"Aqui onde nós estamos já foi em tempos o campo de futebol onde os funcionários da CP jogavam à bola", conta à MAGG Nuno Correia Pereira, sócio do espaço, fincando os pés nas tábuas de madeira que, apesar de servirem de chão ao terraço, são na verdade antigas peças dos carris de comboios.

Foi esta a forma que a nova gerência do bar lisboeta encontrou para lembrar o facto de estarem instalados a poucos metros da estação de Santa Apolónia. Isso e o nome, claro, uma vez que apesar de totalmente remodelado, o Ferroviário continua a ser o Ferroviário, o bar que, por estar a dois passos do Tejo, tem uma das melhores vistas de Lisboa.

Para quem ainda se lembra do bar que abriu em 2010, e dos bancos vermelhos de esplanada, vai ter uma surpresa assim que subir as escadas que dão acesso ao terraço. Depois da intervenção do designer de interiores Ricardo Seguro Pereira, o ambiente é totalmente tropical e dizemos isso independentemente da chuva quente dos últimos tempos e que faz com que Lisboa esteja mais perto do Caribe do que nunca.

O bar abre às seis da tarde e, no fim de semana, está aberto até às 3h

Há mais de 80 plantas, entre palmeiras, bananeiras e um jardim vertical que serve de enquadramento ao palco por onde vão passar músicos e DJ, mas não só. "Queremos ter dança, cinema, artes plásticas, concertos, enfim, tudo o que for interessante e que faça sentido mostrar ao público", explica Nuno Pereira, lembrando que por ali não se sente a pressão do centro de Lisboa. "É óbvio que tudo o que passar por aqui tem que ter qualidade, mas queremos sobretudo dar a conhecer novos projetos".

O primeiro andar tem uma decoração influenciada no vintage e no burlesco

Projetos esses que podem ocupar lugar no terraço, ou descer até ao primeiro andar, onde a decoração nos leva para outra dimensão. Há veludos, dourados, mobília vintage, cores quentes e luz baixa, num estilo de "luxo decadente e ambiente de cabaret", como caracteriza a gerência, a servir de abrigo às noites mais frias ou a todas aquelas que peçam que se continue madrugada dentro.

Quinhentos metros quadrados de terraço

É verdade, são mesmo 500 metros quadrados de terraço, divididos em dois bares, por onde os clientes podem circular ou experimentar os sofás, os cadeirões de verga ou os bancos que estão de frente para o balcão com vista para o Tejo.

"Criámos um espaço onde as pessoas se sintam de férias", refere o sócio gerente. Talvez por isso até o papel de parede da casa de banho, com tanta arara e flamingo, nos faça lembrar um país quente (mesmo a pedir aquela foto de Instagram com o hashtag #nightout).

Morada:
Rua de Santa Apolónia 59, Lisboa

Horário:
Quarta e quinta 18h-2h
Sexta 18h-3h
Sábado 14h-3h
Domingo 14h-2h
Encerra às segundas e terças

Contacto para reservas:
968605235

Mas a verdade é que estamos num bar e com isto tudo ainda não falamos das bebidas. Há gins, sangrias, vinhos, espumantes e sumos naturais. Mas são os cocktails a marcar a diferença, mais não seja pela originalidade dos ingredientes.

O Chá à Maquinista leva xarope de chá Gorreana, Four Roses com infusão de chá e laranja, Triple Sec, marmelada e sumo de limão (9€) e o Madeira Colada e feito com vinho da Madeira Verdelho, Havana Club, sumo de ananás fumado e leite de coco (9,50€).

Comida que dá vontade de dançar uma cumbia

A sorte era que a música estava mais virada para o chill out, senão acho mesmo que tínhamos arriscado num dança latina para festejar o salero que nos chegou à mesa.

O chef Nico Martinez-Villalba veio da Colômbia para implementar no Ferroviário um menu pop up de inspiração latinoamericana. Há pratos do Brasil, México, Argentina, Colômbia e Peru, feitos com ingredientes portugueses que, aliás, o chef fez questão de elogiar numa entrevista dada à MAGG.

Aquilo em cima do abacate é quinoa crocante e funciona tão bem

Da cozinha liderada por este chef nómada, uma vez que leva o seu conceito de cozinha um pouco por todo o mundo, saem preciosidades como o Capuccino de Camarão (4,50€) que nos oferecem para abrir o palato. Com este camarão grelhado, espuma de alioli e torrada de pão, está mais que aberto, venha daí o resto.

Há ainda ceviche de polvo com banana da terra frita, bacon crocante, coentros (12€) e croquetes de arroz com coco, húmus de feijão branco e coentros (9,50€). Não é preciso dizer mais nada. Ah, só mesmo lembrar que comemos aqui um dos melhores guacamoles (10€) de Lisboa, daqueles — raros, infelizmente — que sabem realmente a abacate.

Tudo isto fica em Lisboa até outubro, mês em que o chef leva estes pratos a outras paragens mas deixa, esperemos nós, quem tenha conseguido roubar-lhe as receitas.