Passavam poucos minutos das sete horas da manhã desta terça-feira, 4 de setembro, quando a terra tremeu em Portugal. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) tinha acabado de registar um sismo de magnitude 4,6 na escala de Ritcher com epicentro no mar, a cerca de 130 quilómetros da região de Peniche. Não foram registados danos pessoais ou materiais durante o episódio sísmico, mas a ocorrência serviu como mote para que se voltasse a falar da importância de medidas de prevenção urgentes. Até porque o terramoto de 1755, que originou mais de dez mil mortos, ainda permanece bem fresco na nossa memória.
Segundo um estudo de Maria Luísa Sousa Sotto-Mayor, investigadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, uma nova catástrofe semelhante à de 1755 resultaria num número entre 17 a 27 mil mortes. É um cenário pessimista mas transmite uma realidade que Mário Lopes, especialista português em prevenção sísmica, tenta combater há vários anos.
“O sismo é como uma explosão gigantesca na crosta terrestre que se começa a propagar em forma de onda, tal como as do mar, e os danos que daí resultam têm que ver com duas coisas muito simples: o solo e a qualidade dos edifícios lá construídos”, revela à MAGG Mário Lopes.
Os solos mais moles têm a tendência para amplificar o movimento sísmico que é feito da rocha para a superfície, e é aqui que os edifícios podem ter um papel preponderante, já que podem aumentá-las ou diminuí-las.
Apesar de Lisboa ter sido a primeira cidade na história da humanidade a ser construída quase de raiz para resistir a sismos futuros, a verdade é que atualmente não estão a ser tomadas as medidas de prevenção necessárias. “O problema é que passados 50 ou 100 anos da catástrofe, já depois de toda a geração que sobreviveu ao terramoto de 1755 ter morrido, começou-se a entrar num estado de relaxamento”.
As regras de construção foram sendo ignoradas e o controlo de qualidade só piorou. “Não há fiscalização e mesmo aqueles edifícios que parecem muito bonitos e bestiais são, na verdade, um baralho de cartas.” O especialista lamenta ainda a falta de fiscalização e a aposta neste tipo de medidas de prevenção vão ficando cada vez mais para segundo plano, já que é algo que não dá dinheiro e não garante votos.
“Só podemos reduzir o risco se as pessoas tiverem a perceção desse mesmo risco, e começarem a ser mais exigentes em relação à segurança quando compram as suas casas ou os seus escritórios”. No entanto, na opinião de Mário Lopes a tendência é para tudo continuar como está. É que em 2010 foi aprovada, por unanimidade, a Resolução da Assembleia da República n.º 102, que tinha como objetivo dar início ao processo de adoção de medidas para reduzir os riscos sísmicos.
“Não só foi aprovada por unanimidade, como tem vindo a ser ignorada sistematicamente por unanimidade também”. Mário Lopes não tem dúvidas que o Estado está a falhar ao não ter um papel mais ativo de modo a ser certificar que a regulamentação é cumprida. Quanto às zonas afetadas, serão geralmente as zonas mais antigas de Lisboa, principalmente aquelas que foram ribeiras no passado. A Avenida da Liberdade, Avenida de Ceuta, Almirante Reis, Vale de Alcântara, Vale de Chelas ou toda a área do Hospital de São José são zonas de risco. Precisamente porque conjugam uma má construção e um mau tipo de solo.
“Não são os sismos que matam as pessoas, mas sim as construções que caem em cima delas”, e é por isso que em caso de terramoto os locais mais seguros para se estar são locais abertos e amplos onde não existam construções. É importante também perceber a localização onde se encontra, uma vez que naqueles próximos aos rios pode haver o risco de se formar um tsunami, caso o epicentro do sismo seja no mar.
Estamos há 264 anos sem um sismo de grande dimensão, mas é só uma questão de tempo. Vai acontecer de novo, com a mesma força ou até pior. E até lá não estamos a fazer nada para minimizar os danos e a perda de vidas.
A história diz que a cada 200 ou 300 anos acontece um sismo forte e, nesse aspeto, Portugal tem tido sorte. "Estamos há 264 anos sem um sismo de grande dimensão, mas é só uma questão de tempo. Vai acontecer de novo, com a mesma força ou até pior. E até lá não estamos a fazer nada para minimizar os danos e a perda de vidas", lamenta.
Apesar de o risco e da possibilidade eminente de um sismo de grande magnitude, a verdade é que continua tudo na mesma apesar dos vários esforços de toda a comunidade científica em alertar os vários governos que vão tendo o poder de decisão mas que, mesmo assim, não tomam as medidas adequadas. "A conversa retoma sempre que acontece um sismo em Portugal, mas rapidamente se esquecem e não há alterações significativas."