra galáxia. Braga deixou de ser dos arcebispos para ser do sushi, das esplanadas, das tostas de abacate, mas também muito da cozinha tradicional. Tem lojas novas, mais artes, mais concertos e um Teatro Circo que assegura que o que de melhor anda por aí tem passagem pela cidade.
Ainda assim, há clássicos que não falham. Uma ida ao Sameiro e uma subida ao Bom Jesus são obrigatórias — e a vista compensa os degraus — e, na cidade, não se vá embora sem passar na Livraria Centésima Página. É um achado.
Para comer, que não há como fugir a isso, o restaurante Inácio assegura-lhe os pratos mais tradicionais, ainda que com um toque mais contemporâneo. Aqui as papas de sarrabulho, por exemplo, são uma entrada.
Mas se já se rendeu aos brunches, o Nordico dá-lhe todo o abacate e o café de especialidade a que tem direito.
Ponte de Lima
Guarde um dia só para esta vila. O passeio à beira rio já por si já vale a pena, mas esta é daqueles sítios que apetece explorar com tempo, entrando nas ruazinhas do interior ou parando em cada esquina para mais um petisco.
Se vai em família, a Quinta Pedagógica de Pentieiros é a opção ideal. Além de passeios a cavalo ou de bicicleta, têm alojamento e aí é só escolher entre bungalow ou casa na árvore.
Acha que nos íamos embora de Ponte de Lima sem falar em comida? Para o tradicional Sarrabulho, o Encanada e o Açude não falham. Mas se quiser variar, que ninguém aguenta este roteiro durante muitos dias, tem sempre as opções mais saudáveis do Maria Rosa (mas onde também não faltam panquecas gordinhas e jarros de sangria), ou os pratos vegetarianos do Orelha de Elefante, acabadinho de inaugurar.
Viana do Castelo
Viana é daquelas cidades do slow living. Tem tudo o que uma cidade precisa, mas com aquele encanto de vila, onde é possível que as pessoas se cumprimentem pelo nome e onde as filas, normalmente, só acontecem à porta da pastelaria Natário.
É daqui que saem as bolas de Berlim mais famosas do País. Sim, esqueçam as do Algarve. Estas até o Jorge Amado levava para o Brasil, ele que fez do Natário personagem do seu "Tocaia Grande".
Suba até à Igreja de Santa Luzia para uma vista panorâmica. Pode fazê-lo de carro, mas saiba que há um trilho que começa junto à Miraguaia (Santa Luzia), e termina na Igreja de Santa Luzia com uma duração total de 3 horas.