Cerca de 62% das mulheres portuguesas afirma ter a pele reativa, sensível, irritável, intolerante a todos os produtos cosméticos e até à água, segundo dados divulgados pela La Roche-Posay. E do que é que estamos a falar exatamente? De acordo com a dermatologista Helena Toda Brito, a pele reativa (ou sensível) é uma pele intolerante, que reage de forma exagerada a estímulos que noutros tipos de pele não provocariam reação, ficando avermelhada, irritada, por vezes com aparecimento de borbulhas ou descamação.
“O que define uma pele como reativa é a forma como esta reage a determinados estímulos, quer internos (stresse) quer externos (aplicação de produtos cosméticos ou traumatismo cutâneo”.
Mais frequente em mulheres com pele clara, Helena Toda Brito explica que este problema pode surgir ou agravar-se com o avançar da idade, “dado que o envelhecimento torna a pele mais fina e seca, comprometendo a sua função de barreira”.
Porque é que temos pele reativa?
A pele reativa é uma característica com um forte componente genético, mas existem fatores desencadeadores e de agravamento que induzem o aparecimento das queixas. “A exposição ao sol, vento, alterações climáticas, variações súbitas de temperatura, stresse, flutuações hormonais, tabagismo, consumo de álcool, café e certos alimentos, como as comidas e os condimentos picantes, e alguns produtos cosméticos são alguns desses fatores”.
A dermatologista salienta que podem existir sintomas associados, como sensação de repuxar, prurido (comichão), ardor, picadas ou sensação de calor, que muitas vezes pioram após a aplicação de produtos cosméticos.
“Também é possível que existam algumas doenças subjacentes que contribuam para esta reatividade, como a rosácea, o eczema atópico ou eczema seborreico. Este problema também pode ser resultante da realização de tratamentos cosméticos inadequados (dermoabrasão ou peelings muito agressivos) ou da toma de certos fármacos (isotretinoína)”, afirma Helena Toda Brito.
Hábitos saudáveis: o que deve fazer para cuidar da sua pele
A especialista reforça a importância das pessoas com este problema prestarem atenção aos seus hábitos diários. “Quem sofre de pele reativa tem de estar atento no seu dia a dia, para que possa identificar fatores desencadeadores específicos que estejam a agravar o problema”.
Pequenos passos como diminuir o consumo de álcool, café e picantes, evitar as variações de temperatura (ar condicionado e aquecimento excessivos) e a exposição ao sol podem fazer diferença neste tipo de pele, explica a especialista, que acrescenta que também “a escolha dos produtos cosméticos deve ser criteriosa, já que muitos não são bem tolerados pelas peles sensíveis”.
Em casos graves, em que a pele esteja em permanente reatividade apesar destes cuidados, deve-se consultar o médico dermatologista para aconselhamento relativamente aos produtos cosméticos a utilizar, diagnóstico e tratamento de uma eventual doença subjacente.
Cuidado com os cosméticos
A pele reativa tem habitualmente a barreira cutânea comprometida, o que leva a uma mais rápida penetração de ingredientes agressivos na pele, bem como a uma mais rápida perda da hidratação natural da pele.
Assim sendo, Helena Toda Brito explica que “as pessoas com este problema devem usar o menor número possível de produtos cosméticos, os quais devem ser hipoalergénicos, sem perfume (esta designação é muito importante e não é a mesma coisa que ‘sem cheiro’, dado que alguns produtos podem ter perfumes na sua composição) e especificamente formulados para pele intolerante e sensível”.
Existem ingredientes potencialmente irritativos e que devem ser evitados. Estes são o peróxido de benzoilo, o ácido glicólico, o ácido lático, o ácido salicílico, os retinóides, os perfumes, álcool, cânfora, mentol, lauril sulfato de sódio (frequentemente encontrado em champôs e pastas de dentes), ureia e alguns filtros solares químicos.
“Muitos destes ingredientes estão presentes nos produtos anti-envelhecimento e anti-acne, os quais devem ser utilizados com precaução nas peles reativas”.
Para reduzir a possibilidade de irritação, é ainda aconselhável escolher formulações em creme (em vez de loção ou gel), não usar tónicos adstringentes e esfoliantes agressivos, bem como testar os produtos cosméticos e maquilhagem numa pequena área da pele, e esperar 72 horas antes de os aplicar em toda a face.
A especialista alerta também para a utilização de cosméticos orgânicos, dado que “depende do produto em questão e da sua composição. É importante não esquecer que existem ingredientes naturais que podem ser irritativos para a pele, como é o caso dos citrinos e certas plantas. O termo orgânico não significa necessariamente que o produto seja mais seguro ou melhor tolerado”.
Se sofre deste problema, tenha especial atenção ao sol
Estamos numa época do ano em que o sol faz parte do nosso quotidiano, razão mais do que suficiente para reforçar os cuidados com a pele, principalmente se tem a pele reativa.
“Nas pessoas com pele sensível, é particularmente importante a proteção solar rigorosa, uma vez que o sol pode irritar ainda mais a pele. Algumas pessoas com este problema também sofrem de rosácea, uma doença que agrava muito com o sol”.
Para proteger a pele, deve ser aplicado um protetor solar todos os dias antes de sair de casa (mesmo nos dias nublados e de chuva), e deve ser evitada a exposição solar nas horas mais prejudiciais.
O uso de um protetor solar é obviamente obrigatório, e Helena Toda Brito refere que deve preferir produtos de amplo espectro (que proteja contra as radiações ultravioleta A e B), com FPS 50, sem perfume e com filtros solares minerais, como o óxido de zinco, dióxido de titânio ou ambos.
“Os protetores solares minerais são os mais facilmente tolerados pelas peles sensíveis, enquanto alguns filtros químicos, como a oxibenzona, podem irritar este tipo de pele”.