Depois de anos a trabalhar no estrangeiro, Sofia Escobar volta a Portugal para cumprir um sonho antigo: lançar um disco a solo. À MAGG, conta o porquê de este ser "o momento" para mergulhar num novo desafio e reflete sobre as principais diferenças entre o público nacional e internacional. "[Os portugueses] acham que só o que é de fora é que é muito bom – e não é verdade”.
Da Portugal a Londres e de Londres a Madrid, a arte de Sofia Escobar já correu mundo, mas Portugal foi o destino eleito para a estreia do seu primeiro trabalho musical enquanto cantora a solo. Lançado a 8 de abril de 2021, “É o momento” foi o single escolhido para apresentar o novo projeto e já conta com mais de 8000 visualizações.
Com data de lançamento prevista para 2022, o disco de estreia de Sofia Escobar ainda está em construção. Em entrevista à MAGG, a artista conta que já se trata de um sonho antigo, mas que só agora fez sentido – essencialmente pelas “pessoas certas”. “Parece que se alinharam as estrelas e conseguimos finalmente fazer as coisas da forma que eu queria”, conta.
Com os astros a conspirar a seu favor, a artista promete um disco cuja sonoridade é um autêntico “mix”. “O ‘É o momento’ é quase um aperitivo, mas há um estilo definido. Eu queria muito que a base fosse muito orquestral, embora também tenhamos temas mais pop e outros menos e alguma influência folk”, avança Sofia Escobar.
A artista revelou ainda que há uma forte possibilidade de encontrarmos várias colaborações ao longo do disco – “é provável que possamos contar com algumas surpresas, mas ainda não posso revelar”.
“Vamos ter temas em inglês, espanhol e, a maioria, em português – são as minhas três costelinhas”, explicou a artista, que confidenciou ainda que há uma música cuja letra foi escrita pelo marido, Gonzalo Ramos, artista espanhol com quem é casada desde 21 de setembro de 2013.
Separados pela pandemia, Sofia Escobar e Gonzalo Ramos viveram meses em países diferentes
Durante a pandemia, o casal viu-se obrigado a cumprir a quarentena obrigatória em países diferentes – que resultou em vários meses separados. “Não foi fácil, embora nós já estejamos habituados. Nunca tínhamos estado tanto tempo separados como na altura do confinamento, quando eu vim para Portugal e estive cá perto de três meses com o meu filho Gabriel”, explicou.
Ainda que habituados à distância, por força daquela que é a vida de um artista, o tempo não pára e a pandemia privou o pai de Gabriel de acompanhar o seu crescimento. “[Em relação ao marido, Gonzalo Ramos] Quando finalmente pôde estar connosco, lembro-me de o ouvir dizer ‘caramba, estes três meses que me roubaram custaram’ – porque, em três meses, as crianças voam, crescem, já falam de forma diferente”, conta Sofia Escobar.
Durante a pandemia, fisicamente separados, mas unidos pela arte, Sofia Escobar e Gonzalo Ramos deram voz ao tema “Shallow”, num dueto apaixonado, sob o atento olhar atento do pequeno Gabriel, filho do casal.
Filho de pais artistas, a jurada da oitava edição do Got Talent Portugal confessa que o pequeno Gabriel já tem o “bichinho” do mundo artístico. “Já tem aulas de piano desde os três anos, é super afinado, muito sensível, por exemplo. Tem todos os ingredientes para ser artista”.
“Para mim e para o Gonzalo, independentemente do que ele venha a escolher, nós vamos lá estar para o apoiar. E, sinceramente, como sabemos a instabilidade que é ser artista, por um lado, se ele quiser ser outra coisa, também está à vontade – desde que encontre o que realmente quer fazer e que siga uma paixão”, admite a “mãe artista”, que, com apenas 36, já conta com 18 anos de carreira.
Ainda sobre a instabilidade da vida de um artista, desta vez, em tempos de pandemia, Sofia reforça que as propostas apresentadas para controlo da pandemia em Portugal, nomeadamente para a lotação dos teatros, não são viáveis. “Isto de ter um teatro a 30% não é viável para nenhuma produção. (...) Temos de arranjar soluções que permitam o controlo da pandemia e também permitam que as pessoas voltem a trabalhar e continuar a viver. Caso contrário, vamos ter outro género de problemas. Mas espero que, sobretudo nos próximos meses, os artistas possam regressar aos palcos e o público às cadeiras”.
Face ao controlo da pandemia, Sofia Escobar, que vive atualmente em Madrid, compara a situação portuguesa com a espanhola. “Eu falo pela minha experiência, em Espanha, já está tudo muito mais aligeirado em termos de medidas – as máscaras já não são exigidas na rua, em termos de teatro e produções musicais, estão a acontecer com lotações a 70%. E não têm havido notícias de consequências negativas desses eventos culturais”, conta a artista internacional.
"Os portugueses acham que só o que é de fora é que é muito bom – e não é verdade."
Sofia lamenta ainda o tratamento que a cultura “recebe” em Portugal. “Ainda é vista como algo descartável. Como se não importasse, com a ideia de que ‘os músicos que se desenrasquem e vão para o Youtube’. Entristece-me que ainda haja pessoas com esse género de mentalidade. Acho que é uma pena, mas, acima de tudo, acho que é uma pena até para quem pensa assim – não sabem o que perdem”, conta a artista.
Com experiência de quem já trabalho para diferentes públicos – essencialmente, portugueses, ingleses e espanhóis –, Sofia Escobar reconhece um certo tabu no povo português face à arte que é produzida em Portugal. “Os portugueses acham que só o que é de fora é que é muito bom – e não é verdade. Temos vários portugueses a brilhar lá fora. O que acontece é que, muitas vezes, os artistas nacionais não têm as oportunidades devidas aqui [em Portugal] e ambicionam chegar a outros níveis – então aventuram-se para fora do país”.
Entre Portugal e Londres, Sofia admite que, em termos de cultura artística, Londres está num patamar totalmente diferente. “Tem uma cultura de teatro e de musicais, de espetáculos no geral, que já está muito enraizada. Eu vivi isso, logo quando estava a estudar e trabalhei na bilheteira de um teatro lá da escola: via famílias que compravam bilhetes para todos e para a temporada inteira. Com miúdos pequenos e era perfeitamente normal. Quem me dera que fosse assim em Portugal – que metêssemos este hábito nas nossas crianças desde pequeninas”.
Formada pela Guildhall School of Music and Drama, com apenas 36 anos, já integrou o elenco de “West Side Story”, na pele da porto-riquenha Maria; “O Fantasma da Ópera” enquanto Christine e, recentemente, participou ainda no elenco do “El Médico” – uma produção original espanhola.
Enquanto atriz, dedicada essencialmente ao teatro musical, Sofia Escobar lamenta a falta de tolerância àqueles que são os erros naturais de um artista. “É um mundo cruel, nesse aspeto. Nós somos humanos e todos falhamos. Já pensei nisto muitas vezes: se eu tiver doente e tiver de cantar, prefiro não o fazer e cancelar. Se for para palco, posso arriscar ficar pior e as pessoas que estão a assistir não pensam ‘coitada, está doente’; pensam ‘que grande porcaria, gastei dinheiro nisto para nada’ – e é normal”, acrescenta.
Sofia Escobar fez recentemente parte da oitava edição do "Got Talent Portugal", talento show da RTP1. À MAGG, a artista revela que, enquanto jurada, tenta sempre ter um cuidado especial com o que diz, porque sabe o que é estar do outro lado. “Tento sempre ter muito cuidado não só com o que digo, mas com a forma como o expresso. Eu não sou senhora e dona da razão e o que é bom para mim pode não ser para os outros. Tento tratar os outros como gostava que me tratassem também”.
Depois da participação no concurso de talentos da RTP1, Sofia Escobar confessa que a ideia de assentar em terras lusitanas ainda não faz parte dos planos. “Tanto eu como o meu marido temos uma vida super instável e não podemos fazer planos a longo prazo. Neste momento, a base é em Madrid, mas não ponho de parte, de todo, voltar para Portugal – até porque o meu marido adora o nosso país. Se um dia fizer sentido, talvez possa acontecer”.
O futuro é incerto, mas para já a única certeza é a de que Sofia Escobar pretende partir em digressão com o álbum de estreia no início de 2022. “Como tenho temas em inglês e espanhol, a ideia é abrir portas em mercados lá fora. Mas para mim, é importante que o pontapé de saída seja dado em Portugal”, conta a artista.