A expetativa para a abertura do ÀCosta era muita. Depois do fim do Anfíbio, liderado pelo chef Miguel Rocha Vieira, foi confirmado no início deste ano que a exploração do espaço na Doca da Marinha, em Lisboa, passaria para as mãos de Olivier da Costa, que planeou, junto com a sua equipa, tudo ao detalhe para a abertura deste novo restaurante, que a par de ser o 28.º do grupo, marca também o início de um novo conceito.
Regressando às expetativas, o ÀCosta é a materialização do quanto estas podem cair por terra quando embarcamos no erro de nos basearmos em ideias pré-concebidas. Isto porque se juntarmos um espaço com uma decoração instagramável, uma esplanada em cima do rio, o nome de Olivier (percursor de conceitos que juntam festa e comida como o Guilty) e uma vibe de verão, podemos até pensar que a comida seria o menos importante quando temos "um restaurante da moda" — e bem sabemos como eles existem, os tais espaços que nos esvaziam a conta bancária e onde os pratos não passam de um mediano mau.
No entanto, e para quem só conhece os espaços de Olivier das páginas de Instagram dos famosos, a prioridade para o empresário e cozinheiro português sempre foi o que se serve na mesa. E mesmo que a decoração, o ambiente e a clientela importem, o novo ÀCosta é mais uma prova de que o sabor é a máxima número um nos espaços de Olivier da Costa.
E é justamente este restaurante, que arriscamos avançar ser a nova joia da coroa do grupo Olivier, que nos troca as voltas ao servir comida de mar misturada com pratos de conforto, twists intercalados com homenagens, e um ambiente instagramável que, ao mesmo tempo, nos remete para o conforto do lar, nem que seja pelos sabores tão portugueses.
"Começámos a trabalhar neste conceito em meados de dezembro do ano passado. Quis trazer um novo conceito, e o dono do espaço também achou que éramos o grupo com condições para dignificar o que aqui existe", refere Olivier à MAGG sobre o ÀCosta, inaugurado oficialmente a 4 de junho.
No entanto, o olho de Olivier já estava neste local muito tempo antes, embora o novo conceito tenha carecido de algum tempo de reflexão até ser alcançado.
"Vim aqui há cerca de um ano, em junho de 2023, e pensei logo que tinha de ter este restaurante. Imaginei logo o bar ali junto ao rio, porque é o que eu faço quando entro num espaço, penso logo o que é que podia fazer. E quando surgiu a oportunidade, é verdade que podia ter feito muitas coisas, podia ter optado por um italiano, por um rodízio de carne", recorda o empresário.
"Mas aquilo que sobressai em mim é pensar naquilo que não há, que me faz falta a mim e aos meus clientes. E tendo em conta o que temos atualmente em Lisboa, vejo também a oportunidade. Tens um espaço premium, junto ao rio, o que é que te apetece comer? A mim, pelo menos, apetece-me peixe, umas amêijoas, comida de mar, no fundo", salienta.
Mas antes de chegarmos a esta carta inaugural do ÀCosta — e é preciso focar no inaugural, dado que Olivier é o primeiro a afirmar que as propostas vão ser alteradas conforme o que resulta —, as hipóteses eram várias. "Primeiro queria fazer comida portuguesa e queria mesmo que fosse o mais tradicional possível, a típica comida de tacho. Depois, face ao local, junto à água, pensei em comida de mar tradicional. Mas depois quis dar o meu twist, começámos a modificar, a ir mais para fora da caixa, e mantivemos a alma tradicional, mas com o toque Olivier", relata o cozinheiro e empresário.
E o conceito revelou-se vencedor, dado que mesmo antes da abertura oficial, já existiam interessados em ter um ÀCosta. A prova disso é que a segunda localização de mais um restaurante de Olivier, o segundo da marca ÀCosta, está prestes a abrir dentro de poucos dias, em local ainda por revelar.
Comida de homenagem no novo spot da moda
Olivier da Costa é filho do conhecido chef Michel da Costa, um dos maiores vultos do panorama gastronómico nacional, que morreu em 2022 com 77 anos. E essa herança, bem como a de muitos outros familiares, está mais do que patente no ÀCosta, com um desfile de pratos que são autênticas homenagens a quem esteve ao lado de Olivier neste percurso, e que ajudaram a construir o seu legado.
"Esta pasta de atum, que pode parecer corriqueira, faz-me lembrar o restaurante do meu pai, no Castelo de São Jorge. Ele servia no bar grão temperado com a pasta de atum, e eu ia para lá quando era miúdo e atacava aquilo tudo. Já a receita super simples que servimos no carpaccio de peixe do dia vem do meu tio Jorge, que usava sempre este tempero com sardinha. Este conceito tem muito que ver com as minhas lembranças", diz Olivier da Costa.
As homenagens continuam presentes em outras propostas da carta, como os carabineiros à Sr. Augusto, que vão buscar o nome ao avô de Olivier.
"A primeira vez que comi carabineiros foi com esta receita, feitos pelo meu avô, um homem que toda a gente gostava, amoroso e que adorava comer. O bacalhau ÀCosta é também uma homenagem ao meu pai, que a primeira vez que comi bacalhau dentro de um pão foi ele que fez, até me recordo que foi num Natal. E mesmo o nougat que está em cima da mousse de chocolate das sobremesas tem uma razão de ser, porque me lembra a minha avó, que comprava nougat à D.Nice, que os vendia à frente do liceu francês. Daí a mousse Marie Louise, em nome da minha avó", explica.
Estacionamento gratuito e até poupança nos pratos — sim, leu bem
Ouvimos falar no novo restaurante de Olivier da Costa e ficamos entre o "quando é que há promoções do TheFork?" e o "vamos à falência este mês, mas bebemos o vinho da casa". No entanto, e deixando a ressalva que este não é obviamente um espaço económico, a verdade é que estamos a falar de doses muito generosas, que podem facilmente ser partilhadas.
"Pensei muito nos preços deste restaurante. E temos um bacalhau ÀCosta que dá perfeitamente para três pessoas depois de pica-pica por 45€, um açorda de camarão que também é para duas pessoas tranquilamente, um arroz de lavagante também para dois que, lá está, com uma entrada dá para três", relata Olivier da Costa, que fez todos os esforços para facilitar a vida aos clientes no que toca ao estacionamento.
Olivier recusa a ideia de que o local da Doca da Marinha é um desafio, devido a estar mais afastado do centro e a ter poucas coisas a acontecer nas imediações — um zunzum que foi muitas vezes trazido à tona em relação ao Anfíbio. "Para mim, isto é uma localização premium. Aliás, a Bica do Sapato, que foi o spot de Lisboa durante 15 anos, era super longe e as pessoas iam lá. "
No entanto, foram feitos esforços para que tudo seja mais fácil e há parque de estacionamento para todos os clientes do ÀCosta, completamente gratuito.
E relaxem aqueles que gostam de comer em paz sem pessoas em cima de colunas a dançar que, por mais que este seja um espaço que grite verão, Olivier da costa está irredutível. "Não é um restaurante discoteca, não é esse o conceito. Isto é um espaço especializado em comida. Claro que vamos ter uma música, um DJ, uma noite que esteja mais animada e o DJ perceber pode subir um pouco o volume, mas não passa disso."
E o que é que se come aqui?
A pergunta de milhões, à qual a resposta só podia ser uma: muito boa comida e muito sabor. Da carta, que está também recheada de homenagens, fazem parte propostas de entradas como ovo ÀCosta (27€), casco de sapateira recheado (24€), navalha grelhada com molho de manteiga e ervas (22€), carpaccio de peixe do dia (19€) e lulas ÀCosta (sob consulta), entre outras opções.
Nos pratos principais, há gamberini de camarão (62€ para 2 pessoas), bacalhau ÀCosta (45€ para 2 pessoas), arroz de lavagante (59€ para 2 pessoas), açorda de camarão (29€), rissóis de pescada e berbigão com arroz de tomate (23€), arroz ÀCosta (59€ para 2 pessoas), peixe do dia grelhado (sob consulta), pica-pau do lombo (35€), presa de porco preto com compota de manga (27€), entre outros.
Um espaço junto ao mar não fica completo sem propostas de marisco, como os carabineiros à Sr.Augusto (sob consulta) ou o camarão tigre grelhado (sob consulta), e termine tudo com opções doces como o doce da casa ou a mousse de chocolate Marie Louise (ambas 9€).
Para além de uma vasta oferta de rótulos de vinhos nacionais e não só, há uma carta de cocktails, incluindo de assinatura, que combinam bem com uma refeição na esplanada.