Quase oito anos depois da primeira participação, Fernando Daniel está de volta ao Festival da Canção. Desta vez com uma maturidade artística que promete fazer a diferença, o cantor, que em 2017 participou com "Poema a Dois", regressa ao certame como autor e intérprete de "Medo" e com um claro objetivo: concretizar o sonho de representar Portugal na Eurovisão.
É um desejo que acarreta uma grande dose de pressão. No caso de Fernando Daniel, não é só porque está numa corrida para concretizar concretizá-lo, mas porque está à espera do nascimento do seu segundo filho. Curiosamente, a data prevista para o parto da namorada, Sara Vidal – com quem está desde 2016 e tem outra filha, Matilde, que nasceu em 2022 – coincide com o dia da grande final do certame, que acontece a 8 de março.
"Sinto mais pressão relativamente a isso", revela Fernando Daniel, na apresentação das novidades do concurso, esta quinta-feira, 23 de janeiro. "Acredito que possa nascer antes, é uma incógnita. Nunca vamos forçar nada, ele terá de escolher o tempo dele", explica, não descurando que espera "poder estar presente" no grande dia. "Para mim, a minha família está em primeiro lugar e gostava muito de estar presente. Se não acontecer, tenho uma vida inteira para poder acompanhá-lo e estar presente noutros momentos", continua.
Por isso, ao dizer que prefere não "agoirar", visto que também não sabe se vai passar à final sequer, reitera: "Tenho plena consciência e acredito que vou conseguir estar tanto no nascimento do meu filho como na primeira semifinal e, se Deus quiser, na final e a representar Portugal lá fora e a vencer".
No que diz respeito a ser o concorrente do leque mais estabelecido na indústria e que tem um maior número de fãs, o cantor reconhece-o, mas encara a competição com uma visão focada na música, não na figura do artista. "Eu sinto essa pressão, que acho que é um bocadinho inevitável, acho que vem com o peso da fama, com o peso da notoriedade", explica, tendo a convicção vincada de que "não é o artista que vence, é a música".
"As pessoas têm de votar na música e não no artista", frisa, acreditando ser igual a "todos os outros" concorrentes, dos escolhidos pela RTP ou daqueles que chegaram ao certame através do processo de livre submissão. "Estamos aqui todos por um propósito, que é ter uma música que vai representar o nosso País", remata Fernando Daniel.
Fernando Daniel regressa com "Medo" (e sem ele)
Mas, afinal, porquê regressar depois de ter ficado em quinto lugar na edição de 2017, o mesmo ano em que Salvador Sobral trouxe a vitória para casa, com o êxito "Ama Pelos Dois"? "O meu desejo ainda não estava concluído", confirma o artista. "Estou a trabalhar para isso, fiz uma canção que demonstra essa vontade e espero que seja do gosto de todos os portugueses", afiança.
A canção, intitulada "Medo" – e que tem mais visualizações até agora –, é uma obra com raízes autobiográficas, que fala sobre superar receios e manter a esperança. "Fala sobre não abdicarmos de algo que nos faz sentir que estamos no caminho certo, seja o que for: a crença, a fé, o amor. Escrevi-a de forma a que as pessoas se possam identificar o seu próprio medo", contou.
Quem ouvir "Medo, disponível no Youtube desde esta quinta-feira, 23 de janeiro, poderá encontrar pontos em comum com outras composições de Fernando Daniel. É que, segundo o próprio, esta canção é como se fosse uma amálgama de outros temas seus. "É uma música que reúne sonoridades dos meus três grandes temas, na minha opinião, que é a 'Espera', a 'Melodia da Saudade' e o 'Caso'", afirma.
Na verdade, esta é uma evolução significativa em relação à participação anterior, para a qual Fernando Daniel olha de forma crítica. "Na altura participei pela história do festival, pela história do compositor, que é o Nuno Feist, que acho que é um ótimo compositor, um ótimo arranjista clássico", começa por contar, dizendo que tentou "servir a canção da melhor forma possível".
Em retrospetiva, talvez não estivesse preparado. "Hoje, com mais maturidade, percebo que a canção se calhar também não me vestia da forma que eu achava que vestia", acrescenta, frisando que foi algo que fez parte do seu percurso. "Os erros são para cometer também, é para aprender com eles, mas é um erro que faz parte do meu percurso e que acho que foi fulcral para eu hoje também estar aqui", explica, rematando que está "mais preparado".