Catarina Pereira pode ser o seu nome de nascimento, mas é por outro nome que espera que todos a conheçam. Falamos de HENKA, uma das concorrentes do Festival da Canção de 2025, que não passa despercebida, fruto do seu visual, que descreve como "caótico". Agora, com uma canção poderosa na manga, prepara-se para enfrentar o palco do certame com um objetivo claro: desafiar as convenções e mostrar que Portugal está pronto para algo diferente.
“Ainda é um bocado surreal, porque eu nunca pensei que Portugal estivesse pronto para este tipo de estilo. Não é que o meu estilo seja nada de especial, mas é um pouco mais diferente do que Portugal está habituado", confessa à MAGG, no rescaldo da apresentação das novidades da competição, esta quinta-feira, 23 de janeiro. Mas o que é facto é que os fãs da Eurovisão estão completamente loucos com "I Wanna Destroy U", a canção que a artista escolheu trazer para a competição.
Basta uma breve pesquisa no X (antigo Twitter) para percebê-lo. "Estou completamente boquiaberto com a canção da HENKA... preciso de respirar, isto foi demasiado bom", "A HENKA tem de ganhar o Festival da Canção", "A HENKA é o meu mundo, mas será demasiado para Portugal" ou "Portugal está a servir [boas canções]! Mais um dia, mais um arraso" são algumas das apreciações feitas ao tema da cantora, que conta já com quase 100 mil visualizações no Youtube – ficando apenas atrás da canção de Fernando Daniel, que se fixa nas 200 mil.
Mas, afinal, quem é HENKA? Bem, é nada mais do que o alter ego de Catarina Pereira, uma portuguesa que vive em Londres desde 2010 e encontrou na cidade britânica a liberdade para se expressar. "Durante muito tempo, sentia-me muito fora da caixa. Fosse na escola, com membros da família, eu sentia-me muito fora, muito tipo uma ovelha negra. Depois, quando estive em Londres, senti que era a minha casa", explica, não descurando que Portugal vai ser sempre o seu País.
O que a levou até lá foi o sonho de vingar na indústria musical. "Eu sinto que a música de Portugal ainda está a desenvolver-se, tipo a música moderna, hip hop, rock, acho que ainda está em processo de desenvolvimento. Foi por isso mesmo que eu acho que Londres me deu muito mais oportunidades para eu poder exprimir-me", afirma. Atualmente, as suas composições são, precisamente, o reflexo da dualidade que existe em si.
Se, por um lado, se inspira muito em artistas como "Nine Inch Nails, Björk, Charli XCX, Bring Me The Horizon e Bad Omens", por outro também há raízes portuguesas que pesam na arte que cria – e, parecendo que não, Mariza é uma das maiores influências. Não dizemos isto a nível musical, até porque há uma (grande) linha que separa o fado do estilo alternativo que HENKA pretende popularizar no Festival da Canção, mas por se assumir como o seu símbolo de resiliência.
"A Mariza tem uma história engraçada. O meu pai encontrou-a num avião, há muitos anos, quando estavam a fazer o mesmo voo", começa por contar-nos, dizendo que o progenitor acabou por ir pedir um autógrafo à fadista. "Em vez de lhe dar só um autógrafo, deu um bilhete com uma mensagem a dizer: 'Quando nós queremos muito, os nossos sonhos tornam-se realidade'", continua a artista, que acrescenta que tem essa recordação guardada em casa, no Porto, de onde é natural.
E uma coisa é certa: embora a participação no Festival da Canção não parecesse alinhar-se com os seus objetivos, estava escrito nas estrelas. Isto porque a decisão de se inscrever surgiu de forma inesperada, mas acabou por fazer todo o sentido. "Mal passou a última edição do festival, em que a grande iolanda cantou, recebi muitas mensagens. As pessoas diziam que eu tinha de concorrer, de tentar competir por Portugal", conta, enfatizando que muitas foram as dúvidas que lhe passaram pela cabeça.
"Eu achava sempre: será que Portugal está preparado para isto? Não sei. Foi tipo uma agulha num palheiro", acrescenta. Ainda assim, não deixou que as dúvidas lhe toldassem o juízo e inscreveu-se "sem expectativas nenhumas". Depois, "aconteceu a chamada" pela qual menos esperava, mas que mudou tudo. "Eu estava de robe e pantufinhas, era de manhã, estava a beber o meu café e de repente recebo uma chamada de um número português e fiquei em choque", afiança.
Aquilo que a levou a atingir esta conquista já está à vista de todos. "I Wanna Destroy U" é a exteriorização de "raiva reprimida, porque alguém não nos deixa expressar ou uma pessoa que nos quer mal, uma pessoa que nos tenha posto em abuso mental", diz HENKA, acrescentando que o tema também é uma forma de dizer que "mais vale estar sozinha do que mal acompanhada". "Fala também muito da luta contra esse tipo de pessoa que nos quer rebaixar, que nos quer esconder", explica.
Apesar de ter uma componente autobiográfica, fruto de todas as pessoas que, por causa do seu visual ou do estilo de música, a tentaram rebaixar, a artista não descura que a canção também "representa Portugal". "O povo português foi sempre um povo com muita força, esforçado, trabalhador", afiança, ao dizer que a sua condição de emigrante (semelhante à de tantos outros com quem se cruzou em Londres) é reflexo disso, precisamente.
Por isso, numa mistura de coragem, emoção e autenticidade, HENKA promete ser uma das vozes mais disruptivas e marcantes desta edição do Festival da Canção. “Eu sinto que a minha canção é forte, e o povo português também é forte e muito ambicioso”, afirma. Para a cantora, esta não é apenas uma competição, mas uma oportunidade de celebrar o que significa ser diferente e, ao mesmo tempo, profundamente conectado às suas raízes. Será que o País está preparado?