Aos 24 anos, Inês Faria veste a pele de Dália na mais recente aposta da TVI para o horário das 19h, "Rua das Flores". Está como sempre quis estar: com trabalho no meio, a integrar o elenco fixo de um novela e com uma personagem que adora — mas semanas antes do "sim" oficial dificilmente conseguiria prever este cenário idílico.

"Rua das Flores" é o "Festa é Festa" das sete e também "O Preço Certo". Confuso? Nós explicamos
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Inês Faria esteve anos sem trabalho enquanto atriz e chegou mesmo a ponderar alterar o rumo da carreira. "O meu objetivo sempre foi ter trabalho como atriz. Sempre. Comecei como atriz, estudei para ser atriz e é o que gosto e quero fazer para o resto da minha vida. Não tenho qualquer dúvida disso. Mas quando não existe trabalho, não posso ficar sentada no sofá a lamentar-me", começou por explicar, em entrevista à MAGG.

"Ninguém me vai bater à porta e dizer 'Inês, esquece, tens o papel da tua vida'", acrescentou. E, de facto, ninguém lhe bateu à porta. Inês Faria participou num casting da TVI e, semanas depois, recebeu o presente que tanto queria: o convite para dar vida Dália — a "miúda dos eletrodomésticos" da novela das 19h da TVI, que descreve varinhas mágicas como "ciclones que passam sopas" e que conquistou o público com televendas hilariantes (com direito a banda sonora a rigor). 

"Só fiquei em dois castings na minha vida"

"Fui chamada para fazer um casting para a TVI e, na altura, foi para outra personagem até. Depois ligaram-me então para fazer o casting para a Dália. Quando vi o texto, fiquei 'esta personagem tem de ser minha' e meti isso na cabeça", começou por contar. "O 'sim' foi muito rápido, porque queriam começar o quanto antes, mas não foi na hora. Foram mais ou menos duas semanas. Duas semanas péssimas. Depois ligou-me a minha agente (...) a dizer que fiquei. Não queria acreditar, tive muitos anos sem trabalho como atriz. (...) Só fiquei em dois castings na minha vida", acrescentou.

Inês Faria estreou-se no mundo da representação há dez anos, no telefilme "Jogos Cruéis", na RTP, e fez-se notar também no canal público com a participação em "Bem-vindos a Beirais". Desde então, garante que não tem sido fácil conquistar um lugar na indústria, até porque, segundo conta, "já quase não há castings". 

Sem novos papéis no horizonte, foi para um curso superior fora da área que havia estudado no secundário, representação, e criou um canal no Youtube. Mas até isso, diz, tinha o principal objetivo de sustentar, ainda que indiretamente, a carreira de atriz. 

"O que pensei foi: 'tenho de continuar a fazer coisas, porque não é bom para mim ficar a lamentar-me'. E pronto, decidi ir para a faculdade e tirar uma coisa diferente, porque, até ali, tinha estado sempre a estudar teatro. Pensei 'olha, tenho de ter um plano B' e não me arrependo nada de ter ido para a faculdade [Escola Superior de Comunicação Social] tirar Relações Públicas. Nada. Um ator é um colecionador de experiências. E acho que todas as experiências são válidas", explica.

"Daí decidi criar um meu canal no Youtube. Na altura, para ganhar mais visibilidade e não sair do olho público e porque aliava duas paixões: a comunicação e a representação. (...) Comecei, lancei o meu primeiro vídeo [em 2018] e, na altura, tive muita gente a ver. E, a partir daí, pensei: ‘olha, é um rendimento'. Não vamos aqui hipócritas, pronto, era uma maneira de ter um rendimento e de estar presente", completa.

Em meados de 2019, a artista começou a trabalhar como repórter para o programa "Faz Faísca", da RTP. Onde, segundo conta, sentia que estava apenas a "fingir" que era repórter, mas cuja performance foi muitas vezes elogiada pelo público.

"Adorei e aprendi imenso, porque nunca tinha feito aquilo antes. Quando as pessoas diziam 'ah, estás muito bem'. Eu dizia 'pá, ainda bem, porque eu estou a fingir que sou repórter'. Senti que durante dois anos representei. Eu sei comunicar e acho que sei passar uma mensagem, mas não estudei para isso. Não tinha bases para isso. Eu ali fingia que e mandei umas piadas", conta.

A partir daí, a carreira de Inês Faria no digital começou a crescer de forma exponencial, mas a atriz garante que o número de seguidores, que atualmente já ronda os 145 mil no Instagram, nunca influenciou os papéis que foi conquistando.

"Foi pelo meu trabalho. Não foi 'a Inês tem seguidores vai para a novela da TVI'"

A atriz garante que, apesar de os castings serem cada vez mais raros, foi através de um que contou com "mesmo muita gente", que conseguiu o papel na novela "Rua das Flores". "Nestes últimos quatro anos, eu tinha seguidores e tinha mediatismo nas redes sociais q.b. Não sou A Pipoca Mais Doce, mas tinha seguidores e isso nunca foi um ponto para ter mais trabalho. Nunca ninguém me deu trabalho por eu ter seguidores. A mim? Não", garante. "Quem me dera, às vezes, que isso se calhar tivesse acontecido. Teria sido muito mais fácil, mas não", acrescenta, em tom de brincadeira.

"Eu fiz um casting. Foi pelo meu trabalho, não foi 'a Inês tem seguidores vai para a novela da TVI'. Foi muita gente fazer este casting. Eu estou sempre a dizer isto: dou os parabéns à TVI por ter dado oportunidade de haver um casting, porque é raro", explica.

Inês Faria
créditos: Instagram

"Isso é a vida do ator: é ter trabalho durante 6 meses e depois se calhar ficar um ano sem trabalhar"

Apesar de ciente dos riscos da profissão, Inês Faria admite que continua a ficar ansiosa com a instabilidade inerente à carreira de ator. Por isso, força-se a viver o momento, sem pensar no futuro.

"Isso é a vida do ator. É ter trabalho durante 6 meses e depois se calhar ficar um ano sem trabalhar. Quando escolhi esta profissão, eu sabia os riscos que estaria a correr. Agora, a parte emocional, não vou mentir, fico ansiosa. Já sou uma pessoa muito ansiosa e fico sempre 'e a seguir?'", admite. "Tenho trabalho, estou no elenco fixo de uma novela, estou a fazer uma personagem que adoro, vou viver o agora. E agora estou feliz. A seguir? Não sei. Logo se vê. Se estiver sempre no futuro, nunca aproveito o presente", acrescenta.

"Se me puserem a fazer drama, eu faço drama"

Por enquanto, tudo indica que o futuro de Dália ficará em stand-by, com vários meios a avançar que "A Rua das Flores" não terá uma segunda temporada. No entanto, ainda antes de a informação ser publicamente revelada, já Inês Faria admitia que não tencionava limitar os horizontes ao ramo da comédia.

"Se me puserem a fazer drama, eu faço drama. E vou trabalhar para fazer bem drama. Hoje em dia, há muito a mania de se meter as pessoas em caixinhas. Não. O ator vai a todos os espectros. Tanto faz drama como faz comédia. Agora, claro que há sempre aquele registo em que se está mais confortável. Não sei qual é o meu, porque ainda não tive oportunidades suficientes para explorar tudo, mas também consigo fazer uma cena séria", garante.

Com "Rua das Flores" como a mais recente adição ao portfólio, ainda não se sabe qual será o próximo passo de Inês Faria enquanto atriz, mas a atriz assegura que sente saudades de abraçar desafios num palco e ao vivo.

Segundo conta, o teatro nunca será excluído do leque de opções da artista. "Um ator é um faz tudo. (...) Para mim, por exemplo, foi importantíssimo ter vindo da escola do teatro. Ter estudado teatro e ter estado num palco. Aliás, a maioria dos atores gosta de pisar um palco. É outra coisa. É o momento, é lidar com o imprevisto, é sentir a respiração das pessoas, sentir as gargalhadas e o choro. É uma coisa quase carnal", explica. "Tenho muitas saudades".