
É impossível falar sobre cerveja e não mencionar a Gulden Draak. Desde 1784 que este nome se destaca no meio (e já lá vão seis gerações de mestres cervejeiros Van Steenberge). Esta bebida com elevado teor alcoólico, produzida na Flandres Oriental, na Bélgica, tem dado que falar em território nacional.
A história da Gulden Draak em Portugal começou a ser contada em 2018, aquando da inauguração do primeiro espaço, no Porto. Em 2023, rumou à capital, com a abertura em Picoas, tornando-se a maior cervejaria "on tap" (de torneira) de Lisboa. Este ano, chegou ao Parque das Nações, estabelecendo-se na nova área de restauração do Centro Comercial Vasco da Gama, o River Deck.
"Achámos que era uma oportunidade de mostrar a marca ao público que não a conhece", justificou uma das sócias, Verônica Fernandes, em entrevista à MAGG, sobre terem aceitado o convite. A Gulden Draak conta com talvez a melhor localização do River Deck, já que "é a única loja com vista desobstruída para o rio e espaço para sentar". Fica mesmo junto a uma porta de acesso à esplanada — e sim, pode levar para lá a sua cerveja, enquanto vê o maravilhoso pôr do sol.
Nós, que não apreciamos cerveja, fomos desafiados pela marca a mudar essa perceção. "Acho que ainda não encontraste a tua cerveja", disse-nos Neko Pedrosa, também ele sócio da Gulden Draak Lisboa. Seguir-se-iam algumas provas, uma vez que, no espaço do centro comercial, estão disponíveis 12 variedades com estilos e caraterísticas diferentes, todas provenientes da fábrica da Gulden Draak, que, para Neko, "é de um nível de experimentação muito alto", pois "já criaram cervejas que viraram irónicas".
"Há uma infinidade de possibilidades", segundo Verônica. "Até temos cervejas para quem não gosta de cerveja", acrescentou Neko. Por ser o nosso caso, sugeriu-nos a Piraat Red (5,20€ por 25cl, 6,50€ por 33cl e 9,50€ por 50cl), uma cerveja frutada não tão intensa, e cujo sabor a fruta disfarça os restantes. Com frutos vermelhos e fumada, é uma das best-sellers, assim como a clássica (5,20€ por 25cl, 6,30€ por 33cl e 9,50€ por 50cl).
Das mais claras às mais escuras, passando pelas mais e menos amargas, as envelhecidas em barril, as que levam whisky e as food beers (com comida, como banana), não faltam opções. Existe também uma referência avinagrada e uma que cheira e sabe a bacon (nós provámos e confirmamos). "Há sabores que não reconhecem como cerveja e é cerveja", disse Verônica.
Já a Fourchette (5,60€ por 25cl, 6,80€ por 33cl e 9,90€ por 50cl), por exemplo, é considerada híbrida."Foi feita para o mercado da alta gastronomia, a pedido de chefs estrela Michelin, que queriam uma cerveja à altura, que harmonizasse bem com a comida", explicou-nos Neko.
Segundo os dois sócios, as cervejas são sazonais. "Temos cerveja para todas as estações, de Natal até", garantem, alternando referências consoante a altura do ano. "A de inverno aquece, porque é mais encorpada, e tem travos de chocolate e café", mencionam, como exemplo. Até os copos têm diferentes tipos, como uns iluminados, uns em forma de ovo de dragão e outros que servem de abajur.
Na nova Gulden Draak, que proporciona uma experiência mais rápida em comparação à de Picoas, há cervejas mais e menos alcoólicas, cujo teor varia entre os 7,5% e os 11,8%. Visitar estes espaços é ter autênticas masterclasses sobre cerveja, já que nos explicam tudo. Ensinaram-nos, entre outras coisas, que existem três famílias principais de cervejas: Ale, Lager e Lambic.
O menu conta com várias sugestões de comida para que não consuma todas estas cervejas de barriga vazia. "Pensámos em comidas que tornam a cerveja melhor", salientam os proprietários, acrescentando que, tal como a cerveja, também a oferta de comida muda de forma sazonal.
Pode começar pelos palitos de mozzarella com molho de goiabada (8€) ou pelos croquetes de carne (5,50€/3un) e seguir para o prego de novilho com manteiga especial de alho com bolo do caco (12€), o atum grelhado com espargos e couscus marroquino (16€) ou o schnitzel de porco com salada de batatas (14€).
Também há hambúrgueres com batata frita desde 12€, como o de pão bricohe, blend da casa, cheddar cremoso, bacon, alface, tomate, cebola roxa fatiada, picles de pepino e maionese de alho (14€), risoto de cogumelos nan, fritos em borra de café (12€), naco de vazia com batata steakhouse e folhas (16€) e, para terminar, o surpreendente, inovador e obrigatório tiramisù de cerveja (5,50€).
A pensar nas famílias com crianças, propõem a limonada (4€), sumos de laranja e de ananás com menta (5€) ou refrigerantes (2,50€). Caso queira, pode oferecer algumas garrafas especiais como prenda, em kits que trazem a cerveja e um copo e que custam 19€ (75cl).
A nova localização conta com 25 lugares, enquanto a de Picoas senta 180 pessoas e alguns cães — sim, é pet-friendly, e mais do que o habitual, já que oferece a possibilidade de beber uma cerveja com o seu cão. Os patudos têm "cerveja" (malte, extratos de cevada e água) com sabor a carne ou a frango e até batatas fritas, para acompanharem os seus donos da melhor forma.
Nos dois espaços em Lisboa, vão dinamizando eventos, como degustações, workshops e harmonizações. Uma vez por mês há feijoada com samba e, para o Oktoberfest, estão a preparar pratos específicos.
Neko Pedrosa e Verônica Fernandes são quem está por detrás dos espaços em Lisboa. "O nosso trabalho é beber cerveja", brincam os brasileiros, que vivem em Portugal há nove anos. Antes de enveredarem pelo meio cervejeiro, tinham uma produtora artística no Brasil.

"A cerveja entrou na minha vida aos 5 anos", brinca Neko, que, aos 20, abriu uma cervejaria alemã em Itália e introduziu a cerveja de torneira. Quando voltou para o Brasil e conheceu Verônica, viveram da cultura, mas, em Portugal, "a paixão da cerveja reacendeu-se". Passaram a produzi-la e a dá-la a conhecer aos portugueses.
"Procuramos e experimentamos diversos estilos de cerveja", explicou-nos Neko, que é quem faz a curadoria da cerveja, para selecionar os rótulos disponibilizados nas Gulden Draak de Lisboa, maioritariamente procuradas por portugueses e ingleses (e, no início, muitos franceses que já conheciam a marca).
Além dos dois Gulden Draak, Neko e Verônica são donos do Delirium Café Lisboa, no Chiado, casa do mítico elefante rosa (que até já foi roubado), que advém do estabelecimento homónimo em Bruxelas, com 2400 rótulos e tido como "a Meca da cerveja". Todos estes espaços de culto à cerveja funcionam em horário alargado.