A primeira vez que se emocionou com uma paisagem foi quando chegou a Belém e viu, no mesmo cenário, a ponte 25 de abril com o Cristo Rei ao fundo. "É que chorei mesmo! Coisa que nem quando fui a Roma, uma cidade com história e religião em cada esquina isso me aconteceu", conta Irina Prokudina que, aos 25 anos, vive entre a Rússia e Portugal, numa viagem que quer que seja de ida e volta constante.
Esse primeiro contacto com Lisboa deu-se aos 15 anos quando, com os pais, veio passar férias a Portugal. A agência que organizou a viagem sabia que falava com pessoas amantes da gastronomia e propôs um tour pelo que de melhor se come no país. Provaram o vinho do Porto, o leitão de Coimbra e os pastéis de Belém. Irina ficou fã de comida portuguesa, mas tinha perfeita noção de que os restaurante escolhidos pela agência eram coisa para turista ver.
Uns meses depois, e novamente em família, voltaram para mais 15 dias de tour gastronómica mas, desta vez, seguindo o próprio instinto. "Aí sim, fiquei ainda mais encantada com Portugal. Não há pão e queijo como o de cá", admite.
Ainda adolescente, dizia que um dia ia acabar por viver em Portugal e, pelo menos duas vezes por ano, as férias de família eram sempre por cá. Mesmo assim, estudou na Rússia e foi lá que, aos 20 anos e já como advogada, abriu a sua empresa, através da qual prestava os seus serviços na área da hotelaria. "Isso permitia-me viajar e provar novos pratos, mas faltava-me algo", conta. "Algo" que só encontrou quando decidiu cumprir o sonho de adolescente e vir viver para Portugal.
Comida a que chama de casa
Quando, aos 25 anos, decidiu que Portugal seria o destino, quis trazer consigo um pouco de casa. "Foi aí que decidi abrir em Lisboa um restaurante georgiano, o primeiro do país", explica. É que ainda que a mãe seja georgiana e o pai russo, Irina sabe que no kachapuri e nos rolinhos de beringela, típicos da Geórgia, que encontra o cheiro de casa.
"Não fazia sentido abrirmos um restaurante europeu, por exemplo, quando podemos mostrar a Lisboa os sabores e métodos de cozinhar que só nós conhecemos", refere. Além disso, rapidamente percebeu que Portugal era o paraíso para quem quer encontrar os produtos essenciais para os pratos mais típicos da Geórgia. "Vocês têm ótima carne e frutas e legumes sempre frescos", salienta. Não têm, por isso, dificuldade em encontrar a matéria-prima e, nas raras vezes que isso não acontece, são eles os próprios criadores. "O queijo e a mistura de especiarias são feitos na nossa cozinha", lembra, reforçando ainda não há nada lá que não seja feito na hora. "Mesmo que o cliente tenha que esperar mais um pouco, o chef começa a preparar o prato de raiz assim que o pedido chega à cozinha", que, neste caso, é aberta para que o cliente possa acompanhar tudo o que por ali se passa e que, por sinal, merece toda a nossa atenção.
As doses são gigantes. "Big food, big heart", diz-nos uma das funcionárias. E é isso que acontece assim que o kachapuri nos chega à mesa. A porção mais pequena do típico pão recheado com queijo chuta para canto qualquer espécie de pizza de tamanho médio. E ainda nos vem uma sopa de feijão para aconchegar e uns rolinhos de bringela, nozes e romãs capazes de pôr as papilas gustativas em curto circuito só de tentar assimilar aquela junção inesperada — e perfeita —de sabores.
Mas há mais. Os khinkali, bolinhos de massa cozidos e com recheiro de carne (4€), kharcho, uma sopa de carne, com arroz de especiarias (6€) e vários pratos de carne, entre eles a espetada de frango (13€) os medalhões de porco grelhados com abóbora (18€) ou a carne de vaca em molho de nozes com especiarias (19€).
"Tal como os portugueses, também os georgianos vivem tudo em família, até a comida. É por isso que as doses são fartas, feitas sempre para partilhar".
O restaurante está aberto todos os dias, das 13 às 23 horas, e há dias com menus especiais, que vão sendo divulgados na página de Facebook e Instagram do restaurante. Durante as "Pie Parties", ao pedir uma das tartes, é oferecida uma bebida e café e nos dias dedicados ao kachapuri, ao pedir um, tem direito a uma bebida de oferta.
Está também previsto para breve um menu de degustação com entradas, pratos, sobremesas, bebidas e cafés por 50 euros. Tudo no plural e para duas pessoas. Gotta love Geórgia.