Um estudo divulgado recentemente pelo Centro Vegetariano revela que o número de vegetarianos em Portugal quadruplicou na última década. São agora 120 mil os portugueses que seguem um regime alimentar vegetariano, o que corresponde a 1,2% da população portuguesa. E mais, metade desse grupo prefere mesmo uma alimentação 100% vegetal, ou seja, sem qualquer tipo de produto de origem animal.
Sabemos que ser vegano vai bem além de dizer que não à carne, ao peixe, aos ovos e aos laticínios. No dia a dia, há ainda o cuidado com a escolha do vestuário e calçado, para que não sejam feitos com pele de animais, e todos os cosméticos e produtos testados em animais ou que tenham ingredientes de origem animal são banidos. Circos, touradas ou outras iniciativas que contribuam para a exploração animal são também para esquecer.
Mas mesmo sabendo que ser vegano vai além da alimentação, há que começar por algum lado. Aproveitamos que este fim de semana o Veggie World, o maior evento vegano da Europa, acontece em Lisboa, para passar em revista alguns dos espaços — alguns deles, de tão incontornáveis, tiveram que ser repescados — que respondem na perfeição à procura cada vez maior de refeições cheias de sabor (e cor, vai ver), feitas com base em alimentos de origem vegetal.
Eight - TheHealthLounge
O nome deste novo espaço em pleno centro de Lisboa tem como base os oito princípios que Nancy e Ruben Dias acreditam ser a base para uma existência saudável e plena. Já agora, aqui fica a receita: "nutrição, exercício físico regular, muita água, exposição solar, autocontrolo, ar fresco, descanso suficiente e confiança em Deus.”
O Eight encheu dois pisos da Praça da Figueira de comida saudável e vegana. Aqui não entram a carne nem refinados, mas saem pratos cheios de vida. Há saladas (6,90€), tostas (4,90€), paninis (7,50€), smoothie bowls (5,90€), lattes (3,70€) e até shots (1,50€) que dão saúde, como o de curcuma, gengibre, limão e ananás.
À entrada, há ainda uma loja com produtos que vão desde tábuas de madeira da Grandirripas, a pratos vindos de Marrocos ou chás biodegradáveis.
Ao 26 — VeganFoodProjet
Aqui fomos conquistados logo ao primeiro jantar. Em dia de Santo António, percebemos que este restaurante vegano tinha decidido responder à altura a todos os que, como nós, tinham decidido deixar de lado os típicos petiscos portugueses. As moelas eram cogumelos, havia tábuas de queijos vegan, pica pau de seitan e até "sardinha" no pão (reforcem-se aqui as aspas na palavra sardinha).
Em dias menos festivos, o menu continua a dar razões para celebrar. Há hambúrgueres de beterraba (7,5€), de lentilhas (7,5€), risotto de cogumelos (12€) e até francesinha (13€). Nem vamos falar das sobremesas. Deixamos só a descrição escrita na ementa: "tarte com uma base tentadora de Oreo com um recheio cremoso de amendoim coberto por um topping de chocolate e amendoim torrado" (3,80€).
Foodprintz
O espaço é discreto, mas há aqui muita coisa a acontecer. Comecemos pelos pratos. A ementa é criada de raiz a cada mês, para que sejam respeitadas as produções da época. No entanto, há uma coisa com a qual pode contar todo o ano: o queijo vegano feito pela Karo, uma das proprietárias, que criou a marca Gopal Vegan Cheese, com cinco variedades de queijos sem glúten nem lactose, feitos à base de cajus.
A Karo, além de cozinheira, é ativista pelos direitos dos animais e professora de jivamukti yoga. Já Lisa, a outra face desta dupla, é psicóloga e tem formação em mindfulness. Juntas criaram um restaurante vegano, mas que vai muito além de apresentar comida feita na mesa dos clientes. Organizam workshops, palestras, convidam especialistas, dão aulas de ioga e mindfulness e, no meio disto tudo, ainda tentam que a pegada ecológica do Foodprintz seja mínima. Daí o nome escolhido, num trocadilho entre 'footprint' (pegada ecológica) e comida.
Veganeats
Em Lisboa já são vários os espaços para usufruir de uma refeição completa 100% vegetariana. Mas e quando apetece só aquele aconchego dado em forma de chá e bolos?
Não que o Veganeats não tenha sempre pelo menos um prato do dia para servir ao almoço, mas o ponto forte deste pequeno espaço em Arroios são os doces, todos feitos sem produtos de origem animal.
Pode pedir uma fatia ou encomendar um bolo inteiro para levar para casa. Sem uma lista predefinida — até porque estão sempre a testar novas receitas — o melhor mesmo é espreitar as doçarias que publicam no Facebook. Nós fizemos isso e ficamos com vontade de experimentar o bolo de ananás, côco e caramelo (22,5€ o bolo, 1,95 a fatia). E o bolo de chocolate com cobertura de mousse de chocolate (25€ o bolo, 1,95 a fatia). Ou o bolo de baunilha com chantily e maracujá (28€ o bolo, 2,50 a fatia). Bem, vamos parar.
Miss Saigon
Fica no Parque das Nações, está fechado aos fins de semana e aberto de segunda a sexta apenas do meio dia às 16h. É limitado, bem sabemos, mas vale a pena uma viagem até à zona mais oriental de Lisboa para um almoço a meio da semana.
O Miss Saigon tem uma cozinha que "universaliza o veganismo", dizem os próprios. A prova foi dada numa das últimas visitas, na qual o prato se encheu das três opções do dia: caril de tofu e manga, bifinhos de seitan com cogumelos e escondidinho de legumes com mandioca. Se optar por este tipo de degustação o prato custa 9,95 euros, mas é a melhor maneira de conseguir provar um pouco de tudo, com a certeza que os produtos são biológicos, da época, sem transgénicos ou refinados. No final, até o café é biológico (e custa 1€).
Aloha Café
Começou em Sesimbra, apenas para os privilegiados da outra margem. Mas Lisboa já há muito que pedia um espaço assim e Constançia Franco lá acabou por dar resposta a este pedido com a abertura do Aloha em pleno Príncipe Real.
Agora, ela e o marido, Tiago, desdobram-se entre os dois espaços e o de Lisboa, apesar de ter começado apenas como um café com opções de almoço, depressa se rendeu ao brunch e, mais recentemente, até a jantares.
Ao fim de semana, quando é servido o brunch, é possível escolher entre uma versão mais simples (e mais barata, por 11,90€) — que inclui um cesto de pães, compotas, tofu mexido, sopa, hummus de beterraba, iogurte com muesli e fruta ou papas de aveia com fruta, salada e ainda café ou chá. O mais completo (15,90€) tem isto tudo mais cogumelos salteados, um sumo e uma fatia de bolo (ou panquecas).
DaTerra
São já uma referência quando a ideia é comer comida 100% vegetariana no Porto. Aliás, atualmente são já sete os restaurantes, entre Porto, Gaia, Matosinhos e Viseu. No ano passado, deram um passo em frente rumo à alimentação sem produtos de origem animal ao terem passado de vegetariano a espaço totalmente vegano. Não há carne, peixe, ovos e laticínios, mas não é por isso que se descura a variedade. Aliás, aqui o sistema é buffet, para que cada um possa encher o prato com o que mais aprecia (digo encher porque o preço é fixo - 7,50 euros ao almoço, 9,50 ao jantar — há que aproveitar).
A ementa vai sendo atualizada no site e conta sempre com três opções de prato principal, mais as saladas, as sopas, o pão ou os folhados. Só por curiosidade, fizemos pim pam pum ao dia e calhou-nos moussaka de soja, kebabs verdes de tofu e legumes assado com batata doce.
As sobremesas já não são em sistema buffet, mas quem as provou aconselha a deixar um espaço para este grande finale.
Lupin
Ir ao Porto e não comer uma francesinha é quase um crime. E como ninguém quer ver a comunidade vegana em sarilhos, o Lupin criou a versão sem carne deste prato. É recheada com enchidos e queijos vegetais, embebida num molho picante, acompanhada das merecidas batatas fritas (custa 8€, mais 1,5€ se for com batatas).
A carta é simples e sem nomes complicados. Aliás, a ideia deste restaurante é reinventar receitas bem conhecidas de todos, mas numa versão 100% vegetariana. Os pratos com mais sucesso são o carpaccio (12€) e o folhado Wellington (11€), explica-nos a proprietária, ainda que na carta haja também risotto de cogumelos (12€), falaffel (12€) e, em dias especiais, até feijoada à moda do Porto (9€).
Black Mamba
Neste espaço nada é convencional. Não se apresenta como um restaurante, porque é muito mais do que isso. É certo que no Black Mamba são servidos hamburgueres veganos, snacks e doces sem ovos e laticínios, mas também música em formato vinil e cassete, focados no rock, punk, hardcore e metal.
O menu é curto, mas na lista dos hamburgueres é possível que entre as duas fatias de pão (que podem ser sem glúten) haja a versão de soja, grão de bico, beterraba e feijão preto, tofu e espinafres, seitan e cogumelos ou alho francês à brás com queijo vegetal (todos as opções custam 4,5€).
O Macrobiótico
É um espaço que defende uma cozinha natural, criativa e sustentável, baseada em produtos autênticos, sazonais e maioritariamente biológicos. Além disso, é novo. Abriu em fevereiro e tem um menu totalmente vegano, tendo como base a cozinha macrobiótica.
Está sempre aberto ao almoço – jantares, só ao sábado – e, além de snacks, tem apenas um prato disponível, mas um prato pensado ao pormenor e servido em modo degustação com pelo menos três variedades (7,5€, com sopa). Deixamos um exemplo: feijoada de legumes, triângulos de polenta, salada prensada e verdes escaldados.
O espaço, além de servir refeições, funciona também como cafetaria e mercearia biológica. Têm sempre à venda três variedades de pão feitas em casa, com recurso a fermentação natural: trigo e centeio, de sementes e de arroz.