O 18º aniversário significa, para muitos jovens portugueses, que chegou a altura de tirar a carta de condução. Porém, há pessoas mais velhas que foram adiando essa tarefa e que se veem perante um novo desafio já na idade adulta.
Cristina Campeã é instrutora de condução da Escola de Condução Ecodrive, em Odivelas, tendo ensinado, ao longo de quase 30 anos de carreira, alunos de diferentes faixas etárias. Segundo a instrutora, nos dias de hoje, as pessoas mais velhas "têm mais facilidade" em tirar a carta de condução.
"Os jovens parece que não querem aprender. Nós temos uma turma de alunos entre os 16 e os 20 anos que vêm tirar a carta de mota e não sabem andar de bicicleta. Nos dias de hoje, com tantos circuitos para andarem de bicicleta, eu estranho. Nós temos que ensinar a andar, a ter equilíbrio em cima da mota e depois andar de mota com eles. As pessoas de 50 anos já estão habituadas ao trânsito", revela Cristina.
A instrutora dá alguns exemplos da inexperiência dos jovens. "Às vezes [os jovens] chegam aqui e nunca andaram de carro. Olham e estranham. "'Três pedais e dois pés. E agora?'. É tudo novidade", conta ainda, referindo-se a alguns jovens que começam a tirar a carta. "No caso dos veículos de duas rodas, o comportamento e a roupa utilizada é importante porque às vezes aparecem alunos de chinelos e calções. Parece que vão para a praia. Tem de haver condições de segurança", acrescenta.
Na escola onde trabalha, a instrutora acrescenta que há "alunos de diferentes idades". "Por exemplo, para tirar a carta de mota há pessoas dos 50 aos 60 anos. É só mais por causa do trânsito e estacionamentos", acrescenta.
Sobre a razão que faz com que as pessoas com mais idade desistam de tirar a carta de condução, Cristina Campeã partilha que é uma das grandes frustrações dos alunos mais velhos. "Às vezes tem que ver com as idades dos candidatos porque [os mais velhos] acham que são demasiado velhos para tirar". Aponta ainda um exemplo das desculpas que costuma ouvir das pessoas mais velhas: "porque não surgiu a necessidade [em ter a carta de condução]".
"A maior parte dos empregos agora pedem a carta de condução, então [pessoas mais velhas] vêm tirar a carta. Por causa disso, uma porção das turmas que nós tínhamos, onde a maior parte se encontrava nos 18 anos, acabou", sendo substituída por pessoas de outras faixas etárias.
Mas o que fazer para controlar o stress, tanto nas aulas como nos exames? "É não ter medo. A maior parte das pessoas com essas idades é mais por causa do medo. Para ultrapassar, é tentar aparecer, verem que nem o carro nem a mota são um 'bicho' e tentar combater esse medo. Têm de ter cuidado a nível da segurança, a nível da condução defensiva, não se excederem", aconselha a instrutora.
"Aquilo que nós ensinamos e tentamos dizer ao candidato é fazer de conta que o exame é uma aula. E é uma aula. Os examinadores não vão inventar nada em termos de prova. Nós fazemos uma simulação de exame antes de fazerem um exame prático. Antigamente, não havia essa possibilidade e agora é mais fácil para os alunos", acrescentou ainda.
Mais aulas de código, mais aulas de condução
"Antigamente, em termos de aulas, eram só 25 de código e 25 de condução. Agora são 28 de código e 32 de condução. Atualmente podemos ter em simultâneo aulas de código e de condução. Há uns anos só podiam ter aulas de condução depois do código aprovado. Para os alunos há mais interesse porque vão já conduzir", revela Cristina Campeã.
Até aos dias de hoje, houve também um crescimento no número dos circuitos propostos para exames de condução, levando também ao aumento do número de examinadores. "Antes só havia cinco examinadores e agora há vinte. É diferente também a nível dos circuitos", refere a instrutora.
Também houve mudanças no que toca à duração das provas de condução, passando de 10 para 40 minutos. Além desta mudança, passou a ser proibido pessoas que só tivessem carta de carro conduzir motas. "A carta de ligeiros permitia andar de mota e [os alunos] não tinham que fazer código. Agora não. Há um código específico para a mota que são 10 perguntas e depois tem que ver com a categoria que querem fazer", acrescenta.
Carros com mudanças automáticas passaram a ser permitidos nas aulas de condução. "Muitos optam agora pelo carro com mudanças automáticas por causa da chatice das mudanças e das reduções", afirma Cristina Campeã. O regime probatório também mudou, sendo que antes era de apenas um ano e agora são três.
A instrutora de condução termina, apontando tudo aquilo que se devia fazer para melhorar o funcionamento das escolas de condução. "Devíamos ter uma formação de prevenção rodoviária para as crianças. Assim, já conheceriam o código desde pequenos e saberiam algumas coisas", propõe Cristina Campeã.
Preços variam consoante a região do País
Os preços para tirar a carta de condução vão variando consoante a localidade do País. De acordo com os últimos números registados, a zona da Grande Lisboa é um dos sítios mais baratos para tirar a carta. Os preços, antes do início de 2022 variavam entre menos de 300€ e mais de 900 €. Atualmente, os valores são mais altos e podem variar entre os 600€ e os 1.300€.
O que difere é a oferta e da procura. Se uma escola tiver muita procura, os preços baixam já que vendem mais. Por outro lado, se houver pouca procura, os preços da carta de condução aumentam significativamente. Por exemplo, em Braga e Évora as cartas de condução são normalmente mais caras.
Na Escola de Condução Ecodrive, há diversos métodos de pagamento. Para a carta de carro, o valor é de 549€ com oferta de exames e atestados. Já na de mota, o valor é mais baixo, sendo 418 €. Para quem quiser tirar as duas ao mesmo tempo, o preço fica a 799€.