Dois soldados que integravam a Esquadra de Polícia Aérea foram praxados de forma violenta entre maio de 2018 e setembro de 2019 por dez militares da Base Aérea Nº 5 de Monte Real, em Leiria.

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Tiveram de comer ração de cão e beber diretamente das gamelas para os animais, usando apenas a boca, eram transportados em gaiolas para canídeos numa viatura da Força Aérea, foram ameaçados com armas de fogo apontadas à cabeça e foram obrigados a fazer o “jogo da poia”, em que tinham de transportar o maior número de dejetos de cães no menor tempo possível entre dois edifícios, apenas com um preservativo. Além disso, eram obrigados a rastejar na pista de obstáculos dos canídeos na base.

Um dos soldados foi forçado a dormir na casa de banho junto à sanita e algemado, chegou a ser fechado dentro de um armário enquanto os arguidos mexiam nos seus bens pessoais, era obrigado a engraxar-lhes as botas e ainda o mandaram subir ao hangar dos F16 de emergência e aproximar-se do depósito de hidrazina, que é uma substância altamente tóxica, segundo o "Correio da Manhã".

Em agosto de 2018, pelas 22h52, três dos arguidos obrigaram o soldado a fugir da unidade, para depois este ser perseguido e capturado, e gravaram esse momento. Os dois tinham de fazer flexões até à exaustão, fazer corridas noturnas à volta da unidade e até eram obrigados a contar as placas, sendo que se se enganassem eram agredidos com estalos e murros.

Um dos soldados tentou mesmo suicidar-se em julho de 2019, ingerindo medicamentos, e o outro simulou um roubo de um telemóvel combinado com um colega de forma a ser expulso e evitar o pagamento de indemnizações caso cessasse contrato por sua iniciativa.

Os dez militares – um trabalha atualmente como agente da PSP, outro está na GNR na Unidade de Intervenção, ambos em Lisboa, dois são seguranças, dois trabalham nas obras, um é distribuidor, outro é empregado de armazém e dois estão desempregados – negam todos os crimes, mas serão julgados brevemente no tribunal de São João Novo, no Porto. Estão acusados de dois crimes de abuso de autoridade por ofensas à integridade física e dois crimes de abuso de autoridade por outras ofensas. Um deles vai ainda responder por uso ilegítimo de arma.

As praxes eram cometidas durante a noite, quando estavam de serviço por turnos, sendo que os arguidos vigiavam as chefias diretas para não serem apanhados. Os dois soldados eram os que eles consideravam que apresentavam um nível de desempenho baixo e o objetivo era “aperfeiçoar e assimilar os comportamentos nos serviços diários”.