"Crystal" já chegou à Altice Arena e por ali continuará até 1 de janeiro. Esta é a 42º criação do Cirque du Soleil e combina a arte da patinagem no gelo com a acrobacia.
Crystal, a personagem principal, leva-nos numa viagem de autodescoberta pelo mundo da sua imaginação. Trata-se de uma jovem mulher que se sente incompreendida e fora de sincronia com a pessoa que é. Para escapar à realidade, aventura-se num lago congelado onde acaba por cair e é transportada para um mundo alternativo. Neste novo mundo, imaginário, encontra um reflexo de si mesma que tem a criatividade que sempre procurou.
A companhia Cirque du Soleil foi fundada em junho de 1984, está sediada em Montreal, Canadá e é, atualmente, a maior companhia circense do mundo. A MAGG esteve nos bastidores de "Crystal" e falámos com dois dos artistas do elenco.
Robin Johnstone, de 47 anos, patinadora e acrobata no Cirque du Soleil, revelou-nos que é preciso muita prática para poderem dar ao público um espetáculo de qualidade. “Hoje pratiquei 15 a 30 minutos no gelo com o meu marido e ainda fiz o meu treino individual. O nosso dia pode ser muito longo, mas, por exemplo, hoje começámos ao meio-dia, o que não é mau de todo, mas [esta exceção] também se deve ao facto de o espetáculo ser mais tarde do que o habitual, mas é algo a que nos habituamos. Se tivermos muitos espetáculos num dia, treinamos menos, fazemos apenas exercícios para aquecer o corpo”.
Nick Hutchinson é australiano, fez parte de uma escola de ginástica e formou-se na arte do circo dos 10 aos 18 anos. Começou por participar em espetáculos na Austrália, depois juntou-se a uma companhia de circo no Dubai e, em 2018, fez um espetáculo com o Cirque du Soleil na China. Quando a pandemia “acalmou” e "Crystal" pôde voltar aos palcos, Nick foi contactado para fazer parte da equipa.
Quando questionado sobre o maior desafio deste espetáculo respondeu que “é fazer tudo em gelo”, algo que ainda está a aprender. “Todos os dias sinto nervos, especialmente se estivermos a experimentar alguma coisa nova ou se acontecer algo que não é suposto”. É a primeira vez que Nick está a participar numa digressão mundial, que muda de localização praticamente todas as semanas. Contou à MAGG que têm dois dias de folga por semana e é aí que aproveita para conhecer as cidades por onde passa. Relativamente à sua parte favorita da vida de circo, realça a liberdade da arte: “gosto da liberdade, comparando o circo com a ginástica. Eu sempre disse que a ginástica exige muita disciplina e temos de seguir um programa rígido, enquanto o circo é uma forma de arte onde podes criar e fazer o que quiseres”.
Veja as imagens dos ensaios
Companhia viaja com as suas próprias máquinas de lavar e secar
A música é um aspeto fundamental na compreensão da narrativa do espetáculo. A banda sonora combina música pop com o toque de música clássica, própria do Cirque du Soleil. Para além de recorrerem a versões pré-gravadas de grandes hits da música pop, têm 3 músicos que tocam ao vivo durante o espetáculo. Entre os três, tocam oito instrumentos: acordeão, piano, violino, dois tipos de clarinete, dois tipos de guitarra e saxofone.
O palco de "Crystal" é um dos maiores alguma vez utilizados nas produções do Cirque du Soleil. Tem sensivelmente 14 metros de comprimento por seis de largura e uma parede de 10 metros de altura, onde são projetadas imagens que acompanham a história. No teto estão embutidos 28 projetores que projetam luzes e imagens no gelo. Na maior parte dos espetáculos do Cirque du Soleil esse trabalho é feito por uma pessoa que está presa no teto e cujo trabalho é seguir os artistas com os holofotes. Em "Crystal", como se trata de um espetáculo em gelo muito mais rápido do que os anteriormente realizados, este trabalho tem de ser feito com recurso à tecnologia. No teto há sensores de infravermelhos que se conectam a dispositivos cosidos nos fatos dos artistas e que permitem a interação entre os artistas e os projetores.
Por falar em roupa, a MAGG descobriu que, para este espetáculo, a equipa viaja com mais de 600 peças de roupa. Há quatro responsáveis pelo guarda-roupa, sendo que uma delas é responsável apenas pelas perucas. Jessica, responsável pelo departamento de cabeleireiro, tem um trabalho quase diário de cuidar das perucas utilizadas no espetáculo. São mais de 40 e, em cada peruca despende cerca de cinco horas.
Cada um dos 44 artistas tem vários disfarces (alguns têm três ou quatro). A velocidade a que o espetáculo acontece exige que alguns dos artistas que estão em palco o tempo todo tenham apenas 5 a 15 segundos para trocarem de roupa entre cenas.
No tempo em que estivemos na sala do guarda-roupa, ficou perceptível a quantidade de trabalho que a equipa tem em mãos: há sempre qualquer coisa para costurar, remendar ou lavar. Para dar conta de tanta roupa, a companhia viaja com as suas próprias máquinas de lavar e secar (6 de cada). Fazem entre 10 e 12 máquinas por dia, o que corresponde a cerca de 40 máquinas de roupa todas as semanas.
Descobrimos ainda que os artistas têm de se saber maquilhar. Na fase de aprendizagem, têm consigo um profissional que lhes maquilha metade da cara e eles têm de replicar na outra. Repetem este processo as vezes que forem necessárias até atingirem o look idealizado. Numa fase inicial, a maquilhagem das artistas femininas pode demorar até 2 horas a ser feita.
Daqui a duas semanas, quando partirem para uma nova cidade, vão ter de empacotar tudo, um processo que lhes toma entre 5 e 6 horas. O que nem é muito, comparado com as 15 horas que levam a descarregar todo o material quando chegam a um novo destino.
Os bilhetes estão disponíveis online e custam entre 40€ e 89€. As crianças até aos 11 anos têm um desconto de 20 por cento.
"Crystal" em números
- 44 artistas (patinadores de gelo, acrobatas, músicos e uma personagem cómica)
- 97 pessoas em digressão
- equipa de 25 diferentes nacionalidades
- falam-se 18 línguas diferentes nos bastidores, mas recorrem ao inglês para comunicar. Há um técnico português na equipa.